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Padre Alderige Baggio (1918-1997)
1. Família e formação
Pe. Alderige nasceu no dia 06 de junho de 1918, em Colorado, então município de Carazinho (RS). Seus pais foram Arcângelo Baggio e Lúcia Poglia. Alderige era o penúltimo dentre dez filhos do casal: quatro mulheres e seis homens. Seu pai era muito amigo do grande missionário do Planalto Médio, Pe. Valentim Rumpel, e também dos padres palotinos de Cruz Alta, cuja paróquia pertencia a Colorado. Por isso, quando o menino Alderige manifestou o desejo de ser padre, seus pais o encaminharam para o seminário palotino de Vale Vêneto (RS).
Tendo iniciado os estudos primários em Colorado, completou-os no seminário de Vale Vêneto, no qual ingressou no dia 14 de março de 1931, tendo sido recebido pelo seu reitor, Pe. Rafael Iop. De 1932 a 1936, fez o curso ginasial no seminário diocesano de Santa Maria (1932-1933) e no seminário de Vale Vêneto. Em 1937, fez o seu ano de noviciado em Vale Vêneto, sob a orientação do Pe. Casimiro Tronco e, durante o segundo ano de noviciado, em 1938, deu também aulas no seminário.
Fez todos os estudos superiores - Filosofia e Teologia - no Seminário Central de São Leopoldo, dirigido pelos padres jesuítas. De 1939 a 1941 estudou Filosofia e de 1942 a 1945, Teologia.
Fez sua consagração perpétua a Deus na Sociedade do Apostolado Católico, no dia 02 de fevereiro de 1942, e recebeu a ordenação de presbítero em 09 de dezembro de 1945, juntamente com Belino Costabeber e Vendelino Bender, na igreja Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria, das mãos de Dom Antônio Reis.
2. Magistério
Seu primeiro campo de trabalho foi a sala de aula. De 1946 até 1950, lecionou no seminário de Vale Vêneto. Foi um professor competente, exigente, desafiador. Que o digam, sobretudo, seus alunos de latim, que tiveram que haver-se e familiarizar-se com os clássicos latinos, aprendendo-lhes as regras, a retórica e a métrica. Ensinou também outras matérias, sempre com muita competência e seriedade.
3. Trabalho paroquial e missionário
Ao deixar o magistério, empenhou-se no trabalho paroquial e missionário. De 1951 a 1955, esteve trabalhando como coadjutor na paróquia do Divino Espírito Santo, em Cruz Alta, onde, por quatro anos, foi também assistente da Ação Católica. Em 1955, assumiu a direção da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no IAPI, em Porto Alegre (RS).
De 1956 a 1958, integrou o grupo de missionários palotinos, pregando muitas missões populares no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e no Mato Grosso.
Deixou o trabalho missionário para assumir a direção e a animação da paróquia de Guaíra, no Paraná, onde esteve por quatro anos. Estando lá, agenciou a vinda das Irmãs Franciscanas para a paróquia a fim de que elas atuassem na catequese e na educação da juventude.
Empenhou-se muito no afervoramento religioso dos fiéis, atraindo para a comunidade eclesial um bom número de paraguaios e nordestinos afastados da vida da comunidade cristã. Durante o ano de 1963, Pe. Alderige Baggio trabalhou como vigário cooperador na paróquia Nossa Senhora da Glória, em Glória de Dourados, em Mato Grosso, conquistando a simpatia daquele povo pobre, mas ansioso de comunhão com Deus.
4. Trabalho nos Estados Unidos
Em 1960, a Província fez um contrato de mútua ajuda com a Província Imaculada Conceição, dos Estados Unidos. Os confrades americanos receberiam da nossa Província ajuda em padres para o trabalho com os hispano-americanos, enquanto a Província receberia deles uma contribuição financeira, importante para levar adiante as suas obras, sobretudo na formação dos seus membros.
Em julho de 1964, Pe. Alderige partiu com muita disposição para trabalhar nos Estados Unidos, onde, com entusiasmo e com muita garra, permaneceu até o fim de 1978. Dedicou especial atenção aos hispano-americanos e aos porto-riquenhos que, de um modo geral, se achavam à margem da sociedade e espiritualmente abandonados.
