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14/07/2024 - In Memoriam

Padre Ângelo Bisognin (1908-1989)

Nasceu em Polêsine a 16 de setembro de 1908, filho de Alexandre e Josefina Dal Molin. 6º filho dum lar de 13 irmãos.

Ele aprendeu as primeiras letras com o professor Antônio Ceretta, o qual era ótimo catequista. Foi ele que preparou Ângelo para a primeira Eucaristia. Entrou no recém inaugurado seminário "Rainha dos Apóstolos", a 1º de março de 1923, com os colegas Artur Soldera, Lourenço Ragagnin, João Busato, João Barichello e outros mais. Frequentavam as aulas no colégio "N. Sra. de Lourdes" das Irmãs do I. C. de Maria, onde a grande educadora Ir. Jacinta Susin foi professora e diretora. Prezava-se esta de ter tido sob sua direção mais de 30 vocacionados palotinos...Os cursos ginasiais, fê-los no seminário de São Leopoldo, terminando-os em 1928. No ano seguinte, fez o noviciado sob a orientação do abalizado mestre Pe. Rafael lop, junto com os colegas Agostinho Michelotti, Lorenço Ragagnin e Celestino Trevisan. Em 1930 retornou a São Leopoldo para o estudo da Filosofia e em 1933 esteve novamente no seminário de Vale Vêneto como "prefeito" e professor. Era ainda reitor o padre Rafael lop.

Em 1934, Ângelo retornou ao Seminário Central de São Leopoldo para iniciar o curso teológico. Sua ordenação aconteceu dia 13 de dezembro de 1936, na nova igreja de "N. Sra. das Dores", em Santa Maria; foi a primeira ordenação nela conferida, e por Dom Antônio Reis.

Nas férias de 1937, antes de regressar a S. Leopoldo para terminar o 4° ano de Teologia, o novel sacerdote exerceu suas primícias sacerdotais em Cruz Alta, retornando para essa paróquia em outubro do mesmo ano. A propósito, o livro de tombo registrou: "...Em outubro, os superiores tiraram novamente o padre Rafael Pivetta, para pregar missões populares, e nos enviaram o padre Ângelo Bisognin..."Com ele dividimos os trabalhos pastorais; todos os padres se ajudavam mutuamente para afervorar a comunidade paroquial.

E por meio do mesmo livro se pode constatar que a comunidade foi realmente se afervorando sempre mais pelo zelo de seus sacerdotes, coadjuvados pelos movimentos de leigos: Ação Católica, Apostolado da Oração, Vicentinos, Círculos Operários, Filhas de Maria, Congregação da Doutrina Crista. Todas as forças vivas da cidade eram dinamizadas. A Quaresma, os meses de maio, junho e outubro sempre foram celebrados com muito fruto; eram tradicionais as grandes comunhões de leigos. E um dos animadores era o Pe. Ângelo Bisognin.

Nos anos 40 as confissões passaram de 50.000. O termômetro do fervor espiritual da comunidade se media pela frequência aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Pe. Angelo Bisognin, desde que entrou em Cruz Alta, dirigiu os Círculos Operários, promoveu congressos e concentrações dos mesmos, participando ativamente quando se realizavam em Porto Alegre (1941) e Passo Fundo. Na paróquia, em 1941, houve 85.000 comunhões e 530 primeiras eucaristias.

Padre Angelo dirigiu também a Congregação da Doutrina Cristã. Em 1943, Dom Antônio Reis, na visita pastoral, teceu elogios ao zeloso sacerdote pelos esforços em prol da mesma, pelos bons frutos. Dois anos depois, já eram 4.000 alunos que frequentavam os diversos centros de catequese.

Em 1940 Cruz Alta foi elevada a Decanato, abrangendo as paróquias de Tupanciretã, Sede Aurora, Ibirubá; coube a Cruz Alta a sede e o cargo de decano ficou para o padre Alfredo Pozzer.

