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Notícias

03/08/2024 - In Memoriam

Padre Amadeu Amadori (1924-2005)

 

1.  Família

Pe. Amadeu Amadori nasceu no dia 16 de fevereiro de 1924, em um pequeno lugar entre montanhas, chamado Linha Guarda-Mor, a quatro quilometros de Val Veronês, na época município de Santa Maria, hoje pertence ao município de Faxinal do Soturno (RS).

Seus pais, Francisco Amadori e Carolina Balin, de fé profunda, eram filhos de imigrantes italianos, provenientes do norte da Itália e chegados ao Brasil em 1882. Pe. Amadeu era o último dos quatro filhos do casal.

2.  Vocação e seminário

Sua vocação sacerdotal despertou em sua família, especialmente quando seu pai falou de um padre conhecido seu, Ângelo Cereser, que falecera após cinco anos da ordenação, atingido pela peste bubônica. Pe. Amadeu, com nove anos, sentiu-se tocado, atraído e desafiado pela vida e pelo ministério sacerdotal. Quando lhe chegou o convite de Cristo para segui-lo, feito pelo Pe. Celestino Trevisan, durante a pregação de missões populares em Val Verônes, Amadeu não hesitou em levantar a mão e apresentou-se como candidato. Junto com seu pai, foi conhecer o seminário de Vale Vêneto (RS), que lhe deixou boa impressão.

Sobre sua entrada no seminário, diz o próprio Pe. Amadeu: "Mamãe preparou com muito carinho todo o meu enxoval. E o dia da partida chegou ligeiro. Era dia 25 de fevereiro de 1938. Na hora da partida, mamãe estava em grande pranto, muito lavada em lágrimas. E eu também. Ela me abraçou e me disse: Vá, ma vardia di far polito - vai, mas comporta-te bem'".

No seminário de Vale Vêneto, Amadeu viveu por sete anos, fazendo os cursos ginasiais. Segundo ele, "foram sete anos que deixaram saudades, pelos bons colegas e educadores".

No dia 02 de fevereiro de 1945, junto com treze outros colegas, iniciou o noviciado em São João do Polêsine (RS), tendo como mestre o Pe. Agostinho Michelotti. No dia 06 de junho do mesmo ano, o noviciado foi transferido para Cadeado, hoje Augusto Pestana (RS).

No início de 1946, Pe. Amadeu teve que interromper o noviciado para fazer o serviço militar em Santa Maria (RS), tendo morado na comunidade do Patronato Antônio Alves Ramos.

De 1947 a 1953, fez os três anos de Filosofia e o quatro de Teologia no seminário maior, em São João do Polêsine (RS). Foi, segundo o Pe. Amadeu, "um tempo muito bonito: os professores, as aulas, a convivência, o Ir. Simão Michelotti, a gruta, o Santuário da Mãe Rainha Três Vezes Admirável, o pomar, as avenidas, o Rio Soturno, os passeios, as pescarias, a banda, as romarias, tudo me tocou e me enriqueceu muito". Foi também um hábil e alegre catequista para muitas crianças e jovens. Lá cresceu também sua grande devoção Mariana.

 3.  Ordenação Presbiteral

Naquele tempo, os religiosos que tinham 26 anos de idade completos podiam receber a ordenação sacerdotal no final do terceiro ano de Teologia. Assim aconteceu com Pe. Amadeu, que foi ordenado sacerdote aos 21 de dezembro de 1952, no final do terceiro ano de Teologia, em Nova Palma (RS), pelo Bispo Dom Antônio Reis, junto com os padres João Luis Tomasi, João Justo Piovesan e Vitor Trevisan. E, no dia primeiro de janeiro de 1953, celebrou em Val Veronês, localidade do município de Faxinal do Soturno, sua primeira missa solene.

Em 1953, completou o estudo da Teologia em São João do Polêsine, dedicando-se também às atividades pastorais nos fins de semana. Durante o tempo em que Pe. Amadeu esteve em São João do Polêsine, ele revelou um talento que, por causa do trabalho missionário, não logrou desenvolver.

