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Padre Dionísio Francisco Costa (1965-2000)
A comunidade Palotina ainda lembrava a partida do Pe. Luiz Augustino Vendrúscolo quando, no dia 20 de novembro de 2000, foi surpreendida com a notícia que o Pe. Dionísio Francisco Costa foi levado por um grave acidente para a outra vida.
A notícia de sua morte, se espalhou rapidamente por todos os recantos, provocando uma onda de surpresa, de condolências e também de inquietantes interrogações. Ninguém queria aceitar o que estava ouvindo. Mas, na verdade, às 6h55min da manhã, sobre a ponte do Rio Conceição, entre Ijuí e Santo Ângelo, Pe. Dionísio encerrou de maneira trágica a sua brilhante carreira de padre, professor e de educador, recém começada e muito aplaudida.
Longe de querer desvendar o mistério que envolve sua morte, queremos, na medida do possível, não só guardá-lo em nosso coração e deixar-nos envolver pela gratificante imagem que nos deixou como também pedir ao Senhor da vida que o faça viver para sempre em sua companhia e em nossas lembranças.
1. Família e formação
Pe. Dionísio Francisco Costa nasceu no dia 14 de janeiro de 1965, em Caiçara (RS), filho de Fiorentino Costa e Dorvalina Costa, que tiveram doze filhos. Uma família economicamente pobre, mas unida e rica de valores cristãos.
Ele fez o curso fundamental no seu torrão natal, Barra Grande, no interior do município de Caiçara (RS). Desde pequeno soube o que era trabalhar duro na lavoura. Mas sua grande ambição era poder um dia estudar e ter uma vida melhor. Para realizar o seu sonho, transferiu-se para Frederico Westphalen (RS), onde se formou técnico em contabilidade.
Para poder pagar os seus estudos, trabalhou como pedreiro. Experimentou o que é viver com a máxima sobriedade e ganhar o pão regado com abundante suor. Interrogado, um dia, pelo Pe. Hermogênio Borin, se queria tornar-se padre, o convite de Jesus penetrou fundo em seu jovem coração e entendeu que Jesus Cristo queria fazer dele uma testemunha qualificada do seu reino, um presbítero.
Provocando muitas lágrimas em seus pais e numerosos irmãos, e talvez chorando ele próprio, no início de 1983 ingressou diretamente no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria (RS), onde fez dois anos de Filosofia.
Em 1985, fez o seu ano espiritual (noviciado) em Lavallol, na Província de Buenos Aires, Argentina. Em 1986, retornou ao Brasil e iniciou o estudo da Teologia. Acabado o segundo ano de Teologia, em 1988, fez um ano de estágio pastoral em Glória de Dourados (MS). No dia 25 de fevereiro de 1990, foi ordenado presbítero em Caiçara (RS) por Dom Bruno Maldaner.
2. Campo de Trabalho
Seu primeiro campo de trabalho foi em Mato Grosso do Sul. Durante o ano de 1990, trabalhou na paróquia de Glória de Dourados, onde havia feito o estágio pastoral e, nos anos seguintes (1991-1993), trabalhou como vigário paroquial em Fátima do Sul (MS).
Trabalhou intensamente com a juventude na diocese de Dourados e foi também promotor vocacional. Com seu jeito simples, alegre, criativo e graças aos seus dons vocais e musicais, sabia conquistar crianças, jovens e adultos.
Em 1994, trabalhou na paróquia São Judas Tadeu, em Campo Grande (MS), mas naquele ano seus superiores maiores, conhecedores dos seus muitos e lindos talentos, decidiram enviá-lo a fim de especializar-se em disciplinas teológicas para, mais tarde, trabalhar na formação dos nossos vocacionados.
Antes de viajar para Roma, passou uns meses no seminário de Vale Vêneto, procurando familiarizar-se com a língua italiana graças aos conhecimentos de italiano do Pe. Mário César do Amaral e da Irmã Laura Cremonesi, que, tendo passado mais de trinta anos em Roma, dominava perfeitamente a língua italiana.
3. Estudos
Em outubro de 1994, iniciou os seus estudos teológicos especiais na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e, até a metade de 1997, conseguiu o Mestrado em Teologia Dogmática. Graças ao seu excelente aproveitamento, os seus professores e também seu Reitor-Geral da Sociedade do Apostolado Católico, encorajaram-no a prosseguir os estudos, tendo em vista o doutorado em Teologia. Durante três anos, trabalhou na elaboração da sua tese de doutorado.
