Notícias
Padre Ilvo Santo Roratto (1933-2009)
Todos foram surpreendidos com a notícia do falecimento do Pe. Ilvo Santo Roratto ocorrida na manhã do dia 13 de julho de 2009. Tinha-se conhecimento de que ele não estava bem de saúde, razão por que ele pedira aos superiores para deixar Belo Horizonte e vir para o Sul, contudo sua partida foi inesperada. Ele havia escolhido ser companheiro do Pe. Valmor Righi, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Deodápolis (MS).
Resgata-se aqui a sua história, baseado em dados descritos pelo próprio Pe. lIvo, para o conhecimento de todos.
1. Vocação e formação
Quanto a este ponto importante, nada melhor que ouvir o próprio Pe. Ivo: "Nasci no Passo da Laranjeira, em data de 21/11/1933. Sou filho de João José Roratto e Genoveva Buriol Roratto, brasileiros de nascimento, mas decendentes de italianos, vindos do Vêneto, norte da Itália. Sou o último dos onze filhos do casal. Meus pais de dedicavam à agricultura e pecuária, tendo terras de campo e terras de monte. No monte, a melhor terra, produzia milho, feijão, fumo, trigo e cana de açúcar. Dos canaviais, saía uma gostosa pinga da marca Vamos Tomar. Trago da infância saudosas lembranças do meu rincão: da família católica, dos serões animados, das cantigas italianas, das festas de igreja, das carreiradas de cancha reta, das minhas proezas de menino me adestrando no tiro de laço.
Fui alfabetizado em Escola Rural, mantida pelas famílias da comunidade. Frequentei a escola paroquial de São João do Polêsine, a cargo do Seminário Vicente Pallotti. Dali partiu minha vocação. Menino ainda, ingressei no Seminário Rainha dos Apóstolos em 1947."
Ele mesmo conta que, entusiasmado pelo Pe. Agostinho Roratto, que era seu parente, pensou em ser padre e entrar um dia no Seminário de Vale Vêneto.
2. Formação ordinária
Fez seus estudos primários, de 1944 a 1947 em São João do Polêsine (RS) e os estudos secundários no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Vale Vêneto (RS), de 1947 a 1952.
Completado o curso secundário, em 02/02/1953, ele começou o ano de noviciado no Noviciado Santo Alberto, em Augusto Pestana (RS), onde esteve até 02/02/1955, quando fez a sua primeira consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico.
No segundo ano de noviciado, em 1954, começou o seu curso de Filosofia que completou no Seminário Maior, em São João do Polêsine, em 1956. Pe. Ilvo passou o ano de 1957 em Faxinal do Soturno (RS), onde foi nomeado professor do primário. Deve a esse tempo a inspiração dos seus primeiros versos, como o canto popular:
Palotino cem por cento!
Me nasceu desde pequeno Esta ideia que alimento.
Quando completei dez anos, Ingressei no Vale Vêneto.
Era Deus quem me chamava
Pro maior dos seus inventos, Me chamava pra ser Padre:
Palotino cem por cento!
Uma coisa fui tenteando com grande arrebatamento.
Me tornar da Virgem Santa Seu legitimo instrumento.
Ser outro Jesus na terra, dando às almas seu sustento, ser um Santo Sacerdote:
Palotino cem por cento!"
Em 1958 começou os estudos teológicos no Colégio Máximo Palotino. Dia 09 de julho de 1961, na cidade de Ivorá (RS), foi ordenado presbítero. pela imposição das mãos de Dom Luís Victor Sartori.
Além da formação ordinária, o Pe. Ivo fez licenciatura em Filosofia, na Faculdade Imaculada Conceição, de Santa Maria, além de muitos outros cursos específicos.
3. Apostolado
Seu primeiro campo de trabalho foi o Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria, onde esteve de 1962 a 1965, acompanhando e orientando os alunos do segundo grau que deixaram São João do Polêsine e vieram para Santa Maria. Eles moravam no Colégio Máximo Palotino, mas tinham as suas aulas no vizinho colégio dos maristas, no Cerrito.
Em 1965, em Santa Maria (RS), Pe. Ilvo foi diretor da Pia Obra dos Cooperadores Palotinos e Procurador Vocacional. Mesmo com esse trabalho, no ano de 1966, fez quatro meses de estudos no Rio de Janeiro, frequentando o Instituto Superior de Pastoral Vocacional.