Pe. Ângelo Bisognin sempre se distinguiu como zeloso e dedicado ao bem social e promotor da catequese. Dirigiu os Círculos Operários, durante 15 anos, com muito empenho e entusiasmo. Em maio de 1940 teve lugar, em Cruz Alta, o congresso dos Círculos Operários da diocese de Santa Maria, que, na época, abrangia as áreas das atuais dioceses de Passo Fundo, Erexim e Frederico Westphalen. Um dos organizadores foi o Pe. Ângelo Bisognin. Ele, no ano seguinte, tomou parte em Porto Alegre, quando foi realizado um congresso de âmbito estadual. Foi precisamente durante a grande enchente. Além de ser forte incentivador dos operários católicos, o zeloso sacerdote sempre animou e estimulou a Congregação da Doutrina Cristã.

Nas décadas de 40 e 50, Cruz Alta distinguiu-se como uma comunidade fervorosa e dinâmica; movimentava todas as classes, principalmente nas diversas Novenas, na Quaresma e na Páscoa; promovia as comunhões gerais dos estudantes e dos movimentos leigos; os militares tinham sua associação UMC (União dos Militares Católicos), incentivados pelo Pe. José Busato.

Como a comunidade foi-se afervorando e crescendo, fez-se necessária a construção de um novo templo, amplo e moderno. Em 1944 Dom Antônio Reis aprovou a planta e no dia 17 de julho, iniciou a obra. Ao padre Alfredo Pozzer como pároco coube a responsabilidade de dirigir a construção. O ano de 1945 foi muito movimentado, salientando-se a grande concentração católica contra o comunismo. Um dos oradores foi o tribuno Adroaldo Mesquita da Costa, entre outros da cidade: Dr. Amadeu F. Weinmann, Hildebrando Westphalen, Pe. José Busato...Foi fundada a Liga Eleitoral Católica que, através de nossos padres Alfredo Pozzer, Ângelo Bisognin e José Busa-to, conseguiu impressionar o povo que, em massa, reprovou o comunismo; este recebeu só 500 votos no dia das eleições.

Em 1946, o superior Pe. Rafael Iop reuniu em Cruz Alta todos os confrades da Serra para tomar deliberação sobre a Casa de Retiros. Neste ano, o Pe. Ângelo Bisognin teve a grande alegria de celebrar o jubileu de ouro de seus pais em Polêsine. Em 1948, junto com a celebração do jubileu sacerdotal do Pe. Alfredo Pozzer, teve lugar também a inauguração da nova Igreja Matriz. Isto se constituiu num grande acontecimento e de muita alegria para a comunidade dos palotinos na Serra. No começo do ano o Pe. Ângelo recebeu a incumbência de pastorear as capelas ao longo da estrada de ferro.

Pe. Alfredo Pozzer esteve à testa da paróquia de Cruz Alta desde 1934 a janeiro de 1949, passando então a direção da comunidade paroquial ao seu confrade Ângelo Bisognin. Ele bem conhecia o rebanho, pois estava ali desde 1937. Ao assumir o cargo, sentiu-se mais comprometido com aqueles fiéis que tanto amava. Foram três anos de muito trabalho pastoral e muita luta. Mas, com auxílio dos seus confrades, sentiu-se com coragem a fim de continuar a caminhada na seara do Senhor.

Em 1952, após quase 14 de intenso apostolado e muitas lutas, despediu-se da Rainha da Serra para assumir a paróquia de Magalhães Bastos, no Rio de Janeiro. Na despedida, o Centro Operário Católico entregou-lhe uma placa com estas palavras: "AO PADRE BIOSOGNIN, PELAS SUAS EXCELENTES VIRTUDES E DEDICAÇÃO À CAUSA DA IGREJA, HOM-ENAGEA-LHE, AUGURANDO PERENES FELICIDADES NO DECURSO DE SUA JORNADA, CRUZ ALTA, 03.05.52".

No seu novo campo de apostolado, achou diferente o povo, os costumes, o clima...Apesar disso, ele não desanimou, continuou seu ministério como sempre. Meses depois, escreveu uma carta ao padre Provincial sobre o estado de sua saúde. Era a primeira vez que o fazia..." ...Lamento apenas o meu estado de saúde, meu estado de nervos... que não me ajuda a fazer mais. Vou fazendo o que posso. Sinto muito, tenho que voltar para o sul; voltarei humilhado e constrangido. Seja feita a vontade de Deus. Creio que posso ainda ser um bom coadjutor aí e fazer algo de bem à Província e às almas". (Que alma simples e cândida).