Além disso, durante o seu estudo em Roma, assumiu trabalhos importantes na comunidade local e na Sociedade do Apostolado Católico. Fez parte da direção da comunidade local e, na Assembleia Geral da Sociedade do Apostolado Católico, realizada em outubro e novembro de 1998, foi um dos dois moderadores. Desempenhou muito bem o seu trabalho graças ao conhecimento de várias línguas e também à sua habilidade de coordenar os trabalhos, o que o tornou conhecido de todas as Províncias e Regiões da Sociedade. Essa experiência foi trabalhosa, mas de imensa valia, pois assim conheceu não apenas membros da sociedade, mas também sua vida, seus problemas e suas expectativas.
Na metade de 1999, retornou de Roma para estar junto à sua mãe, que estava gravemente doente. Mas quem primeiro partiu para outra vida foi seu pai, que faleceu no dia 16 de julho e no dia 19 do mesmo mês faleceu também sua mãe. Retornando para Roma, ultimou a sua dissertação que ele apresentou e defendeu, no dia 19 de janeiro de 2000: "Jesus Cristo, o Espírito e o Pai. Tentativas de uma Cristologia Trinitária em James Dunn e Marcello Bordoni: um Confronto Ecumênico".
4. Seus últimos momentos
Logo após, retornou ao Brasil e fez parte da comunidade palotina da Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria (RS). Nos meses de junho a julho, acompanhou o Reitor-Geral, Pe. Seamus Freeman, que visitou a Delegação Palotina do Rio de Janeiro e a nossa Província, atuando sempre como seu interprete.
No início de agosto, embora ainda não plenamente restabelecido de uma cirurgia, iniciou a sua atividade docente no curso de Teologia, procurando introduzir os alunos no conhecimento do mistério da Santíssima Trindade. Os alunos estavam muito satisfeitos com os primeiros frutos do jovem docente Dionísio. Além de docente, Dionísio acompanhava e orientava também um grupo de alunos palotinos.
Ao longo desses poucos meses de presença e de trabalho, foram crescendo as expectativas positivas dos alunos e dos colegas a respeito do seu desempenho futuro na formação espiritual e teológica de todos os alunos.
Mas uma florescente primavera pode ser destruída totalmente por uma manhã de gelo. Foi o que aconteceu com o Pe. Dionísio. Na manhã do dia 20 de novembro, ele se dirigia pra Santo Angelo (RS) para participar de uma reunião de Comissão dos Institutos de Teologia do Rio Grande do Sul. À tarde do domingo anterior, dia 19, estava animado com a solene celebração do sacramento da crisma para mais de 130 jovens, na Paróquia Nossa Senhora das Dores.
Ele estava muito feliz, e foi esta imagem alegre e irradiante que todos os participantes guardaram dele. Mas, entre Ijuí e Santo Ângelo, mais precisamente, sobre a ponte do Rio Conceição, aconteceu um violento choque de carros. Noutro carro, viajavam três pessoas que saíram vivas, embora gravemente feridas. Mas padre Dionísio morreu no local. Seu corpo ficou todo machucado, devendo ser todo enfaixado.
5. Despedida
Apenas na tarde do dia 20 seu corpo foi liberado e conduzido para a igreja Nossa Senhora das Dores, onde uma multidão consternada aguardava a chegada do corpo do padre que, em tão pouco tempo, havia conquistado a todos.
O corpo foi velado durante toda a noite na igreja das Dores e, às 20h30min, houve uma celebração eucarística, presidida pelo Pe. Valentim Pizzolato, na qual participaram dezenas de presbíteros e centenas de cristãos.
Durante toda a noite muita gente se deteve em oração junto ao seu corpo, cercado de muitas flores. Foi comovente a chegada de seus inúmeros familiares e amigos vindos de várias regiões do Estado para se despedirem do irmão, cunhado e tio muito querido.
As 8h do dia 21 houve celebração de exéquias presidida por Dom José Ivo Lorscheiter e concelebrada por mais de quarenta sacerdotes. Dom Ivo, após a leitura da Palavra de Deus, transmitiu suas palavras de conforto e sabedoria do Bom-Pastor, que, em síntese, aqui são apresentadas:
"A morte é para nós um mistério, mas nem sei se é tanto esse mistério, pois saberíamos explicar um pouco a morte. As circunstâncias da morte, porém, e o dia da morte são coisas que nós não podemos prever. Por que Deus chama os idosos sabemos, mas por que chama Deus pessoas com 35 anos de idade, no pleno desabrochar de uma atividade que nós, humanamente, quereríamos que fosse longa, que fosse preciosa para a Sociedade e para a Igreja? Aí Deus tem outros planos e outras decisões. Talvez disséssemos assim com muita simplicidade: o importante diante da morte é que entendamos que a morte não é um concluir-se, mas um grande portal, uma porta de entrada na vida futura... O dia do nascimento, o dia natal é o dia de entrada na outra vida. Mas por que agora, por que assim? Deixemos isso para Deus, pois Ele é o Deus da Misericórdia e da Sabedoria. O que nós queremos fazer aqui, além de dar o nosso conforto á Família Palotina, à família Costa e a todos os que se sentem entristecidos, é dar o nosso apoio, a nossa participação. E pelo Pe. Dionísio estamos unidos para rezar para que ele já tenha encontrado em Deus o Grande Pai, o Deus do Prêmio, o Deus da Alegria perfeita no céu".