Descreve o Pe. Alderige: "Nosso trabalho consistia em preparar os jovens para a primeira eucaristia e para o casamento. Como os americanos não se importavam com os hispanos e cubanos, estes vinham para nossas paróquias, onde lhes pregávamos em espanhol e eles nos entendiam".
Pe. Aderige teria gostado de terminar seus dias nos Estados Unidos, país com o qual se identificara totalmente, de sorte que o apelido de "americano" lhe assentava como uma luva. Não se cansava de exaltar as virtudes e as habilidades dos americanos, pelos quais nutria uma ilimitada admiração.
De setembro de 1964 a janeiro de 1966, Pe. Alderige foi coadjutor na paróquia de São Leão, em Baltimore, ocupando-se dos americanos e dos ítalo-americanos. De janeiro de 1967 até 1969, trabalhou como coadjutor na paróquia de São Filipe Néri, em Newark e, em 1970, foi coadjutor no santuário de São Judas Tadeu, em Baltimore. De 1971 a 1974, foi assistente da comunidade cubano-hispânica de São Roque, em Union City, no Estado de Nova Jersey. De 1975 até sua volta ao Brasil, em 1978, foi assistente da comunidade hispânica de Todos os Santos, de Brooklin, em Nova Iorque. Por motivos de saúde, ele teve que voltar ao Brasil no final de 1978.
5. Problemas de saúde
Ao retornar dos Estados Unidos, sua saúde já estava bastante abalada. Assim mesmo, começou a trabalhar em Cascavel (RS), na incipiente paróquia palotina Rainha dos Apóstolos. Em 1980, porém, sofreu um enfarte e, em setembro daquele ano, submeteu-se a uma cirurgia de coração na Santa Casa de Curitiba, quando lhe foi implantada na coronária direita uma ponte de safena. Por estar muito obstruída, a coronária esquerda, não pôde ser safenada. Recuperou-se bastante bem, mas não teve mais condições de dedicar-se a um trabalho pastoral ordinário. Submeteu-se até o fim da vida a um regime alimentar bastante rigoroso e a cuidados médicos constantes.
Ao deixar o hospital de Curitiba, passou até o fim de 1980 na Casa de Retiros, optando então pela comunidade do Patronato, onde esteve até o dia de sua morte. Mas não esteve inativo durante todos os anos passados na comunidade do Patronato. Visitava os doentes, acompanhava com muito interesse a vida e os trabalhos no Patronato e na gráfica Pallotti. Ele também gostava de entreter-se com os dirigentes e operários, rezava bastante, dava-se à meditação e a leitura e punha no papel o resultado de suas leituras e pesquisas, que eram muito variadas. Manejava muito bem a pena. Por muitos anos, foi colaborador assíduo da revista Rainha e de Informações Palotinas. Mantinha-se informado do que acontecia no mundo graças às suas muitas leituras de livros, jornais e revistas nacionais e estrangeiros. Possuía um enorme cabedal de cultura, do qual muitos procuravam servir. Alegrava-se quando podia ajudar com seus conhecimentos de inglês a quem deles precisasse. Na comunidade do Patronato, ocupava o centro das conversações. Amava a discussão e o debate e, com muito humor, contava histórias.
Soube manter a esperança e a serenidade na doença que lhe minava as forças. Tal atitude estava baseada numa profunda fé e numa firme esperança. Sem tal dimensão de fé e sem seu bom humor, certamente ele teria vivido menos.
6. Morte e sepultura
Pe. Alderige começou a sentir-se mal pela metade da manhã do dia 06 de agosto de 1997. Chamado o médico, este não logrou deter-lhe o desfecho final. Terminou sua rica e longa vida pelas 14h do dia da Transfiguração do Senhor. Sua vida foi transfigurada pela luz do Cristo glorificado com quem se encontra, assim esperamos, em íntima comunhão.
