Av. N. S. das Dores, 903 - Santa Maria - RS

(55) 3025-2277

(55) 3025-2266

Notícias

07/07/2024 - In Memoriam

Padre Frederico Schwinn (1868-1934)

PE. FREDERICO SCHWINN, SAC

Veio à luz do mundo na cidade de Zeil, na Baviera (Alemanha), em 1868. Seus pais: Adão Schwinn e Catarina Langhns. Entrou para a S.A.C. em Másio, onde fez seu Noviciado e, após este, a Filosofia e parte da Teologia na Universidade Gregoriana de Roma. Concluiu o curso de Teologia em Porto Alegre. Em 1892 aportava à nossa pátria em companhia de mais sete estudantes palotinos.

Neste mesmo ano, terminados os estudos, Deus The concedia, aos 24 de setembro, o sacerdócio. Ordenado por Dom Cláudio José Ponce de Leão, Bispo do Rio Grande do Sul, celebrou a primeira missa solene em Caxias do Sul. Com a ordenação sacerdotal, Pe. Frederico constituiu-se no primeiro sacerdote palotino ordenado no Brasil. "O Brasil - escreve ele - que Deus me destinou para o exercício do ministério sacerdotal e no qual me naturalizei".

... Tinha 24 anos de idade.

Superior interino, fechou o colégio de Vale Vêneto e abriu o de Tristeza, em 1896. Porque era sacerdote inteligente e virtuoso, foi designado reitor e mestre de noviços. Além disso, era pároco e, a partir de 1900, professor de Teologia. Construiu a igreja desse lugar. Foi Conselheiro de Pe. Giessier (1896-1903) e de Pe. Wimmer, tanto no período de Superior da Missão como de Provincial, isto é, de 1906-1919. Acompanhou Pe. Giessler à 2ª Assembleia Geral, em 1903.

Corria o ano de 1906. A Casa de Formação de Tristeza deixava de funcionar e Pe. Frederico foi nomeado pároco de Silveira Martins. A situação era-lhe pouco risonha, visto estar a paróquia em difíceis condições. Nela havia forte atuação maçônica, alguns protestantes, a igreja matriz mal construída, sem torre, e as alfaias velhas e indecorosas.

Apesar disso, Pe. Frederico, homem santo, sábio e de vontade inflexivel, deu-se ao trabalho, alegre e afoitamente, confiando mais que tudo em Deus. O primeiro intento foi a reforma e aumento da igreja matriz, que ficou concluída já no segundo ano, em 1908. Constitui beleza e admiração o altar- mor. Construiu, ainda, a torre, as capelas de Val Veronês, Santos Anjos, do Sacratissímo Coração e refomou a de São Roque, de São Valentin e de Pompéia (atual Santuário de Nossa Senhora da Pompéia), provendo-as de paramentos.

Recebeu e introduziu as Irmãs do Imaculado Coração de Maria, vindas por solicitação de seu antecessor, Pe. Schoenauer.


Pe. Frederico era ótimo orador. A homilia saía-lhe dos lábios viva, clara e fecunda; a argumentação era precisa e as explicações fáceis. Segundo ele afirmou, já na segunda-feira começava a pensar no que haveria de dizer no domingo. Preparava a homilia no escritório e a assimilava diante do Santíssimo, no Sacrário. Devia ser atraente sua palavra, pois os colonos muitas vezes repetiam entre si frases de seu sermão. Aos domingos a igreja matriz ficava repleta de gente que vinha cumprir o preceito dominical e ouvir o "sermão bonito do padre". À tarde, grande era o número de crianças para a catequese. O padre sabia mantê-las atentas com seu modo atraente, fácil, com histórias e comparações familiares. Depois da instrução, distribuía balas, santinhos e nozes, fazendo-se assim credor de estima e confiança.

Era pastor solícito. Cuidava diligentemente de suas ovelhas, visitando-as frequentemente nos seus lares, preocupando-se por suas necessidades e dando-lhes a bênção. A todos os que encontrava pelas estradas, muito cordialmente os saudava. Neste labor contínuo conseguiu aproximar muitíssimas pessoas da Eucaristia, conduzir muitas ao redil do Senhor, destroçar parte da maçonaria e afastar um pastor protestante, que, ao retirar-se, confessou ser o povo difícil de converter...

Pe. Frederico, tão fecundo no apostolado, tinha no coração ardente amor a Jesus Eucarístico e à Virgem. Gostava de enfeitar pessoalmente o altar com flores naturais, cultivadas por ele ou trazidas pelos paroquianos. Celebrava a missa com muita devoção. Trazia o terço ao pescoço, simbolizando sua entrega à Maria, beijava o crucifixo, mesmo durante palestra com alguém. Destas devoções hauria as forças para a total dedicação ao próximo.

O seu diário pessoal revela a resignação alegre com que se refere às viagens, ao frio, às chuvas apanhadas, ao reumatismo e à sua perna, doente desde 1917. Sofria sem manifestar aos outros, mostrando-se sempre alegre.

Ao romper a 1ª Guerra Mundial, porque era alemão, passou a ser vigário cooperador, e seu vigário cooperador, Pe. Valentim Zancan, pároco. Terminada a guerra, foi reintegrado.