Ele tinha começado a escrever a história da Província Nossa Senhora Conquistadora, como testemunham vários números das Informações Palotinas, nascidas em São João do Polêsine, em 1943.

 4.  Espírito Missionário

Em 1941, o então Reitor Provincial, Pe. Rafael Top, numa palestra aos seminaristas de Vale Vêneto, disse que os padres palotinos foram convidados por um Bispo do Mato Grosso para abrir uma missão em sua Diocese de Corumbá.

Os seminaristas do Seminário Rainha dos Apóstolos ficaram muito entusiasmados com a ideia missionária. Entre eles, estava Amadeu Amadori e, quando essa ideia se tornou realidade, Amadeu já tinha sido ordenado presbítero.

Era costume na época que os primeiros trabalhos dos padres novos fossem feitos na coleta de trigo e de outros gêneros pra o seminário de Vale Vêneto. Pe. Amadeu iniciou esse trabalho em dezembro de 1953, junto com o Pe. João Justo Piovesan, na paróquia de Ibarama (RS) que, então, pertencia aos Palotinos. Alguns dias depois, o Pe. Amadeu recebeu uma carta do provincial, Pe. Casimiro Tronco, que lhe pedia suspender aquele trabalho e voltar logo para São João do Polêsine, pois tinha outra missão para cumprir.

O Provincial enviou-o a São Miguel do Oeste (SC), com a missão de preparar e receber uma paróquia para os Palotinos. Lá permaneceu por mais de um ano, ajudando o pároco, Pe. Aurélio Canzi, nas atividades paroquiais.

No final de 1954, mudaram-se novamente os planos para o Pe. Amadeu. Em São Miguel do Oeste, Pe. Amadeu recebeu uma carta do Provincial, Pe. Casimiro Tronco, que lhe dizia: Venha com mala e cuia, e aqui lhe será dito para onde ir". "Chegando em Santa Maria", diz Pe. Amadeu, encontrei o Provincial em frente à Casa de Retiros, que logo me disse: Prepara-te para ir trabalhar no Mato Grosso! Vá com o Pe. Genésio Trevisan e Pe. José Stefanello. Eles vão partir para o Mato Grosso na semana que vem'".

E assim, no dia 20 de janeiro de 1955, os três partiram de Santa Maria rumo ao Mato Grosso. E, no dia 06 de fevereiro, Pe. Amadeu chegou ao seu destino, à Vila São Pedro, em Dourados. Pe. Amadeu foi um dos que começaram os trabalhos missionários no Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, junto com os padres José Daniel e Luiz Vendrúscolo.

Sobre a viagem, Pe. Amadeu acentuou o seguinte: "Esta primeira viagem ao Mato Grosso para aquela época foi um feito memorável. Foi realmente um passo no escuro. Sem preparo psíquico e moral, sem dinheiro, viajando boa parte de carona. Sem saber o que nos esperava amanhã. Deu para sentir forte a Providência Divina. Aquele canto ‘Segura na mão de Deus e vai me dizia muito".

Trabalhou na Paróquia São Pedro, em Dourados, criada aos 22 de março de 1955, por Dom Orlando Chaves, Bispo de Corumbá, sendo o Pe. Luiz Vendrúscolo o primeiro pároco e o Pe. Amadeu, coadjutor. O Pe. José Daniel, que estava em São Pedro, mudou-se para Vicentina. Pe. Amadeu permaneceu ali em 1955 e 1956.

Em São Pedro, como descreveu o Pe. Amadeu, "só existia a igreja de alvenaria. Não havia casa nem móveis. O Pe. Luiz morava na sacristia e eu morava no coro da igreja". A pé, a cavalo e com bicicleta emprestada, eles faziam o trabalho pastoral com muito empenho e dedicação, até que conseguiram comprar uma motoca alemã Sachs, de segunda mão, que possibilitou uma melhora no atendimento e diminuição do sacrifício.

No dia 24 de dezembro de 1956, com o objetivo de ajudar às duas paróquias: São Pedro e Vicentina, Pe. Amadeu mudou-se para Vila Brasil, hoje Fátima do Sul, que foi seu maior campo de trabalho, durante catorze anos. Ali, dizia Pe. Amadeu, "estava tudo por fazer. Só havia uma capela.