Seu corpo foi velado na capela do Patronato, transformada em câmara ardente, onde, às 18h, Dom Ivo Lorscheiter presidiu a celebração eucarística junto com muitos outros padres, com a participação de religiosos amigos e conhecidos leigos.
Nas primeiras horas da manhã do dia 07, após uma celebração eucarística de despedida no Patronato, seu corpo foi levado a Vale Vêneto (RS) e depositado no Santuário da Mãe Rainha Três Vezes Admirável, junto ao seminário menor, onde foi velado das 8h 45min às 15h por seus familiares e por membros da comunidade do seminário, das Irmãs e do povo de Vale Vêneto.
As 15h, foi conduzido o corpo à igreja matriz, onde houve celebração eucarística presidida pelo padre Provincial, Pe. Lino Baggio, acompanhado por muitos padres e seminaristas Palotinos, familiares, religiosos e muitos amigos. Após as últimas orações feitas pelo pároco local, o corpo do falecido, sob chuvisco e garoa, foi levado ao cemitério Palotino local e confiado à terra sagrada.
Pe. Provincial agradeceu a todos os familiares e amigos do Pe. Alderige, aos médicos e enfermeiros que o acompanharam ao longo de muitos anos, à comunidade do Patronato e a quantos vieram para orar por ele e acompanhá-lo à "coxilha dos bem-aventurados", como ele costumava, com boa pitada de humor, chamar o cemitério.
Quem foi Pe. Alderige e como viveu ele sua consagração religiosa e desempenhou seu ministério? Ao celebrar os cinquenta anos de ordenação, em 20 de setembro de 1995, ele, em forma de oração, expressou sua atitude sacerdotal e mariana:
"Obrigado, Senhor, pelo sacerdócio que se realizou plenamente, durante cinquenta anos na celebração da santa missa, pois sacerdote sem o sacrifício perfeito da adoração a Deus, para mim, soou sempre como um absurdo.
Embora sacerdote, nunca realizei um milagre, mas tu sabes, Senhor, que nunca precisei de milagres visíveis. Bastava-me saber que tu, Senhor, escolheste a missa para distribuir aos homens e às mulheres a graça sem par da redenção.
Obrigado, Maria, Medianeira e Rainha dos Apóstolos, tu que foste sempre a mãe carinhosa, defendendo-me das tentações e dos perigos do corpo e da alma. Foste minha mãe nas andanças dos pampas, quando, obrigado a dormir na capa molhada, o minuano gelado esfuziava nas frinchas do rancho. Maria, tu me guardaste das tempestades agressivas do Rio Paraná.
Nas florestas imensas e nos descampados da pátria, tu foste a minha luz e minha coragem. Nas grandes cidades, nas metrópoles trepidantes da ação e da aventura dos homens, foste tu, Maria, que me ensinaste a amar e a honrar o meu sacerdócio. Obrigado, Maria, estou absolutamente certo que não me abandonarás, quando a espaçonave da morte me libertar dos laços deste mundo!
Aceita, Senhor, meu Te Deum de ação de graças, neste dia, para mim sagrado, em que celebro cinquenta anos de sacerdócio e de missa. Lamento, Senhor, que a minha pregação e o exemplo da minha vida não tenham estado à altura do teu Evangelho. Contudo, sinto-me feliz por ter vivido contigo o sacerdócio ministerial. Obrigado, Senhor, por teres feito de mim, a serviço do povo, um servo de Deus, dispenseiro dos tesouros e mistérios divinos!
Obrigado, Senhor, pelos sacramentos que recebi e administrei! Por eles, foram inundados com o bálsamo divino da graça e da felicidade os ricos e os pobres, os enfermos e os atribulados. Levei o sacramento à gente das coxilhas, das florestas e das cidades trepidantes, enquanto tu, Senhor, operavas, invisivelmente, as realidades divinas da graça! Obrigado, senhor, por tornares perceptíveis ao povo, através dos meus ritos e símbolos, a amplidão infinita da tua graça e do teu amor redentor!
Obrigado, Senhor, que, durante cinquenta anos, tens confiado fielmente no teu servo inútil!"