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Notícias

13/07/2024 - In Memoriam

Padre Antônio Soldera (1918-2014)

 

1.  No primeiro dia

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais" (Jo 11,25- 26).

No primeiro dia da semana, no domingo, dia do Senhor, na Páscoa semanal, de madrugada, às 3h20min, aos quase 96 anos, faleceu o Pe. Antônio Soldera, nosso confrade palotino, na Comunidade Pe. Caetano Pagliuca, em Santa Maria (RS). Agora, vamos conhecer um pouco de sua bela história.

 2.  Sua biografia familiar

Antônio Soldera nasceu em Novo Treviso, então município de Cachoeira do Sul e hoje Faxinal do Soturno (RS), aos 21 de julho de 1918. Seus pais eram José Soldera e Maria Cassol Soldera, italianos de nascimento. Antônio fazia parte de uma família de 11 irmãos, todos homens, dos quais ele era o 9º. Desses onze irmãos, mais dois seguiram a carreira sacerdotal: Pe. Artur e Pe. Mateus. Também palotinos. Era uma família muito religiosa, onde se rezava o terço todas as noites e todos os domingos se participava da missa.

 3.  Seus estudos e formação

Antônio iniciou seus estudos no Colégio das Irmãs do Coração de Maria, em Novo Treviso. Seu irmão Artur, oito anos mais velho, tinha ido ao seminário, e, feito o Noviciado, foi enviado a Roma para os estudos de Filosofia e de Teologia. Antônio também queria ir para o seminário, mas, por causa da pobreza da família, teve que ficar em casa para ajudar os pais nos trabalhos da roça. Depois de dois anos de espera, conseguiu o necessário e foi para o Seminário Rainha dos Apóstolos, dos Padres e Irmãos Palotinos, em Vale Vêneto, hoje distrito de São João do Polêsine (RS), então de Cachoeira do Sul (RS). Era o ano de 1933. Aí completou o Ensino Primário e fez todo o Secundário, que completou em 1939. O Arquivo Provincial conserva diversas páginas escritas por ele, à mão. Escrevia com uma letra linda, invejável. Há também um caderno com palavras e frases gregas, escritas com letras de imprensa.

Nos anos de 1940 até outubro de 1941, fez o Serviço Militar no 7° Regimento de Cavalaria, de Santa Maria. Liberado do quartel, ele ingressou no Noviciado Palotino, em São João do Polêsine, no dia 16 de outubro de 1941. Era Mestre de Noviços Pe. Agostinho Michelotti. De 1942 a 1944, fez o Curso de Filosofia, em São João do Polêsine mesmo.

A seguir, foi enviado a São Leopoldo (RS), onde fez o Curso de Teologia, que era dirigido pelos Padres Jesuítas. Ali foi aluno, inclusive, do famoso Pe. João Batista Reus, que tinha fama de santidade e, segundo se dizia, tinha muitas visões e êxtases.

Antônio fez sua Primeira Consagração na Sociedade do Apostolado Católico (hoje SAC, então Pia Sociedade das Missões - PSM), no dia 16 de outubro de 1943. Em 1947, esteve gravemente doente de pleurisia. Foi curado pelo Dr. Ricaldone, médico italiano que viera ao Brasil a convite dos Padres Palotinos.

4.  Sua ordenação sacerdotal

No fim do terceiro ano de Teologia, no dia 27 de dezembro de 1947, foi ordenado sacerdote, em Dona Francisca (RS), com mais dois confrades - Pe. Antônio Michels e Pe. Aldemar Ferrari - pelo bispo Dom Antônio Reis, da Diocese de Santa Maria. A sua festa foi entristecida pela morte de seu pai, no dia 20 de dezembro, sete dias antes da ordenação. Em 1948, ficou em São João do Polêsine, completando o quarto ano de Teologia.

5.  Apostolado

Em 1949, foi nomeado pároco da Paróquia São José, de Dona Francisca, e ali trabalhou durante nove anos. Nesses anos foi construída a pequena Ermida da Mãe Três Vezes Admirável, com um grande despertar da devoção mariana entre o povo. Em setembro de 1952, Dona Francisca foi atingida por uma fortíssima tempestade de granizo. Quase todas as casas tiveram suas telhas e vidraças quebradas. Na igreja foram quebradas mais de sete mil telhas. Foi necessário substituir totalmente o telhado, repintar a igreja e reparar a maior parte dos vitrais, tarefas que o Pe. Antônio enfrentou com coragem e a colaboração de alguns homens generosos. Pe. Antônio visitava anualmente todas as famílias e também os doentes. Era de uma grande sensibilidade. Mais vezes, na homilia, emocionava-se até às lágrimas.

Foi Capelão do Juvenato Marista de Getúlio Vargas (RS) e depois Vigário em Cruz Alta. Lá, vendo que os doentes pobres não tinham acesso aos medicamentos, começou a receitar remédios caseiros, indicando ervas para as diversas doenças. Nesse tempo participou de um curso de Formação Permanente, no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria, que, naquele tempo, se prolongava por diversos meses.

Em 1961, foi para São João do Polêsine como vigário da Paróquia São João Batista. Aí trabalhou até 1968. Em 1970, foi nomeado Vigário da Paróquia São Roque, de Coronel Vivida (PR), onde permaneceu até 1986. Em Coronel Vivida, deu início à missa da saúde que era muito frequentada. E mesmo sendo a mesma durante a semana, nas quartas-feiras, a igreja se enchia de gente para rezar pela saúde. Pe. Antônio distribuía também ervas medicinais para quem quisesse e procurava dar também orientações de saúde.

