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25/10/2024 - In Memoriam

Padre Bonfilho Carlos Stefanello (1927-2014)

1.  A família

Bonfilho Stefanello nasceu a 6 de julho de 1927, em Vila Cruz, município de Nova Palma (RS). Filho de Alessandro Stefanello e Josefina Zanon. Foi o 10° filho de uma família patriarcal. A mãe faleceu quando ele era muito pequeno, tanto que ele não a conheceu. Seu pai, viúvo, casou com Joana Zanon Grendene, também viúva. Esta trouxe para a nova família quatro filhos que tivera com seu marido Grendene. Alessandro e Joana tiveram mais cinco filhos. De modo que era verdadeiramente uma família patriarcal, com um batalhão de 19 filhos, que souberam viver unidos harmoniosamente. Família muito religiosa, com reza do terço todos os dias.

Ele conta o que seus manos maiores diziam a respeito dele: "Que eu, ao nascer, era tão pequeno como uma espiga de milho. Vendo-me, a mãe, tão raquítico e com poucas chances de sobreviver, teria falado assim: 'Se este filho conseguir viver, hei de consagrá-lo ao Senhor!'. Tive conhecimento dessa promessa através da tradição familiar..."

 2.  Vocação e formação

José, um dos filhos mais velhos do primeiro matrimônio, entrou para o Seminário Palotino, em Vale Vêneto (RS). Depois foi enviado a Roma para formar-se em matérias teológicas. E lá foi ordenado em 1941. Bonfilho, que dele era treze anos mais novo, manifestou também o desejo de ir para o seminário, mas a situação financeira não era fácil, numa família tão numerosa. Mas, em 1943, com dezesseis anos, ingressou no Seminário Rainha dos Apóstolos, de Vale Vêneto, onde completou os estudos do Primeiro e do Segundo Grau. Ele recorda que, em Vale Vêneto, seus anos foram muitos bons, especialmente na linha da espiritualidade. Incentivava- se muito a devoção a Maria. Ele diz que a "vida no Seminário foi uma luta em todos os sentidos: o estudo nada fácil para mim, o trabalho, a vida de comunidade, a obediência às normas do regulamento". Mas acrescenta: "Os formadores daquele tempo foram pessoas exemplares que viviam o espírito da Igreja tridentina e o espírito do Fundador Vicente Pallotti". Bonfilho enfrentou dificuldades nos estudos. Por isso permaneceu no Seminário Menor de 1943 até o fim de 1950.

Em 1951, foi para Cadeado, hoje Augusto Pestana (RS), fazer o Noviciado. Ele diz: "Lá fomos introduzidos na vida, na fundação e na espiritualidade de Vicente Pallotti, que tinha sido beatificado em 22 de janeiro de 1950. Mestre de noviços, diz ele, era meu irmão, Pe. José Stefanello. Vivia-se

pobremente. Mas reinava um grande espírito mariano, com a introdução da devoção à Mãe Três Vezes Admirável, com seu Santuário"

Em dois de fevereiro de 1953, fez a primeira consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico, dos Padres e Irmãos Palotinos, e ingressou no Seminário Maior de São João do Polêsine (RS), onde completou o Curso de Filosofia. Depois de um ano de estágio, no Seminário Menor de Faxinal do Soturno (RS), fez dois anos de Teologia ainda em São João do Polêsine, e completou estes estudos em Santa Maria (RS), no atual Colégio Máximo Palotino, que tinha sido inaugurado no dia 01 de maio de 1958.

 3.  Ordenação e apostolado

Bonfilho foi ordenado sacerdote, no dia 21 de dezembro de 1958, por Dom Vitor Sartori, na Cripta da Basílica Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria (RS). Sua primeira atividade apostólica foi em Guaíra (PR), como vigário cooperador. Depois foi transferido para Amambai (MS), sendo pároco Pe. Antônio Segatto.

De 1961 a 1970, trabalhou como vigário em Vicentina (MS), auxiliando o pároco Pe. José Daniel. Pe. Daniel era um homem muito trabalhador, mas enérgico e muito explosivo. Pe. Bonfilho diz que, nesses nove anos de convivência com o Pe. Daniel, começou a compreender a psicologia diferente de cada pessoa e, com esta aprendizagem, pôde conviver tranquilamente.

Em 1970, foi ajudar o seu irmão, Pe. José Stefanello, que era pároco de Iporã (PR). Era uma vasta paróquia, com muitas comunidades, entre as quais Francisco Alves (PR), que foi constituída paróquia em 1971. Os dois irmãos Stefanello passaram a assumir a nova paróquia de Francisco Alves.

Em 1978, Pe. Bonfilho foi enviado a Anori, uma paróquia no Amazonas, na margem do Rio Solimões, para auxiliar o Pe. Eloi Ro-ggia, hoje bispo da Prelazia de Borba (AM). Pe. Bonfilho era muito observador, apreciava as paisagens, encantava-se com o que via. Sobre Anori escreve numa carta enviada ao Provincial: "A terra é muito boa e dá praticamente de tudo". Depois de nomear os principais produtos que nós também conhecemos, como milho, arroz, feijão, mandioca, etc., passa a falar dos produtos típicos da Amazônia. "Os habitantes aqui aproveitam muito os frutos de diversas palmeiras, como o açaí, o cupuaçu e outros tipos de palmeiras das quais comem e bebem o suco... A pesca, para esses homens do Amazonas, sempre foi uma das principais fontes seguras para viver... Não têm grandes ambições na vida, esperam que nunca lhes falte o peixe com a farinha de mandioca, e assim vão tocando a vida, confiando na Providência, que o Pai do alto olha para todos nós".

