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Padre Antônio Marin (1910-2012)

Pe. Antônio Marin nasceu, no dia 30 de junho de 1910. No dia 30 de junho de 2012, festejaria 102 anos de vida. Foi o único padre palotino brasileiro que atingiu e ultrapassou os cem anos, pois o Pe. Carlos Probst, da Província São Paulo Apóstolo, que chegou aos 102 anos, era alemão. Pe. Antônio só foi superado pelo Irmão Ademar Gonçalves da Rocha (20.08.1904 – 19.09.2006).
Família
Antônio Marin nasceu em Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine (RS), na Sanga das Pedras, no dia 30 de junho de 1910. Seus pais eram Emílio Marin e Josefina Pivetta. Emílio Marin nasceu na Itália e faleceu, em Vale Vêneto, no dia 10 de agosto de 1957. Sua mãe, Josefina, nasceu no Brasil e faleceu, em Vale Vêneto, no dia 23 de agosto de 1953. Eles tiveram treze filhos, Antônio era o sétimo.
Seu avô, Juliano Marin, era pioneiro e trabalhador esclarecido de espírito aberto que muito fez pelo desenvolvimento de Vale Vêneto. A família Marin era profundamente religiosa e de imenso espírito comunitário. Emílio Marin liderava os moradores de Sanga das Pedras, linha colonial em que vivia, nas iniciativas tanto civis como religiosas. Certamente, o testemunho do avô e do pai marcaram o espírito e o comportamento do Antônio.
Formação e ordenação
Pe. Antônio Marin costumava dizer a coirmãos que estivera presente ao lançamento da pedra fundamental do seminário menor de Vale Vêneto, em 02 de fevereiro de 1922. Certamente, ele assistiu também à inauguração daquele pequeno seminário, no dia 11 de dezembro de 1922, quando o Pe. Rafael lop tomou conta dele com os seminaristas vindos do seminário de são Leopoldo (RS).
Pe. Antônio, de 1924 a 1925, fez os estudos fundamentais em Vale Vêneto, na Escola São Luiz, dirigida pela Irma Jacinta Susin, da Congregação das irmãs do Imaculado Coração de Maria. Os dois, de 1926 até 1930, cursaram o ginásio no Seminário Menor São José, em Santa Maria, dirigido pelos padres Jesuítas.
Em 1931, Antônio fez em Vale Vêneto, sob a orientação do Pe. Rafael lop, o primeiro ano de Noviciado e vestiu o hábito palotino em 09 de março de 1931. Fiz a sua primeira consagração em 07 de março de 1933 e a perpétua, em 07 de março de 1936.
Após o primeiro ano de noviciado, os noviços começavam o curso de Filosofia. Junto com Gabriel Bolzan, Antônio Marin fez todo o curso de Filosofia e de Teologia, no
Seminário Maior Imaculada Conceição, em São Leopoldo (RS), dirigido pelos padres Jesuítas.
Após terem feito a consagração perpétua, Antônio Marin, Gabriel Bolzan e Benjamim Moro foram ordenados presbíteros após o terceiro ano de Teologia. A sua festiva e solene ordenação sacerdotal foi feita na Matriz de Vale Vêneto, no dia 28 de novembro de 1937, por Dom Antônio Reis, Bispo de Santa Maria (RS).
Descrevendo esse momento, Pe. Alderige Baggio comentou: “Com muitos fogos, com o troar do canhão da paz (invenção Palotina do saudoso Pe. João Zanella), com o bimbalhar do sino da Matriz e com a banda de música, aos 27 de novembro de 1937, Vale Vêneto amanheceu em festa pela ordenação sacerdotal de três jovens.”
Antônio Marin era filho do lugar; os outros dois, Gabriel Bolzan e Benjamim Moro, provinham da localidade vizinha de Três Vendas. Nessa oportunidade, tudo se fez verde em Vale Vêneto. Ordenar três novos padres era muita alegria para a jovem província Palotina de Santa Maria e uma grande esperança para Dom Antônio Reis.
A praça central em frente à Matriz se engalanou de festões e de bandeirolas de papel colorido. Dir-se-ia que a própria floresta deixara os vales e as quebradas para, postando- se em frente à Igreja, homenagear os ordenandos. Pe. Antônio Marin celebrou a sua primeira missa solene em Vale Vêneto em 12 de dezembro de 1937, acompanhado pelo Pe. Gabriel Bolzan, que celebrara a sua, no dia 05 de dezembro, na capela de Santo Isidoro, em Três Vendas. Acabadas as festas da ordenação e da primeira missa, após um breve tirocínio pastoral nas paroquias, os novos padres voltaram ao Seminário Central de São Leopoldo para concluírem o curso teológico.
Apostolado
Pe. Antônio Marin passou quase todos os anos de sacerdócio trabalhando em seminários e colaborando em paróquias próximas aos seminários. Não foi fácil o seu trabalho, pois lhe coube um trabalho obscuro e humilde, como era o de ajudar na manutenção do Seminário de Vale Vêneto e educar seminaristas menores.
Em 1938, a Sociedade Palotina era muito pobre, os padres não dispunham de bens materiais e ser provedor do Seminário de Vale Vêneto não era um cargo honroso e de confiança na administração, mas significava ser mendigo. O provedor devia pedir ou esmolar tudo: feijão e arroz, trigo e mandioca, milho, verduras, abobrinhas, morangos, batatas e até lenha.
Além de provedor, Antônio era professor e ensinava latim, história, geografia, caligrafia e civilidade. A aula de civilidade ocupava um lugar especial na formação, pois era a aula de boas maneiras, e as boas maneiras são indispensáveis à formação de todas as pessoas de bem.