No arquivo paroquial encontramos estas declarações: "O Revmo. Pároco sempre cumpre pontual e escrupulosamente as suas obrigações, e em tudo se mostrou digno de louvor. Há pouco mais de um ano que tomou posse desta freguesia e, entretanto, a ação benéfica do seu zelo se manifesta bem claramente e em toda a órbita dos deveres de seu cargo"... (Dom João Pimenta, Bispo Auxiliar do Rio Grande do Sul, dezembro de 1907). "Muito nos apraz louvar seu zelo incansável e pedimos a Deus Nosso Senhor lhe dê forças para continuar a obra começada. Muito nos alegrou o estado em que encontramos a igreja matriz que, terminadas as obras, será uma das melhores da diocese..." (Dom Miguel de Lima Valverde, 1ª Bispo de Santa Maria, 20 de maio de 1912).

Pe. Frederico exerceu o cargo em Silveira Martins durante 15 anos. Por sua entrega total em difundir o reino divino, abalou a própria saúde, que reclamava lugar menos cansativo. Por isso, em 1921 foi nomeado capelão do Colégio Santa Maria, dirigido pelos Irmãos Maristas, em Santa Maria.

Ali atuou como diretor espiritual, confessor e conferencista dos irmãos e dos alunos. Neste educandário distinguiu-se sobretudo como educador da juventude. Granjeou a simpatia e a amizade de milhares de alunos. Para todos tinha um coração amigo, pois sabia compreender e animar. Seu quarto era muito frequentado e ali se davam os encontros de coração a coração.

Em 1922 se deu início à construção do Seminário de Vale Vêneto. Lá estava Pe. Frederico, no dia do lançamento da pedra fundamental, como orador oficial. Falou ao grande número de pessoas presentes, durante meia hora, sobre a importância da obra e sobre o sacerdócio católico. Era o dia 02 de fevereiro de 1922.

Pe. Frederico foi, também, o grande propugnador da causa de beatificação dos três mártires rio-grandenses de Caaró e Pirapó. Como capelão dispunha de bastante tempo e dedicava-o em preparar assunto a respeito deles, para falar depois, em suas conferências, catequeses e sermões, ou, ainda, para escrever algum artigo. Compôs versos, em latim e em português, e publicou artigos e estampas dos mártires. Enviou a todos os bispos do Brasil e às Associações Religiosas circulares com um formulário de súplica à Santa Sé para que beatificasse nossos mártires. Em 1928, na data tricentenária de seu martírio, publicou, na "Rainha dos Apóstolos", 90 páginas referentes ao Pe. Roque Gonzales e seus companheiros, Pe. João Rodrigues e Pe. Afonso de Castilho. Representou o Brasil nos processos de beatificação, também iniciados em Buenos Aires, Montevidéu e Corrientes, no ano de 1929. E a beatificação deu-se aos 28 de janeiro de 1934.

Já em 1903, quando foi à Roma, a pedido do Pe. Teschauer, o pai da história do Rio Grande do Sul, procurou e achou o coração do Pe. Roque, conservado ainda intacto na Cidade Eterna. Ao lhe ser mostrada a comovente relíquia pelo Postulador da Companhia de Jesus - escreve Pe. Frederico - "concluímos, ele e eu, que era dívida de honra aos rio grandenses custear a causa da beatificação de seu primeiro apóstolo e mártir". Em 1942, a relíquia tão preciosa percorreu o Rio Grande do Sul. Sua devoção aos mártires rio-grandenses levou-o a acrescentar ao sobrenome de família o de "Gonzales" passando a assinar-se Frederico Schwinn Gonzales.

As últimas cartas que recebeu foram de congratulações por causa da beatificação. Escreveu-lhe o Pe. Inácio Valle, SJ: "V. Roma. foi, sem dúvida, o maior promotor, no Rio Grande do Sul, da causa desses heróis da fé" Pe. Luís G. Jaeger, S, autor da obra "Os heróis de Caaró e Pirapó", também escreveu-lhe, dizendo: "Congratulações... sendo que V. Revma. fez por eles mais do que ninguém"... E o Superior Geral da Companhia de Jesus: "Minha mais profunda gratidão por tudo o que fez para preparar a beatificação dos beatos Roque e seus companheiros" (15/03/1934).

Era a noite do dia 07 de julho de 1934, quando passou para a vida eterna, após vida exemplar e cheia de méritos, no Hospital de Caridade, em Santa Maria. No dia seguinte, desde as 8 horas, a capela desse estabelecimento conservou-se repleta de gente. Às 9h, o Exmo. Sr. Bispo, Dom Antônio Reis, celebrou missa de corpo presente, assistida com profunda tristeza. Às 15h30min, começou o desfile piedoso à Catedral, onde o Sr. Bispo fez a encomendação solene, ocupando o coro os Irmãos Maristas. Terminada esta cerimônia, dirigiu-se ao cemitério municipal o extenso préstito, onde foi sepultado Pe. Frederico. Segundo uma testemunha, "foi um dos três maiores enterros que eu vi"... Estiveram presentes ao ato quase todos os padres da diocese, representação do Seminário Diocesano, corporações religiosas, colégios e grande número de amigos, particularmente ex- paroquianos de Silveira Martins. Pe. Frederico tinha então 66 anos de idade e 42 de sacerdócio. Com muita razão podia ter-se dito: "Perdia o mundo, notadamente a Sociedade dos Palotinos, um grande homem. Homem que foi, em pleno sentido, um outro Cristo"...Das virtudes e boas qualidades que ornavam o coração do Pe. Frederico, destacamos as seguintes: piedade, humildade, caridade, alegria e sabedoria. O povo todo dizia ser ele santo.

 

Por Pe. Danilo Dotto, SAC