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Padre Jorge Albino Zanchi (1903-1982)
No dia 02 de setembro de 1982, aos quase 55 anos de sacerdócio e 79 de vida, faleceu Pe. Jorge Albino Zanchi, S.A.C. Nascido em Silveira Martins, aos 10 de janeiro de 1903, era filho de Tertuliano Zanchi e Adelina Niederauer Zanchi. O primeiro de uma família de cinco irmãos, dentre eles também o Pe. Rômulo Zanchi, S.A.C., já falecido.
Quando os palotinos no Brasil eram apenas uma pequena semente lançada à terra, ele acreditou. Em 1915 entrou no pequeno Seminário de Vale Vêneto, que era a casa paro-quial. Fez os estudos primários no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, sempre acompanhado pelo prestimoso Ir. Simão. Tanto o Jorge como seus outros companheiros fizeram os estudos ginasiais no Seminário de São Leopoldo. O Noviciado o fez em Rocca Priora, próximo à Roma, em 1921. Cursou Filosofia e Teologia em São Leopoldo, de 1922 a 1927. Finalmente, no dia 27 de dezembro de 1927, em meio a grande júbilo, era ordenado sacerdote palotino em Vale Vêneto, por Dom Ático Eusébio da Rocha.
No dia 02 de setembro de 1982, eram 18h, quando, por uma falha do coração, rapidamente nos deixou. Tendo sido velado na Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria, concelebrou-se aí, às 15h, missa exequial, presidida por Mons. Floriano Cordenonsi, representante dos Exmos. Srs. Bispos da diocese, acompanhado por quase 30 sacerdotes concelebrantes, e com a presença de muito povo. Após isso, foi levado a Vale Vêneto. Aí, na Igreja Matriz que tanto servira e ajudou a embelezar com o lindo átrio, foi celebrada novamente a missa exequial, presidida pelo Pe. Provincial e mais 29 sacerdotes concelebrantes, com a presença dos seminaristas, muito povo e familiares do Pe. Jorge, entre os quais o Exmo. Sr. Prefeito Municipal de Santa Maria, Cel. Getúlio Mário Zanchi, irmão do falecido, e exma. esposa.
Foi um sacerdote ativo, inteligente, questionador, empreendedor, zeloso, despojado de tudo, sempre a serviço da comunidade. Desde 1929 a 1944, exceto 1930, passou em Vale Vêneto como coadjutor e pároco, exercendo, simultaneamente, a missão de professor e educador no Seminário Rainha dos Apóstolos. Para lá retornou novamente em 1952-1953. Em três oportunidades trabalhou na Paróquia do Divino Espírito Santo, em Cruz Alta, como coadjutor, em 1930 e 1945, e como pároco, de 1954-1955.
Foi também coadjutor em Novo Treviso, de 1956 a 1959. Em seu trabalho com os jovens, Pe. Jorge foi muito querido. Sua bondade atraía a todos. Continuou sua missão de educador, como professor no Seminário Maior de Polêsine, de 1947-48, e, nesse tempo, atendia também à capela do lugar. Para lá voltou novamente como coadjutor, em 1972.
Nos anos de 1949-51 foi professor no pensionato de Faxinal do Soturno e ao mesmo tempo dava atendimento à capela local. De 1960-70 exerceu a missão de capelão do Colégio do Rosário, em Porto Alegre. Foram dez anos de acompanhamento, de presença junto à juventude.
Manifesta-se agora o servo dos enfermos. De 1972-78 foi a Tupanciretã, exercendo aí, com grande amor e zelo sacerdotal, a missão de capelão do Hospital Brasilina Terra, dispondo-se sempre a auxiliar o pároco da cidade. Foi daí que, faltando-lhe já as forças, veio morar na comunidade da Casa de Retiros, onde permaneceu até sua morte.
Além de seu intenso trabalho pastoral, Pe. Jorge nos deixou um grande legado artístico. Muito deve a música sacra do Brasil ao seu talento e empenho. Muitas foram as liturgias abrilhantadas com sua polifonia, melodicamente rica e composição perfeita. Muito há para ser descoberto em sua vasta obra musical. Numa primeira análise constatamos: 37 missas de uma a cinco vozes; 453 cânticos, canções, antífonas, ofertórios, hinos bíblicos, polifonias eucarísticas, cantos marianos, salmos, etc...
Compôs grandes obras para coral e orquestra como: a Morte de Cristo (oratório); a Ceia do Senhor; Cântico do Sol; a Vinda do Espírito Santo; a Tempestade de Mar da Galiléia; Os Imigrantes (cantata); a Rainha Branca (opereta infantil) e vários outras obras. Só um estudo aprofundado poderá revelar a fecundidade e a profundidade desta alma de artista.
Em seus últimos anos foi entre nós, na comunidade do Retiro, uma presença amiga e simples. Era uma alegria ouvi-lo contar histórias passadas. Cheio de fé, com grande aceitação das limitações que a doença lhe impunha, obrigando-o à amputação da perna, não perdeu o bom humor. Nos últimos dias preferia ficar só, em silêncio. O músico preferia ouvir a música de sua catedral interior. Morreu em paz, tranquilamente, como viveu seus últimos anos.
Por Loadi Stefanello