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Padre Rafael Pivetta (1902-1975)
Sua morte ocorreu no dia 10 de julho, às 15h20min, em Palotina, vítima de uma síncope cardíaca.
Padre Rafael nasceu em Vale Vêneto no dia 09 de agosto de 1902, filho de Henrique e Augusta Bortoluzzi Pivetta. Rafael era o terceiro entre onze irmãos. Iniciou seus estudos no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Vale Vêneto. Estudou Humanidades em São Leopoldo, o mesmo fazendo com os estudos de Filosofia e Teologia, recebendo a ordenação sacerdotal em 1930.
Seu trabalho sacerdotal foi iniciado em Santa Maria como coadjutor da Catedral, durante três anos, tendo passado a exercer a mesma função, nos dois anos seguintes, na Paróquia de Cruz Alta. Empenhou-se totalmente, de 1936 a 1943, nas Missões Populares. Exerceu os cinco anos seguintes de sacerdócio na Paróquia de Vale Vêneto; em 1949 foi escolhido como reitor do Seminário Maior de Polêsine.
Mas foi Palotina, sobretudo, desde 1954 até o dia de sua morte, o lugar mais enriquecido pelo seu trabalho e pela sua oração, acompanhando e incentivando famílias gaúchas em busca de novas possibilidades de vida em terras cobertas de matas.
Sua personalidade de pai, amigo e defensor daqueles colonos era marcada por uma piedade profunda: foi homem de Deus, capaz de estar nos outros, descentrado de si mesmo, vivendo na comunhão e na doação de si mesmo. Foi também um homem cheio de paz, de serenidade e de segurança, habituado a uma simplicidade impressionante.
Morreu e foi sepultado no lugar que ele mais amou, mais regou com seu suor e mais enriqueceu com seu trabalho e sua oração. Se todos sentimos a sua partida, também agradecidos, louvamos ao Senhor por nos ter dado por tanto tempo como amigo e irmão e por tê-lo introduzido na mansão eterna. Sua vida sacerdotal e religiosa enriqueceu a nossa Província, bem como todos aqueles que tiveram a ventura de encontrar-se com ele.
Permanecerá, ao mesmo, tempo, para todos nós como uma solene confirmação do sentido da Vida Religiosa e do Sacerdócio Cristão. Será um constante apelo no sentido de vivermos generosamente abertos para Deus e para o próximo. Ele não viveu para si, mas para os outros. Era pobre, mas ao mesmo tempo uma pessoa das mais ricas de fé, de esperança e de amor de nossa Província. A riqueza da sua pessoa foi sentida dentro e fora da Província.
Por ocasião do retiro realizado em Palotina, na segunda quinzena de julho do corrente ano, na missa em sufrágio do Pe. Rafael, os sacerdotes presentes puseram em destaque os traços mais marcantes da sua personalidade, constantemente marcada por uma grande bondade, alegria, espírito pioneiro, amor à natureza, respeito pela vida, pelas pessoas, constância e perseverança, delicadeza nas palavras e nos julgamentos, simplicidade e desprendimento franciscanos, intensa vida de oração.
Ao saber da sua morte, escrevia dos Estados Unidos, no dia 31 de julho de 1975, o Pe. Alderige Baggio: "Sabia-se que o Pe. Rafael Pivetta não gozava de boa saúde; apesar disso, sua morte foi surpresa. A vida desse palotino: dedicação, trabalho, humildade e piedade profunda, com certeza, há de não só inspirar, mas também nos salvar da tentação de virar as costas ao Evangelho para buscar em teorias secularistas a salvação do homem. Além do mais, a sociedade civil (especialmente a cidade de Palotina) nunca poderá esquecer-lhe os sacrifícios e a dedicação santa com que manteve essa comunidade nos tempos de pioneirismo, quando aquilo tudo era terra de ninguém.