Pe. Antônio não deixou de lado a atividade pastoral em diversas paróquias. Em 1951, trabalhou como vigário cooperador de Vale Vêneto. Em 1952, combinou as funções de pároco com as de provedor do Seminário Maior de São João do Polêsine (RS) e, em 1953, foi pároco em Vale Vêneto. De 1954 a 1958, exerceu funções de pároco e de provedor em Faxinal do Soturno (RS). Em 1959, esteve um ano no Patronato Antônio Alves Ramos, de Santa Maria (RS), a serviço do menor desamparado.
De 1960 a 1964, trabalhou em Faxinal do Soturno como vigário cooperador. Em 1965, começou a trabalhar como provedor do Seminário São José, de Faxinal do Soturno. De 1966 até 1969, esteve em São João do Polêsine, cuidando da chácara e colaborando na paróquia São João Batista.
Grande mudança em sua vida foi sua transferência, em 1969, para o Estado do Paraná, isto é, para a nova colônia de Palotina, para o Seminário São Vicente Pallotti, onde esteve por 38 anos. Por causa da crescente debilitação de suas forças, em fim de novembro de 2007 teve que deixar palotina e vir para a comunidade do Patronato, em Santa Maria, onde recebeu especiais cuidados até o dia de sua partida para a casa do Pai.
No seminário de Palotina, Pe. Antônio Marin muito dedicou-se à vida espiritual e ao trabalho na chácara, ao cuidado com os animais e à horta. Foi bom testemunho de vida espiritual, de ordem e de trabalho para todos, grandes e pequenos. Acolhia muito bem os confrades e servia-os com alegria. Sabia escutar e também dar boas orientações a grandes e pequenos, valendo-se da sua quase secular experiência. Seu grande prazer pessoal era cultivar flores, especialmente orquídeas, e delas tinha uma excelente coleção. Costumava dizer e repetir que as flores são o sorriso de Deus.
Segredo de vida
Pe. Antônio nunca falou negativamente da pobreza e do enfraquecimento da vida como decorrência da multiplicação dos anos. Alegrava-se de viver e de ajudar outros a viverem mais e melhor. Vencia com alegria o derrotismo de muitas pessoas que lamentavam a multiplicação dos meses e dos anos. Toda vida é dom de Deus e nenhum homem foi capaz de dar-se a vida. Pe. Antônio recebeu a vida como grande dom de Deus e soube amá-la, desenvolvê-la e cultivá-la para sua alegria pessoal e para a alegria de quantos estiveram e estavam em contato com ele.
De outro modo, como poderia ele celebrar os cem anos de vida cheio de alegria, de agradecimento e de esperança? Para expressar sua alegria de viver e seu agradecimento a Deus e a todos que o ajudaram, fez grandes esforços para articular suas palavras de agradecimento naquela festiva celebração.
Pe. Antônio soube viver e atuar ordenadamente. Soube valorizar a riqueza espiritual que recebeu de seus pais e de seus educadores. Soube valorizar os sacramentos da Igreja, a palavra de Deus, a união com Maria, com Santo Antônio e também com o Fundador Vicente Pallotti. Pode-se dizer que foi ordenado em tudo: no cultivo e na valorização da vida espiritual, da vida religiosa e do sacerdócio, como também na vida humana, na comida, na bebida, no trabalho e no descanso. Gostava de fazer bem as coisas e por isso muitas vezes perdia a paciência quando não eram bem feitas as coisas nas aulas e nos trabalhos.
Pe. Alderige Baggio chamou o Pe. Antônio Marin de “O Padre das Vocações e dos Seminários Palotinos”, que tinha um temperamento corajoso e tenaz, mas simples e reservado. Dotado de bom gosto, primou pela humildade e pela serenidade gentil do trato para com todos. Amante da ordem e do silêncio, buscou trabalhos ocultos e silenciosos. Fez à semelhança de São José, provedor e educador de seminaristas durante grande parte de sua vida. Embora tenha trabalhado na pastoral das paróquias, predominou nele o carisma josefino de provedor de bens materiais para os nossos seminários e o de educador de seminaristas.
Conclusão
Pe. Lino Baggio, Superior Provincial, na celebração eucarística de corpo presente do Pe. Antônio Marin, em Vale Vêneto, assim destacou: “Cristo ressuscitado já superou a morte e inaugurou a “nova Jerusalém”, onde morte, luto, grito e dor já não existirão mais. Lá, Ele enxugará toda lágrima de nossos olhos e fará novas todas as coisas. Deus habitará para sempre com seu povo. Para essa “cidade” celeste todos nós também peregrinamos e, lá, esperamos todos nós a ver Deus e estar para sempre com ele e com aqueles que já nos precederam na vida eterna.
Pe. Antônio creu nisso, pregou isso e com grande fé viveu em função disso! Ele mesmo, servidor de Jesus, Bom-Pastor, dedicou, sem reservas, toda a sua vida às ovelhas do rebanho de Cristo. Sua longa vida, segundo nosso modo de pensar (quase 102 anos), foi vivida intensamente e plenamente. Lembramo-nos dele como um padre bondoso e misericordioso, firme e enérgico para indicar o caminho certo e estimular a seguir por ele.
Tive a graça de conhecê-lo, ainda como seminarista menor, em 1972, em Palotina, e, depois, como padre, de trabalhar com ele, também em Palotina, de 1984 a 1988. Como estudante e como jovem padre, eu aprendi muito dele, de seu amor e de sua dedicação à Igreja, de sua docilidade à verdade, de seu amor aos seminaristas e da sua amizade para com as pessoas. Sempre chamou minha atenção o seu amor à eucaristia, a sua fé, a intensidade de sua oração e de sua confiança em Deus!
Hoje esperamos que o Bom-Pastor, a quem ele serviu, especialmente através dos seminaristas, o acolha em seus braços e o mantenha em seu convívio eterno!”