Naquele ano, foi transferido para Porto Alegre, sobre cujo trabalho ele mesmo escreveu: "De 1966 a 1970, coordenei o Departamento de Vocações e Juventude na CNBB e CRB em Porto Alegre. De 1970 a 1973, coordenei o Escritório Regional da FASE, em Porto Alegre, e criei o Centro de Integração Comunitária, ministrando mais de cem cursos-treinamento de criatividade comunitária, na SEC, colégios e municípios gaúchos.
Em 1974, a Província assumiu uma Missão, no Amazonas, e o seu primeiro missionário foi o Pe. Ilvo Santo Rorato. Em 1974, ele deixou o Rio Grande do Sul e começou uma nova etapa da sua vida no Amazonas.
Em Manaus, no dia 07 de março, junto com os padres Elói Roggia e Nelsi Zamberlan (Peca), assumiu a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, chamada de Santuário de Fátima. Além de Pároco, foi também Capelão dos Escoteiros do Amazonas.
Em 1975, foi também Diretor da Comissão de Obras para a conclusão do Santuário de Fátima. Em 1976, como Pároco, foi também Coordenador da Missão na Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). O seu trabalho missionário começou em grande pobreza, mas, com muita alegria e doação, produziu também bons frutos.
Em 1977, Pe. Ilvo foi eleito Superior da Provincia Nossa Senhora Conquistadora e, no começo de janeiro de 1978, deixou Manaus e veio para Santa Maria, onde está a sede da Provincia. Durante os seus três anos de Provincial, além de visitar todas as casas e comunidades da Província, teve a oportunidade de viajar para muitos países.
Ao terminar o seu ofício de Superior, Pe. Ivo não retornou para Manaus, mas foi mantido no Rio Grande do Sul. De 1981 até 1984, administrou a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Cruz Alta, e também foi membro do Conselho Provincial em Santa Maria. Em Cruz Alta, com o Grupo Gente da Terra, participou da Coxilha Nativista, concorrendo com a letra "Velha Sesteada" que, depois, foi premiada no Festival de Santa Bárbara.
Em 1985, Pe. Ilvo pediu para deixar Cruz Alta e foi para o Nortão do Mato Grosso, como escreve: "Com saudades da Amazônia, em 1985, voltei às Missões, desta vez no Mato Grosso, em Juína. Quatro vezes por ano, percorria o sertão verde do Nortão do Mato Grosso, organizando comunidades, visitando aqueles pioneiros da floresta, onde hoje se assentam seis municípios".
Em 1988, Pe. Ilvo recebeu sua transferência para Ariquemes, no Estado de Rondônia, e foi auxiliar na Paróquia São Francisco de Assis, e na Paróquia São Luiz Gonzaga, em Porto Velho, Rondônia.
Em 04 de setembro de 1988, ele assumiu a Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, em Alto Paraíso, onde esteve durante seis anos num lugar assim descrito por ele mesmo: "Lugar novo, sertão com abertura das matas e garimpos de cassiterita. Povo migrante, sofrido, lutando pela sobrevivência, em meio à malária. Além do atendimento paroquial, visitas e formação catequética, incentivei o amor a terra e a inculturação ao meio ambiente, apoiando experiências de roças coletivas".
Em 1994, Pe. Ilvo deixou Rondônia e veio para Dourados, Mato Grosso do Sul, para a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, onde esteve até o fim de 2000, quando foi transferido para Belo Horizonte, onde esteve até o começo de março de 2009.
Com o tempo, Pe. Ilvo começou a sentir as suas debilidades físicas e pediu aos seus Superiores para retornar ao Sul e, se possível, para o Mato Grosso do Sul. Escolheu a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Deodápolis, junto com o pároco Pe. Valmor Righi, o que fez a partir de começo de março de 2009.
4. Trabalho poético e literário
Sua estada em Dourados despertou e desenvolveu nele novos dotes. Ele mesmo, em agosto de 1996, descrevia o que significou para ele deixar Rondônia e estar na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Dourados (MS):
"Em 1994 recebi transferência para Dourados. Foi uma mudança significativa, de um ambiente primitivo para uma cidade evoluída e progressista. Na paróquia de Fátima, comecei nova atividade: escrever poemas e compor canções. Celebrando o bicentenário do Fundador São Vicente Pallotti (1795-1995,) publiquei o livro A Vinha Amada - cantai-a, poesias sobre o Fundador e sua Obra. Depois, o livro Horizontes e Caminhos, releitura em versos dos Documentos Terceiro Milênio e Diretrizes Pastorais. Com o grupo vocal Os Peregrinos já gravamos quarenta canções e três k7. Sou o letrista do grupo. Associei-me à Ordem dos Músicos do Brasil sob o n° 608-95".