Quando voltou, seus superiores ainda confiavam no confrade. Pe. Ângelo, em 1953, exerceu o cargo de pároco na paróquia de N. Sra. das Dores, em Santa Maria e, por mais dois anos, esteve em Vale Vêneto na direção da comunidade paroquial. Estava ali o padre Benjamin Ragagnin, dirigindo o pensionato e, ao mesmo tempo, sendo coadjutor.

Com certeza Pe. Ângelo Bisognin experimentou grande alegria ao rever os fiéis das Dores,; esteve ausente apenas cinco anos, por isso não lhe foi difícil entrar no ritmo de sua proverbial boa vontade de sempre. A paróquia ficara um pouco menor, territorialmente pela criação da nova de N. Sra. de Fátima. Por dois anos trabalhou como coadjutor e, por mais três, teve que assumir o múnus de pároco (1958-1961).

No dia 19 de março de 1958, faleceu sua querida mãe. Antes do desenlace, Pe Ângelo ouviu estas palavras da carinhosa e santa progenitora: "Caro filho, padre, como é belo ser mãe dum padre como o senhor, caro filho! Eu te beijo a mão, querido! Vá para Cruz Alta salvar as almas. Eu vou morrer, mas vou para o paraíso e depois farei como Santa Terezinha: olharei para baixo, a fim de ver se meu filho faz tudo bem". "Isto nunca falei a ninguém - escreveu numa carta ao padre provincial. Só comentei com meus irmãos, porque assistiram comigo à morte da minha mãe: Benjamin e Adelino e meu falecido pai (+ 15.03.61). Ele saiu do quarto chorando; nunca tinha visto seu pai chorar.

Nós podemos dizer que o Pe. Ângelo seguiu bem o conselho da mãe: procurou fazer tudo bem; foi zeloso, piedoso e fiel cumpridor dos deveres sacerdotais. Numa outra carta, ele recorda tudo que se fez em Cruz Alta, enquanto lá esteve: "Sempre uma estrela me guiava: Maria Santíssima". Na mesma missiva, se queixava da frieza da paróquia de Santo Augusto. "Era bem diferente de Cruz Alta que no meu tempo, foi sacudida na cidade e no interior. Todavia procurei, em tudo e por tudo, a glória de Deus".

Pe. Ângelo Bisognin, depois de 28 anos de intenso trabalho pastoral, teve que sustar o ministério pastoral direto. Em 1965 passou uns meses em sua terra natal, Polêsine, para descanso. No mesmo ano, seguiu para Novo Treviso em companhia do padre Benjamin Ragagnin, com o qual tinha bom relacionamento. O esgotamento nervoso obrigou-o a repousar mais, sem, porém, deixar de prestar ajuda ao confrade, principalmente nas confissões. Ficou em Novo Treviso até 1970, transferindo-se para Vale Vêneto. Durante os anos ali passados, escreveu muitas cartas a familiares, parentes e amigos.

Pelas respostas que ele guardou, foram mais de 60 cartas enviadas. Lendo as respostas, nota-se que eram missivas cheias de bons conselhos, admoestações e direção espiritual.

Em 24.06.73, ao escrever uma carta ao seu amigo, Dr. Antônio Carlos Nunes, falou sobre sua doença: "...É minha cruz, como aliás todos nós, para auxiliar Nosso Senhor na cruz". Não lhe foi fácil suportar tal estado de vida durante mais de 20 anos! Por diversas vezes foi levado a Porto Alegre para tratamento psiquiátrico. Em 1982, veio a fazer parte da comunidade da Casa de Retiros, onde ficou até sua morte, ocorrida em 14 de julho deste ano. Antes de ser levado à matriz de N. Sra. das Dores, onde fora ordenado, foi concelebrada missa de corpo presente com a presença do padre Geral, Martinho Juritsch, que na ocasião presidia o encontro dos palotinos da América do Sul. Á tarde do mesmo dia, foi levado a Vale Vêneto onde foi sepultado.

 

Por Pe. Claudino Magro, SAC