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Padre João Zanella (1883-1955)
Em Ivorá, mais precisamente junto à Capela São Valentim do Guarda-Mor, nasceu Pe. João Zanella, a 24 de setembro de 1883. Estudou em Vale Vêneto em 1895 e em Tristeza em 1896. Vestiu o hábito da S.A.C. com 17 anos, no dia 08 de dezembro de 1900. Continuou os estudos para ser ordenado sacerdote a 30 de novembro de 1909.
Padre novo, com 26 anos, desenvolveu seus primeiros trabalhos em Arroio Grande, como vigário cooperador, nove meses somente, mas deixou claros vestígios de sua presença.
Em setembro de 1910 foi nomeado pároco de São Luís da Casca - RS. Foi ali que, de uma feita, andou 32 horas a cavalo para visitar doentes, com duas horas de descanso apenas. Atendia à igreja matriz e 40 capelas: ação extraordinária e sacrificadora. Nesta operosidade trabalhou pelo espaço de dez anos. Passou daí para Nova Palma, em 1921.
Nova Palma conserva ainda os restos mortais deste padre, que por ela viveu 34 anos. Merecidamente pode ser chamado de um padre zeloso e dado inteiramente à sua missão.
Em Nova Palma sucedeu ao Pe. Burmann, tomando posse, com toda a solenidade, a 10 de janeiro de 1921. Pe. João continuou não perdendo tempo e trabalhando sem horário. De seus trabalhos destaca-se a nova igreja matriz. Além disto, promoveu a construção de capelas e escolas. Construiu as capelas de Novo Paraíso e Linha Base (hoje São Francisco), e o Colégio das Irmãs Palotinas: Escola Nossa Senhora Mediadora.
Além do bem espiritual, interessaram-no sumamente a saúde, o progresso e o bem-estar de seus paroquianos. Lutou para a edificação do hospital, animou as instalações elétricas e telefônicas e todas as obras sociais.
Por ocasião de seu jubileu de prata sacerdotal, os paroquianos ofereceram- lhe uma barata Ford e outros numerosos presentes. Por seu trabalho por sua vida, fez com que todo o povo da paróquia lhe devotasse uma extraordinária consideração. Consideração esta que perdura na saudade, nos louvores, nos comentários daqueles antigos paroquianos. Com sentimento profundo acompanharam-no em sua doença. Pe. João foi atacado de arteri-oesclerose e entregou sua alma a Deus a 19 de novembro de 1955. O povo, hoje, ao relembrar os anos frutuosos e o admirável trabalho dos palotinos, personificam a estes no Pe. João. Tinha 72 anos de idade e 46 de sacerdócio.
Por Antoninho Stefanello
Pe. J. Zanella era um gênio aberto às ciências. Além do trabalho pastoral, dedicava-se ao estudo da química, física e, mais tarde, da radiofonia. Foi em São Luís da Casca que inventou o "canhão da paz", para substituir os morteiros que tonitruavam as festas religiosas. Para os italianos, festa religiosa sem banda de música, bimbalhar de sinos e sobretudo tiros e explosões, não era festa.
Em Nova Palma, Pe. João deu continuidade à obra de seu antecessor (Pe. Burmann), com todas as qualidades e o elã de sua juventude.
Irradiava permanente alegria e sabia, como ninguém, infundir confiança e esperança. "O sorriso nunca deixava seus lábios. Jamais a luz da alegria desertava seu rosto bonachão" (Al Baggio, "Rainha", jan/1987).
A paróquia conheceu um progresso admirável sob sua administração. A nova igreja matriz foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1927, merecendo de Dom Ático Eusébio da Rocha estas palavras: "A igreja matriz, recentemente construída, é um majestoso e belo templo, que proclama exuberantemente o zelo do Revmo. Vigário (Pe. João) e a generosidade do bom povo desta paróquia".
Outra obra de vulto do Pe. João foi a renovação da casa paroquial, assim descrita por Dom Antônio Reis: "Com a reforma que a casa paroquial sofreu, e está apenas ultimada, tornou-se uma das melhores e maiores de seu gênero na diocese..."
Um dos mais belos florões que enaltece Nova Palma é ter sido ela "uma das pioneiras das vocações sacerdotais; esta é a maior benemerência, e continuará a fornecer filhos para o sacerdócio" - segundo Dom Antônio Reis.
Ardoroso devoto de Maria, Pe. João construiu na encosta do monte a gruta de Nossa Senhora de Lourdes, que logo se tornou centro de peregrinação, de preces, de conforto e de esperança do povo e também foco irradiador de autêntica vida cristã. Sua inauguração ocorreu no dia 02 de julho de 1940.
Ao longo de seus anos de paroquiato, ele teve como colaboradores os PP. Lamberto Pancratz, Antônio Bombassaro, Francisco Cassol, Aldemar Ferrari, Belino Costa Beber, Aquiles Rossato, Vitélio Trevisan e Eduardo Dagiós - alguns desses que como seminaristas costumavam passar férias com Pe. João, em Nova Palma - "semanas inesquecíveis", diz Bonfada que também era da turma.
Pe. J. Zanella também primou como agricultor inteligente e inigualável nos trabalhos da lavoura. Atrás da casa paroquial estendia-se, encosta acima, uma pequena chácara, onde cultivava de tudo, desde hortaliças até parreiras, passando pelo milho, feijão e mandioca. Ele mesmo a capinava, podava as árvores, fazia o vinho, carneava os suínos, suando em bicas pela fronte larga e pelo corpo vigoroso.
"Contemporâneo do famoso cientista e inventor Pe. Landell de Moura, na década de 1920, mesmo antes que o nosso Estado dispusesse de estações de rádio, Pe. João, encantado com o milagre das comunicações espaciais, através das hondas hertzianas, escutava, à noite, mensagens vindas de longe. O povo mal podia imaginar o que se passava entre o Pe. João e o seu aparelho receptor de rádio. Seria algum rito diabólico? - desconfiavam os supersticiosos, ao vê-lo ajaezado com aqueles aparelhos de escuta ao redor da cabeça... Foi também fotógrafo amador. Não só batia chapas, mas também as revelava, retocando-as se fosse necessário" (Al Baggio, idem)...
Toda esta vida de total integração com seu povo fez com que todos os paroquianos o sentissem como irmão, em tudo igual a eles, na simplicidade, no trabalho, no ardor de um coração de santo. (Pouco depois de sua morte a Paróquia de Nova Palma passou ao clero diocesano).
Por Pe. Genésio Bonfada, SAC