Em 02 de março de 2001, Pe. Ivo continuou a apresentar sua produção em Dourados e em Belo Horizonte:
"Continuando minha atividade literária, em julho de 1997, publiquei o livro O Verbo Saído do Silêncio, poemas em homenagem aos dois mil anos de Jesus Cristo, o Filho de Deus, cuja primeira edição está esgotada.
Nesse mesmo ano, em setembro, por ocasião do aniversário da Academia Douradense de Letras, fui admitido como confrade, tendo a cadeira 22 e como Patrono o Pe. José Daniel, SAC, meu distinto colega, pioneiro das missões palotinas do Mato Grosso do Sul, em Amabaí e na Colônia Federal. No ano 2000, por motivo da celebração dos 150 anos da morte do santo Fundador dos Padres Palotinos, São Vicente Pallotti, editei o livro Poemas para um Carisma, edição patrocinada pela Sociedade Vicente Pallotti, Gráfica Pallotti, de Santa Maria (RS):
Pe. Ilvo foi também grande amigo do Diácono João Luiz Pozzobon, ao qual dedicou o livro A Maravilhosa Obra de um Homem a Pé, todo ele escrito em belos versos. Era também defensor fervoroso da Campanha do Terço da Mãe e Rainha e da Obra Internacional de Schoenstatt.
5. Falecimento e despedida
Desde a sua chegada à Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Deodápolis, em março de 2009, Pe. Ilvo começou a sentir a debilitação do seu coração que o tanto impedia de sair de carro para visitar capelas como de descansar com tranquilidade. Ele mesmo começou a sentir a chegada de sua partida sem retorno.
No sábado, dia 04 de julho de 2009, após a sua última missa na igreja matriz, ao sair da sacristia, disse baixinho a um grupo de senhoras: "Para este lugar não volto mais".
Na segunda-feira, dia 06 de julho, ao falar para uma senhora que lhe desejava saúde e lhe dizia que tivesse muita fé, Pe. Ilvo lhe disse: "Quem manda mesmo é Deus, e eu estou pronto para tudo". Ainda naquele dia, quando viajava com Pe. Valmor Rigui para Dourados, lhe dizia: "Em tal lugar do meu quarto se encontram os documentos, se deles precisar".
Em Dourados, na sala de espera do Hospital do Coração, disse a uma senhora da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, que o acompanhava:
"Aqui vou ficar por breve tempo!". E essas foram as últimas palavras ditas pelo Pe. Ilvo.
No Hospital do Coração, foi atendido pelo mesmo médico que, há doze anos atrás, fizera nele uma cirurgia. Os médicos tentaram reanimar seu coração, mas nada conseguiram. Pe. Ilvo faleceu, às 18h do dia 07 de julho de 2009.
O seu atestado de óbito, firmado pelo Dr. Alessandro Santo Thies, tem a causa da sua morte: choque cardiogênico - infarto do miocárdio - artereosclerose difusa - hipertensão arterial sistêmica.
O corpo do Pe. Ilvo foi velado na igreja Nossa Senhora Aparecida, na qual ele rezou a sua última missa e o prefeito de Deodápolis, Manoel Martins, decretou luto oficial de três dias no município. A maior parte do município quis ver o corpo do falecido e rezar por ele, o que aconteceu desde a chegada do seu corpo até a sua partida para o Cemitério de Fátima do Sul.
Nas primeiras horas da tarde do dia 08 de julho, na matriz, houve uma grande celebração eucarística de despedida, presidida pelo Bispo de Dourados, Dom Redovino Rizzardo, com o seu Bispo Emérito, Dom Frei Alberto Först, e com a participação de muitos padres de diversas cidades do Mato Grosso do Sul, de muitos religiosos e sobretudo de muito povo cristão proveniente de muitas paróquias e capelas, já que o falecido era muito conhecido e estimado no Mato Grosso do Sul.
Feita a solene despedida de Deodápolis, o corpo foi conduzido ao Cemitério Fátima do Sul (MS), onde se acha o novo jazigo dos Palotinos que guarda os corpos do Irmão Odone Pedro Milanesi (1923-1994), do Pe. Antônio Segatto (1926-2006), do Pe. Aquiles Pio Redin (1925-2008) e, agora, do Pe. Ilvo Santo Roratto (1933-2009).