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Notícias

29/07/2024 - In Memoriam

Padre José Stefanello (1914-2004)

 

Ao amanhecer do dia 29 de julho último, no Hospital de Caridade, em Santa Maria, faleceu o Pe. José Stefanello que é, sem dúvida, um dos grandes beneméritos da nossa Província Nossa Senhora Conquistadora. Embora de estatura pequena, ele foi um gigante: gigante não só na fé e na caridade como também nos trabalhos em favor da Província, e do Reino de Deus. E quase uma temeridade tentar descrever o que ele foi para os Palotinos no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul. Foi verdadeiramente um bandeirante no apostolado. Abraçou o sacerdócio imbuído de um grande ideal apostólico e, com tal espírito, também o viveu até o fim.

  

1.  Família

Pe. José nasceu em Nova Palma (RS) aos 31 de julho de 1914. Filho de Alexandre Stefanello e de Josefina Zanon Stefanello, é o quarto entre seis irmãos e cinco irmãs. Um de seus irmãos, Bonfilho, também foi padre palotino.

Entrou no Seminário de Vale Vêneto, com apenas onze anos de idade, em 1925. Em Vale Vêneto (RS), fez seus estudos primários no Colégio das Irmãs do Coração de Maria e no Seminário Menor Rainha dos Apóstolos. Fez o curso ginasial no Seminário Diocesano de Santa Maria (RS) e o noviciado palotino sob orientação do Pe. Casimiro Tronco, em Vale Vêneto, em 1934- 1935. Estudou Filosofia no Seminário Central de São Leopoldo (RS), dirigido pelos Jesuítas.

Em 1939, ingressou na Universidade Gregoriana em Roma, onde tez seus estudos teológicos. Em 07 de março de 1941, recebeu o subdiaconado; em 07 de junho, o diaconado e, no dia 13 de julho daquele mesmo ano, a ordenação sacerdotal. Cantou a sua primeira missa em Ceggia, no Vêneto, terra dos seus antepassados. Por causa da Segunda Guerra Mundial, não pode continuar os seus estudos e obter o doutorado em Teologia e, no dia 25 de novembro de 1941, deixou Roma e voltou para o Brasil.

 

2.  Educador

Em 1942, voltando de Roma, Pe. José foi para São João do Polêsine trabalhar no Seminário Maior Palotino, exercendo a função de ecônomo do seminário e de coadjutor do Pe. Casimiro Tronco. Em 1943 e 1944, atuou também como professor de Filosofia e diretor espiritual. No ano seguinte, mudou-se para Vale Vêneto, onde trabalhou como professor e ecônomo no Seminário Menor Rainha dos Apóstolos. De 1947 até 1951, exerceu a função de Mestre de Noviços em Augusto Pestana (RS). Como mestre, fez um grande trabalho com os noviços, introduzindo-os na espiritualidade Palotina e mariana e também no Movimento Apostólico de Schoenstatt. Naquela época, o clima do noviciado era impregnado da espiritualidade mariana de Schoenstatt.

Notável foi o grupo dos noviços de 1947 e 1948, o Curso Imaculada, do qual faziam parte Félix Albino Pillon, Gentil Lorenzoni, José Giuliani, Eduardo Dagiós, Osvaldo Viegas, José Pascoal Busato, Cláudio Stefanello e outros... A eles, e também aos subsequentes, Pe. José expôs de forma brilhante os princípios fundamentais do apostolado católico, tanto assim que, no final do curso, os noviços se interessaram pela sua publicação do mesmo em "Informações Palotinas". No prefácio da publicação, Pe. José escrevia: "Para começar a secundar, também da nossa parte, este grande desejo de nossos superiores, iniciamos uma série de conferências sobre o tema Princípios Fundamentais do Apostolado Católico. Depois de terminar estas instruções, os noviços de 1947, do Curso Imaculada, insistiram comigo para que lhes permitisse a publicação deste trabalho" (Noviciado, Festa da Imaculada, 08/12/1947).

  

3.  Construtor

Como se descreveu anteriormente, "Pe. José foi um gigante, embora de pequena estatura física. Esta qualidade lhe garantiu a escolha de coordenador da construção do seminário maior palotino em Santa Maria (RS). Nesse serviço, mostrou-se, de fato um gigante. Na expressão do grande tribuno Adroaldo Mesquita da Costa, os padres Palotinos do Rio Grande do Sul, perante grandiosa obra, mostraram que tinham confiança na Divina Providência. Sem esta fé e confiança, não podiam enfrentar tamanha ousadia.