Após o término da eucaristia exequial, um longo cortejo de carros e de ônibus acompanhou o corpo do estimado padre até a igreja matriz de Vale Vêneto (RS), que, embora espaçosa, foi tomada pelas muitas pessoas que lá estavam aguardando a chegada do corpo. Predominavam a emoção dos familiares e dos seminaristas maiores e menores. Todo o clero de Cachoeira do Sul, junto com o seu novo bispo, Dom Frei Irineu Wilges, quis juntar-se aos numerosos sacerdotes que concelebraram a eucaristia de despedida, presidida pelo Pe. Gilberto Orsolin, membro do Conselho Provincial e pároco de Faxinal do Soturno (RS).
No início da celebração, o Superior Provincial, Pe. Lino Baggio, agradeceu a Dom Irineu Wilges e ao clero de Cachoeira do Sul pela presença solidária e manifestou o seguinte sentimento: "... Queremos agradecer a Deus por tudo aquilo que o Pe. Dionísio significou para nós. Contávamos muito com ele! Vamos continuar e rezemos por ele. Isso e um motivo para nós todos, desde os mais provectos até os mais jovens, vivermos com disposição, fidelidade e alegria a nossa missão. Deus nos privou de sua presença física, mas ele está muito presente com aquilo que ele significa para nossas vidas. Ninguém morre quando permanece vivo no coração das pessoas. E Pe. Dionísio está muito presente em nossa vida".
Embora transido de emoção, Pe. Gilberto Orsolin, na homilia, pronunciou o seguinte: "Sua partida deixa um vazio em nossos corações, em nossa família palotina e, de um modo especial, na Província e em toda a nossa Sociedade. Mas o consolo vem do Senhor, que disse: Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, não morrerá eternamente! Deus nos deu este presente e ele foi para nós uma graça com seu entusiasmo, com sua alegria, com sua jovialidade. Parecia, com seu jeito de trabalhar e de agir, que seu tempo era breve. Aproveitava muito bem o tempo. Fazia tudo com muita intensidade. Ele era uma grande esperança para nossa Província. Era um jovem maduro, com muitos amigos e amigas. Capaz de amizades profundas e duradouras. Tudo o que ele assumia, o fazia com muito entusiasmo. Por isso, ele encantava as crianças, encantava os jovens e encantava os adultos. Foi chamado ao sacerdócio e à vida religiosa e gostava muito de ser o que era. Era sempre muito atento às necessidades de sua família, à qual queremos deixar o nosso abraço e a solidariedade. Ele recordava sempre a sua origem e brincava conosco, dizendo: Eu sou de Barra Grande! Viveu pouco em anos, mas viveu muito em intensidade".
Após as palavras consoladoras e motivadoras do Bispo de Cachoeira do Sul, Dom Irineu Wilges, e antes de fazer a encomendação final, Pe. Francisco Bianchin quis expressar a dor de sua pequena comunidade paroquial pela morte do Pe. Dionísio: "Nós choramos todo o dia ontem. Se o Roberto Carlos, quando perdeu Maria Rita, chorava todos os dias, creio que nós temos o direito de chorar ao menos um dia. Choramos porque ele nos faz falta, porque a nossa casa vai ter um vazio. Choramos porque queríamos bem, pois ele se deixou amar e nós o amávamos muito. Ele sentiu e dizia isso. Ele era essa pessoa que nos ajudou muito com sua simplicidade, transparência e sinceridade."
Após a celebração eucarística, o corpo foi conduzido da igreja matriz de Vale Vêneto, em clima de silêncio e oração, ao cemitério da comunidade palotina, onde, junto com a terra, recebeu muitas flores e muitas lagrimas, expressões sinceras de amor sofrido, mas agradecido e confiantes na plenitude da vida prometida pelo Senhor a todos os que creem Nele!