Depois de um ano dessa missão no Amazonas, Bonfilho voltou para Francisco Alves. Em 1998, foi auxiliar seu colega Pe. Duvilio Antonini, em Dourados (MS). Em 2002, exerceu seu ministério de vigário paroquial de Itapejara do Oeste (PR). De lá, Bonfilho veio a Santa Maria para cuidar de seu irmão, Pe. José, que estava no Patronato, com a saúde abalada, afetado pelo mal de Alzheimer, onde veio a falecer.

Bonfilho ainda trabalhou na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, de Salto do Jacuí (RS), auxiliando o Pe. Laurindo Zeni.

4.  Problemas de saúde

Nessa altura, com a saúde um tanto fragilizada, em 2007, foi para o Seminário de Vale Vêneto, onde permaneceu seis anos. Ajudava nos trabalhos de casa, na limpeza dos pátios, na colheita de frutas, no corte da grama. Era um homem sempre disponível e alegre. Sua saúde sofria de altos e baixos. Por isso, em 2013, transferiu-se para a Comunidade Padre Caetano, do Patronato, em Santa Maria, que mantém um ótimo serviço de enfermagem para os padres e irmãos idosos e doentes.

Aqui Pe. Bonfilho recuperou-se e assumiu o cuidado da criação de aves que a Comunidade mantém. E era de ver o carinho e a dedicação que tinha com este trabalho. Vale lembrar que apesar de seus mais de oitenta anos, tinha um físico muito forte.

5.  O Neo-catecumenato

Nos anos que trabalhou em Francisco Alves, participou das Comunidades Neo-Catecumenais. Ele diz: O Caminho Neocatecumenal, que conheci em Francisco Alves (PR), é um ótimo método de iniciação cristã e catequese. Para mim é a melhor forma de catequese e de formação cristã. Na minha vida cristã e sacerdotal, duas fontes me deram ânimo e sustentação: a espiritualidade de Schoenstatt e o Caminho Neo-catecumenal". Para a sua vida sacerdotal foi uma verdadeira conversão, como ele mesmo afirmava. Abraçou com entusiasmo a participação e a colaboração, na medida de suas possibilidades, na evangelização com o método de Kiko Arguelo. Sempre que falava dessa experiência, comovia-se até às lágrimas.

6.  A pessoa do Pe. Bonfilho

Pe. Bonfilho era um homem simples, humilde, mas sempre muito sincero, aberto, otimista e disposto. Um homem pacífico, afável e bom companheiro. Gostava de comunicar-se e conversar. Também era muito sensível e emotivo. Encantava-se com a natureza, com os acontecimentos, com as descobertas da ciência. Na criação de aves, que delas cuidava, havia também angolistas, marrecas, perus e gansos. Lidava com todos eles como se fossem gente. Falava com eles e especialmente os gansos gritavam, quando ele entrava no pomar onde estavam soltas.

Os gansos penduravam-se no seu casaco e, ele, com jeito e carinho pedia que o deixassem trabalhar. Afeiçoou-se de tal maneira a essas aves dia que ando chegava o momento do abate, chorava e o queria nem ver.

Gostava também de ler. Apesar da idade, não usava óculos, mas, para ler o jornal, que tinha letra pequena, utilizava uma lupa. Lia, relia, e citava muitas vezes, um livro sobre Vida de Jesus, escrita por um autor alemão, Pe. Henrique Escrich, intitulado "O mártir do Gólgota". Como ele mesmo dizia, esta 'Vida de Jesus' proporcionou-lhe muitas oportunidades de meditação e oração. A biblioteca pessoal, que carregava consigo, é relativamente grande, inclusive com a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, em português. Interessava-se por todas as pesquisas e descobertas da ciência moderna. Fazia projetos para o futuro, mesmo com seus mais de oitenta anos.

7.  Últimos dias

Há algumas semanas, sofreu a formação de um trombo, e, em consequência, teve uma forte crise em sua saúde, da qual não se recuperou mais. Apesar de todos os cuidados, entrou em falência múltipla dos órgãos e, na manhã do dia 23 de outubro de 2014, às 6h45min, veio a falecer, na Comunidade Padre Caetano Pagliuca.

Todos nós, da Comunidade Pe. Caetano, sentimos muito seu falecimento. Era um irmão, ao qual todos queriam bem. Sabia dialogar, nunca se alterava, sempre disposto e otimista, com seus 87 anos. Um homem e um confrade que, do seu jeito, passou fazendo o bem.

Seu corpo foi velado na Capela do Patronato, com missa às 18h30min. E no dia 24 de outubro de 2014, com missa na Igreja de Vale Vêneto, às 9h, presidida pelo Pe. Clesio Facco, Vice-Reitor provincial, e concelebrada por vários sacerdotes, o corpo foi sepultado no Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos da Província Nossa Senhora Conquistadora.

Dai-lhe, Senhor, entrar na Vida Eterna, e a luz perpétua o ilumine!