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Padre Claudino Magro (1920-2019)

1. Introdução
A vida pode ser resumida como o conjunto de sensações que nós, na fragilidade do nosso corpo e dentro de um breve tempo, conseguimos navegar no mundo que nos é dado. Porém, na dimensão da fé encontramos outro sentido para a vida: viver é ser feliz servindo com alegria! Mesmo nas adversidades do tempo e nos contrários da história, encontra a felicidade quem serve com alegria, quem se torna dom de Deus para os mais necessitados. E quando o tempo se encerra e a morte se apresenta, revigoramos nossa confiança de que a vida daqueles que se fizeram servidores do bem não fica encerrada no túmulo, senão que é glorificada e eternizada em Deus. Nesse sentido, diante da partida do Pe. Claudino Magro SAC, as palavras de Jesus são reconfortantes: "Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus" (Mt5,3).
2. Família
O Claudino nasceu no dia 7 de julho de 1920, embora tenha sido registrado no dia 14 de setembro, em Sarandi (RS). Filho de Antônio Magro e Antônia Signor. Seus pais eram pessoas simples e muito religiosas. Tiveram onze filhos, sendo o Claudino o quarto. Foi batizado pelo Pe. Carlos Kolb PSM. Como moravam em uma região que estava sendo colonizada, seu pai contratou um professor particular para dar aula para os filhos em casa.
3. Vocação
Claudino ouviu falar pela primeira vez em vocação quando os missionários capuchinhos pregaram missões em Sarandi. Mais tarde seu pai, durante a vindima, lançou a pergunta: "quem de vocês quer estudar para padre?" Todos ficaram calados, mas o menino Claudino sem saber o que era ser padre arriscou um sim. Através do pároco Pe. Henrique Pretti CS e da revista Rainha dos Apóstolos o jovem Claudino começou a conhecer o que significa ser padre e foi encaminhado para os palotinos.
Em 1936, partiu de Sarandi (RS) em um caminhão de carga rumo a Carazinho (RS), juntamente com o pai e um judeu vendedor de imagens de santos. Em Carazinho (RS) tomaram um trem e depois de um dia de viagem chegaram a Santa Maria (RS). O cheiro da fumaça do trem fez-lhe muito mal, criando um trauma toda vez que tivesse que viajar. A solução era fazer jejum.
4. Formação
Estando em Santa Maria, foram falar com o pároco da catedral, Pe. Caetano Pagliuca que o encaminhou para Cadeado (RS), cursando aí o terceiro e quarto ano preliminar. Em 1938 continuou os estudos em Vale Vêneto (RS). No seminário a vida era pobre, simples, disciplinar, mas de muita espiritualidade. O Pe. Claudino em seus escritos comenta: "Guardo as melhores lembranças daqueles anos em que vivemos alegres e contentes. Que lindas eram as festas do reitor, da padroeira, a Rainha dos Apóstolos, do padre Provincial, os teatros e o esporte, os passeios grandes, a devoção mariana que nos infundiu uma espiritualidade sadia!"
Em 1942, chegou a ser convocado para lutar na 2ª. Guerra Mundial, mas graças ao pedido de dispensa feito pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, ao Ministro da Guerra foi dispensado, bem como todos os seminaristas da época.
Em 1944 fez o noviciado em São João do Polêsine (RS), tendo como mestre o Pe. Agostinho Michelotti. De 1945 a 1952 fez os cursos de Filosofia e Teologia no Seminário Maior de São João do Polêsine (RS). Fez a sua primeira consagração na Sociedade do Apostolado Católico no dia 02 de fevereiro de 1946.
A ordenação presbiteral aconteceu no dia 30 de dezembro de 1951, em sua terra natal, Sarandi (RS). No mesmo dia, em Linha Sete, Nova Palma (RS), eram ordenados outros quatro colegas: Achylle Alexio Rubim, Genésio Trevisan, Otávio Bortoluzzi e Virgílio Costabeber. Todos os cinco tiveram a graça de celebrar o jubileu de ouro de sacerdócio juntos.