Eu morei quatro meses na sacristia e havia um pano que servia de cortina para ocultar a cama". Vendo muitas crianças sem aula, Pe. Amadeu providenciou para elas uma escola, dando assim início à escola Vicente Pallotti, que ainda hoje está funcionando, agora como Escola Estadual.

Providenciou, em seguida, a construção de uma igreja. Mais tarde, a partir de 1961, junto com o Pe. José Pascoal Busatto, fundou o Movimento Social Palotino, para realizar um extenso trabalho social entre os mais pobres. Em Fátima do Sul, Pe. Amadeu realizou muitas obras materiais, mas especialmente uma Igreja viva e consciente.

Em 1972, o Pe. Amadeu fez um curso de Teologia no Rio de Janeiro e, ao retornar, foi para Glória dos Dourados, onde permaneceu até 1981, fazendo parte de uma equipe, reformulada cada ano. De 1981 a 1986, trabalhou em Amambi (MS), uma extensa paróquia com muitos desafios e a partir de 1987, continuou seu trabalho, sempre com muita alegria, zelo e entusiasmo, em Deodápolis (MS). Em todos os lugares onde trabalhou, foi sempre muito estimado pelo seu jeito simples, alegre e descontraído de ser e de trabalhar e pela sua grande e pronta disposição para o serviço às pessoas.

Foram, portanto, 81 anos de vida, 58 anos de consagração religiosa, 53 anos de sacerdócio ministerial, dos quais, mais de cinquenta anos de doação missionária ao atual Mato Grosso do Sul.

5.  Enfermidade

Pe. Amadeu apresentava problemas pulmonares já há vários anos. No início de julho de 2005, veio a Santa Maria para participar das bodas de ouro de casamento do seu irmão. Mas, poucos dias antes da festa, necessitou ser internado por complicações pulmonares. Seu quadro foi piorando até que, no dia 03 de agosto, às 09h e 30 minutos, no Hospital de Caridade, veio a falecer.

Pe. Amadeu foi velado na capela da Casa de Retiros onde, no dia 03 de agosto, às 18 horas, foi celebrada uma missa, presidida pelo Pe. Valmor Rigui, que, desde o início do ano, era o companheiro de vida e trabalho do Pe. Amadeu; concelebrada pelo Pe. Roque Groth que, nos últimos nove anos de vida do Pe. Amadeu trabalhou com ele; pelo Pe. Vitor Trevisan, seu colega de estudos e de ordenação; e por muitos outros confrades.

Na homilia, Pe. Valmor destacou o jeito simples, amigo, alegre e dedicado do Pe. Amadeu, especialmente seu grande espírito missionário, manifestado nos seus cinquenta anos de Mato Grosso. Enfrentou dificuldades e desafios, mas manteve sempre o entusiasmo e a fidelidade, constituindo-se modelo e inspiração para muitos confrades.

No dia 04, antes de o corpo ser levado a Vale Vêneto, foi celebrada mais uma missa, presidida pelo Pe. Francisco Bianchin. O sepultamento aconteceu, em Vale Vêneto, precedido, às 09h, de uma missa, presidida pelo Reitor Provincial, Pe. Ademar Figuera, concelebrada por um grande grupo de padres, com a presença da comunidade do Seminário Rainha dos Apóstolos e de muito povo.

Na homilia, o Pe. Danilo Pedro Cereser, primo do Pe. Amadeu, emocionado, falou da família e dos fortes laços que os uniam, como parentes e como palotinos. Pe. Amadeu Amadori foi um dos primeiros sacerdotes palotinos a chegar na Diocese de Dourados. Ele é o exemplo daqueles antigos missionários corajosos e destemidos para quem as dificuldades do dia a dia, em vez de desanima-los, se transformavam em novas etapas de crescimento humano e cristão.

Hoje, espera-se que Pe. Amadeu continue sendo, no paraíso onde se encontra, o amigo de sempre, a sustentar seus coirmãos e seu povo, obtendo-nos de Deus muitas e santas vocações sacerdotais e religiosas!