Em setembro de 1975, participou de uma peregrinação à Europa, com um grupo de Frederico Westphalen (RS), do qual participou também o Bispo. Pe. Antônio deixou um relato pormenorizado das diversas etapas dessa viagem, escrito à máquina, de 52 páginas. Partiram no dia 14/09/1975. Em Roma, hospedaram-se num hotel, mas tiraram um dia para ir à Casa Geral e celebrar a missa no altar onde está o corpo incorrupto de São Vicente Pallotti. De Roma, voaram para Jerusalém. Na sua minuciosa descrição dos lugares visitados em Jerusalém, percebe-se a emoção e a alegria espiritual que experimentou ao visitar a terra, os lugares e as pedras que Jesus tocou. De Jerusalém dirigiram-se a Hebron, depois a Belém e, a seguir, à Galileia. E no dia 26 de setembro retornaram à Itália.

Em 15 de julho de 1986, foi transferido para a Paróquia Senhor Bom Jesus da Redenção, de Itapejara D'Oeste (PR). Trabalhou em Itapejara durante nove anos. Continuou nesta paróquia seu apostolado, dedicando-se especialmente aos doentes. Por ocasião da missa da saúde, distribuía ervas para remédios caseiros.

Em Itapejara era muito estimado, tanto que a Câmara Municipal lhe concedeu o título de Cidadão Itapejarense. Quando o povo de Itapejara soube de sua transferência, fez um abaixo assinado de mais 1.500 assinaturas, pedindo ao Superior Provincial que o Pe. Antônio permanecesse naquela paróquia. Um sinal da estima em que era tido pelos seus paroquianos.

De Itapejara foi transferido para a Paróquia São Roque, de Faxinal do Soturno, como vigário, cargo que assumiu em 20 de fevereiro de 1997. Nas horas de folga, Pe. Antônio gostava de pescar no Rio Soturno.

6.  Sua devoção a Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos

Por ocasião do seu jubileu de ouro sacerdotal, em 27 de dezembro de 1997, uma das perguntas que lhe foram feitas era a sua devoção a Maria. Ele conta: "A oração do terço em nossa família era um dever sagrado... Maria Santíssima representava um papel muito importante na vida sacerdotal palotina... Meu sacerdócio resolvi colocá-lo nas mãos de Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, no Cenáculo. Coloquei-o sob sua maternal proteção para que ela fizesse tudo o que quisesse... Um sentimento fundamental em minha vida decorre do amor profundo a Maria Santíssima, a quem consagrei e dediquei todo o meu sacerdócio. A ela o meu tributo de gratidão filial, o carinho do meu reconhecimento sincero, a prestação de minha leal ação de graças por todos os favores e benefícios que ela me prodigalizou nas andanças da vida".

7.  Sentimentos de seu sacerdócio

Sobre o seu ministério sacerdotal, numa ocasião, ele assim escreveu: "Profundo agradecimento a Deus pelo dom da vida, pela graça sacerdotal, pela ordem do sacerdócio, pelo privilégio de celebrar a santa missa, pela honra de administrar os santos sacramentos, pelo dom de querer bem às crianças, aos doentes e aos necessitados e pela possibilidade de peregrinar no meio do povo e ajudá-lo e servi-lo em suas precisões e carências".

8.  Uma vida ao apostolado paroquial

A respeito do apostolado exercido nas diversas paróquias onde trabalhou, ele disse: "Todos os anos visitava as famílias, as escolas, dava catequese, benzia as casas, visitava e sacramentava os doentes, tanto no hospital como em casas particulares"

9.  Na Comunidade Pe. Caetano Pagliuca

Na paróquia São Roque, de Faxinal do Soturno, foi seu último campo de apostolado. Já idoso e adoentado, em 2003, veio para a Comunidade do Patronato, para um atendimento mais adequado. E, em 2008, foi obrigado a utilizar a cadeira de rodas, que a utilizou até o fim.

Pe. Antônio era muito querido e estimado. Falava pouco, mas ficou consciente e lúcido até o fim. Veio a falecer na comunidade Pe. Caetano Pagliuca, do Patronato, às 3h20min, na madrugada do dia 13 de julho de 2014. Faltavam oito dias para completar 96 anos. Teve 67 anos de sacerdócio.

10.  Seu modo de ser

Pe. Antônio sempre foi um homem pacífico, de pouca conversa, sim, mas muito atento, dedicado e piedoso. Muito devoto de Nossa Senhora. Nos últimos anos gostava que se cantasse "Somente almejo, doce Maria, minha alegria sempre te amar". Na sua cadeira de rodas, muitas vezes pediu ao Pe. Ronaldo Kuhnen que cantasse este canto, que ele acompanhava com entusiasmo.

11.  Velório e sepultamento

Pe. Antônio foi velado na Capela da Comunidade Pe. Caetano, da manhã até às 14h, e, depois, foi levado a Vale Vêneto, para a Igreja Matriz, onde foi velado até a hora da missa, celebrada às 16h.

Pessoas de Vale Vêneto e muitos parentes participaram da missa e do sepultamento, no cemitério dos padres e irmãos palotinos. A missa foi presidida pelo pároco, Pe. Lino Baggio, e concelebrada por uns 15 sacerdotes, incluído especialmente o sobrinho do Pe. Antônio, Pe. Bon-filho Soldera, que também deu um depoimento sobre a vida e o trabalho apostólico do tio Pe. Antônio.

Rezemos para que Deus, na sua misericórdia, lhe conceda a plenitude da vida junto da Trindade. Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno e a luz perpétua o ilumine!

 

 Por Pe. Aguinelo Burin, SAC