No seu diário espiritual, no dia 25 de junho de 1951, escreveu: "Em preparação ao meu sacerdócio, rezarei todos os dias o Rosário, isto é, três terços. Entrego de modo especial a preparação do meu sacerdócio à Mãe três vezes Admirável de Schönstatt. Ela há de preparar o meu sacerdócio, há de guiar-me seguramente ao altar, onde me encontrarei com seu divino Filho. A vós, Mãe querida, está confiado o meu sacerdócio". Também sobre o dia de sua ordenação escreveu: "Oh grande dia! Oh dia feliz! Dia inesquecível e o amor de minha vida!"
5. Sentiu-se atraído por Vicente Pallotti
O Claudino recebeu os primeiros fundamentos sobre Vicente Pallotti, em 1938, em Vale Vêneto, ouvindo a leitura de seus escritos durante o café, embora ainda não entendesse bem o italiano. Naquela época tanto no café como nas refeições havia leitura obrigatória. Somente nos dias festivos não havia leitura.
Nas quintas-feiras, após os trabalhos, o Pe. Fioravante Trevisan introduziu a leitura de textos e testemunhos sobre Pallotti. Durante o noviciado, o mestre de noviços aprofundou mais os estudos sobre o fundador. As Informações Palotinas, a Biografia sobre Pallotti que o Pe. Agostinho Michelotti escreveu, as celebrações da Epifania, as missões populares, a promoção dos cooperadores palotinos e o dia Palotino o entusiasmaram sempre mais. Porém o que mais tocou a sua vida foi a beatificação em 1950 e a canonização em 1963.
6. Atividade Pastoral
Começou o exercício do seu ministério sacerdotal, em dezembro de 1952, com a benção das casas em Sobradinho (RS). Visitou a cavalo seiscentas famílias e recolheu ofertas de trigo e feijão para os seminários de São João do Polêsine e Vale Vêneto. Retornou a Santa Maria e passou a ser propagandista de retiros na região de Santa Maria e Quarta Colônia. Em outubro de 1953 foi para Santo Augusto (RS) como vigário paroquial, permanecendo lá até dezembro de 1955. Em Santo Augusto abençoou todas as casas e anotou os nomes dos pais, dos filhos e dos locais de onde vieram. Fez um recenseamento. A partir de 1956 passou a ser o pároco de Coronel Vivida (PR), permanecendo aí até maio de 1964. Aí é considerado o fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. De Coronel foi para Palotina (PR), e também assumiu a função pároco até fevereiro de 1968. Seu grande legado é o incentivo a construção do Santuário Nossa Senhora da Salete.
Quando foi perguntado pelos fiéis sobre a proposta de construir o santuário, o Pe. Claudino respondeu em italiano: "se sono rose fioriranno". Esta frase, "se são rosas florescerão" marcou muito a vida da comunidade palotinense e hoje podemos ver um belo santuário, onde muitos fiéis visitam diariamente e anualmente acontece uma grande festa com a presença de milhares de pessoas. Em março de 1968, o Pe. Claudino foi para o Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria (RS) e trabalhou no setor de catequese. Em 1969 foi para a Casa de Retiros, em Santa Maria (RS), e em 1970 assumiu a função de Arquivista Provincial. Em 1979 fez o curso de arquivologia em Roma, Itália. Como arquivista trabalhou até o ano 2001. Continuou morando na Casa de Retiros até 2012. De 2013 a até os seus últimos dias morou na Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca, no Patronato.
7. Progressiva perda da voz
A perda da voz não foi de repente. Quando estava em Vale Vêneto (RS), em 1939, fazia parte do grupo de teatros. Ao fazer o papel de professor na peça teatral, foi advertido pelo Pe. Casimiro Tronco que não estava empregando bem a voz. Foi o primeiro aviso. Também durante o noviciado o Pe. Agostinho Michelotti solicitou- lhe que devia corrigir a voz. Passou a fazer exercícios, às vezes mordia os lábios por não ser capaz de pronunciar bem as palavras. Isto o deixava mal e até chegava a se recusar a dar catequese.