Parece um paradoxo que os padres que mais se dedicam à religião (a cidade de Deus) são os que mais fazem pela sociedade civil (a cidade do homem). Rezemos missas de sufrágio por sua alma e também missas de ação de graças por tê-lo tido tanto tempo em nossa Província. Lembro-me do muito que ele e também o Pe. Lovato fizeram pela Igreja e por Palotina".
Também o povo de Palotina e arredores sentiu a presença enriquecedora da pessoa do Pe. Rafael e proclamou-a publicamente e, certamente, ainda o fará no futuro. Assim, no dia do seu passamento, o Prefeito de Palotina, Erich Arno Müller, decretou feriado municipal e luto oficial por três dias, "em homenagem póstuma ao reverendo Padre Rafael Pivetta, fundador e cidadão benemérito do município". Antes que o corpo do Pe. Rafael Pivetta fosse confiado à terra, que ele tanto amou, o prefeito de Palotina pronunciou a seguinte oração:
"Hoje, Palotina parou. E parou para render a derradeira homenagem ao Pe. Rafael Pivetta. Palotina não existiria se por aqui não passasse o Pe. Rafael, e nas matarias que dominam a região ele não plantasse esta cidade.
Esta mesma cidade que lhe rende graças, se reúne em torno de sua campa para dizer-lhe "obrigado!" Esta mesma cidade que se sente diante do tamanho e da extensão da bondade e da grandeza de seu coração, sempre voltado para a defesa da família palotinense e na salvaguarda dos sagrados valores morais e humanos. Sua promissora chegada em 05 de janeiro de 1954 foi o marco inicial de sua obra. Na manhã do dia seguinte foi celebrada sua primeira missa em solos palotinenses, impregnando com o sinal da fé, da confiança e do amor a Deus, a esta cidade que alvorecia.
Seu trabalho pastoral e social, na orientação de um povo para o caminho certo, foi a razão mais forte da existência deste progressista município.
Batizado sob o signo dos padres palotinos, veio a chamar-se Palotina porque assim o quis seu fundador. Quem se devotou inteiramente à Pátria como o senhor, Pe. Rafael, fundando esta cidade, naturalmente se dedicaria inteiramente à família, conduzindo-a sempre, com retidão e firmeza, para o caminho da verdade, respaldado na fé e na confiança. Única forma de chegar a Deus.
Sua morte, Pe. Rafael, é um chamamento à realidade. Sua passagem por esta terra, especialmente por esta que fundou, foi sempre um exemplo de trabalho, de luta e de abnegação pela causa dos sofredores e oprimidos, levando-lhes o consolo moral e o bem-estar social. Emérito trabalhador pela criação do município e pela legalização dominial das terras, tudo foi alcançado, Pe. Rafael, com sua ajuda incansável.
Um grande homem como o senhor somente parte após ver sua missão cumprida. Por isso, todo este povo o acompanha à última morada para prestar-lhe a mais justa e merecida homenagem, dizendo-lhe "Muito Obrigado!" certos de que sua obra jamais será esquecida.
Povo e autoridades aqui presentes estão conscientes de que Pe. Rafael é uma dádiva de Deus e que Palotina a guardará para sempre em todos os momentos de sua história." (N. B.: O prefeito de Palotina é cristão evangélico e seu discurso foi publicado no jornal "Fronteira do Iguaçu", no dia 13 de julho de 1975, p. 8).
Não nos foi possível, infelizmente, ter o texto das palavras de despedida dirigidas ao Pe. Rafael pelo prefeito de Toledo, o qual exaltou a figura do desaparecido, dizendo que Palotina perdia um dos seus homens mais ilustres e que a Congregação perdia um dos seus servidores mais firmes e dedicados. Pe. Rafael era o comandante de todas as batalhas e se constitui "em um exemplo para todos nós". Esse sacerdote "era um verdadeiro franciscano e que adentrou para a eternidade como um exemplo de autêntica santidade".
Por Pe. João B. Quaini, SAC