No início do seu ministério, durante as atividades pastorais que consistiam em muitas pregações, cantos, orações e leilões em festas, o jovem Pe. Claudino facilmente ficava afônico.
As inúmeras tentativas para recuperar a voz o deixavam cada vez mais frustrado e de nada adiantavam. Isto lhe causou grande sofrimento psíquico. Nos seus escritos podemos perceber claramente: "O meu sofrimento acontecia quando presidia a eucaristia. Sempre que me aproximava do altar, ficava com grande angústia. Quantos sonhos que eu tive de celebrações de missas que nunca davam certo. Muitas vezes quando queria dizer algumas palavras ou expressar uma prece, nas celebrações eucarísticas, a voz se me embargava na garganta. Quantas vezes, na calada da noite, permanecia na capela, diante do Santíssimo Sacramento, lamentando o problema!"
Em 1973 chegou a escrever no seu diário: "Voz péssima; no altar sou um fracassado, nem tenho coragem de olhar para os assistentes" E, permanecendo o problema, sem esperança de melhoras, conformou-se e aceitou a limitação a fim de diminuir a angústia e o sofrimento.
8. Rumo à Casa do Pai
Domingo de Páscoa, 21 de abril, o Pe. Claudino começou a se sentir mal e apresentar insuficiência cardíaca. Foi internado a domicílio e veio a falecer na madrugada do dia 26 de abril de 2019.
O Pe. Claudino foi um membro da comunidade sempre muito presente, se interessou pela vida da província, mesmo quando limitado pela saúde. Deixa-nos um belo testemunho de simplicidade, de dedicação e de vida palotina. Gostava de viver e sempre manifestava o desejo de chegar aos cem anos.
Partiu para a Casa do Pai aos 98 anos e alguns meses, dos quais 73 de vida consagrada e 67 de ordenação presbiteral. No dia 26, sexta-feira, houve missas de exéquias às 11h e às 15h na Capela da Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca, junto ao Patronato, em Santa Maria (RS). Em ambas as celebrações havia muitas pessoas. Às 17h foi sepultado no Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos, em Vale Vêneto (RS).
9. Depoimentos
"Padre Claudino, diagnosticado com aneurisma de aorta abdominal, apresentou complicações e por não haver condições clínicas para procedimento cirúrgicos foi a óbito devido à complicação do quadro.
As pessoas especiais adormecem na morte e jamais serão esquecidas, mesmo ausente no nosso dia a dia sempre estará vivo em nossos corações, deixou uma história de amor pela vida, afeto e carinho por toda comunidade Palotina. Descanse em paz!" (Flaviana Basso Schio - Enfermeira)
"O que me impressionou na vida do padre Claudino Magro foi a sua lucidez até os últimos minutos de sua vida. Sempre atento às coisas que iam acontecendo na nossa província e também na comunidade. Estava sempre disposto a participar de todos os momentos. Quando se perguntava, publicamente, na comunidade quem gostaria de participar de tal encontro, retiro, aniversário e outros, o padre Claudino sempre era o primeiro a levantar a mão. Seu estado de saúde impediu, nos últimos anos, que ele pudesse estar presente nessas atividades. Mesmo tendo dificuldades na voz respondia na missa, terço e outras orações com muito entusiasmo. Estive junto com o padre Claudino na sua passagem dessa vida para outra. Ele adormeceu que nem se percebeu o último suspiro. A nossa Comunidade Local Padre Caetano Pagliuca perdeu um membro muito especial e sua ausência física é percebida e sentida na nossa comunidade. Descanse em paz padre Claudino!" Pe. Vanderlei Luiz Cargnin SAC (Reitor da Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca)
Pe. Clesio Facco, SAC