A pedra fundamental do seminário foi benta e lançada no dia 17 de abril de 1953. Sem perder tempo e entusiasmo, graças ao trabalho do Reitor Provincial da época, Pe. Benjamim Ragagnin, e à força do incansável Pe. José e contando também com a ajuda das máquinas da Prefeitura de Santa Maria, cedidas pelo então prefeito Heitor Campos, e da viação férrea do km 03, a grande e ousada obra começou a tomar vulto.

Para ter os tijolos para a construção do seminário, Pe. José comprou um caminhão e montou, no Patronato, uma olaria, que também deu início à atual Cerâmica Pallotti. Com esses auxílios e com sua força de vontade, o grande projeto foi construído. Podemos dizer que a Casa de Retiros teve também a sua influência na construção do Seminário Maior.

No fim dos retiros, os participantes eram levados a ver o andamento do grande projeto. A maioria deles eram pais de família que tinham também ajudado na construção da Casa de Retiros. Os padres Celestino Trevisan e Dorvalino Rubin, pregadores dos retiros, não perdiam a ocasião de falar-lhes do seminário e das vocações Palotinas e registrar, todos os meses, através de fotografias, o andamento da obra.

A obra ia subindo a olhos vistos. Parecia até um milagre, um toque de mágica. No final de 1953, já estavam prontos os dois primeiros andares e, no final de 1954, estava concluído o quarto. Pe. José estava até pensando em construir um quinto andar. Mas, ao reunir-se, a Direção Provincial não aprovou a arrojada ideia, pois cria que quatro andares eram suficientes para ser o Seminário Maior Palotino Sul-Americano.

 

4.  Missionário no Mato Grosso do Sul

Em maio de 1954, os Palotinos assumiram a grande Missão do Mato Grosso (na atual região do Estado do Mato Grosso do Sul). Assumiram a paróquia de Amambaí, cujo primeiro pároco foi o Pe. Luiz Vendrúscolo. Para atender a Amambaí e também à Colônia Federal de Dourados, eram necessários mais missionários. O Conselho Provincial viu-se numa encruzilhada: ou abandonar a missão há pouco iniciada, ou apelar para outros generosos e destemidos missionários. A direção da Província fixou-se no Pe. José Stefanello e resolveu enviá-lo à missão. Assim ele não pode ver concluída a sua grande obra em Santa Maria (RS).

O Pe. José conformou-se com a decisão da Direção Provincial, aceitando, não sem lágrimas e dor, sua indicação como missionário na extensa Paróquia de Amambaí (MS). Esse novo campo de trabalho mudou completamente sua vida. Agora, com o mesmo empenho e entusiasmo que demonstrara na construção do Seminário, procurou ser missionário de fato e servir com generosidade ao povo a ele confiado.

Nesse trabalho apostólico, deu tudo de si, sempre com muito zelo pelas pessoas. Fez muito bem aos paroquianos, entre os quais havia muitos índios. Domou muita gente "xucra", trazendo-a para a igreja. Cavalgando sua mula gateada, ia pelas matas e pelos campos abertos, procurando atrair para Cristo os arredios... Ele mesmo disse, mais tarde, que foi uma grande aventura doar-se àquela gente desprovida de letras e de fé cristã. Permaneceu no Mato Grosso até 1957.

 

5.  Missionário no Paraná

Embora o Paraná não fosse um território de missão propriamente dito, quando lá chegou o Pe. José tudo estava apenas iniciando, também em termos de Igreja.

Era um período de colonização e de chegada de muitos imigrantes provenientes do sul, do centro e do nordeste do País.

Iniciou seu trabalho em Guaíra, onde foi pároco por apenas um ano. Em 1958, os palotinos assumiram a paróquia de Iporã, onde quase tudo estava por fazer. O Pe. José assumiu como pároco a extensa paróquia onde tudo estava por fazer: a igreja matriz, as capelas, o salão paroquial, o colégio. Começou logo a construir o que era mais necessário: a igreja, as capelas, o colégio. As construções foram feitas, em grande parte, nos anos de 1959 e 1960.

A comunidade cristã também crescia na consciência do bem e tornava-se sempre mais atuante. O povo possuía quase tudo para ser feliz. e realizado. Todas as forças vivas da paróquia caminhavam de acordo com as orientações dadas. Mas, também aqui, Padre José não logrou colher os frutos esperados, visto que, no início de 1963, recebeu outro grande campo de trabalho, Palotina (PR).

De 1963 a 1968, ele trabalhou em Palotina. Ali também tudo estava no começo, e a comunidade passava por uma situação difícil e insegura, provocada pela luta entre a Companhia Colonizadora de Pinhos e Terras e o Governo do Paraná. Padre José ajudou muito os colonos ameaçados de perderem as terras adquiridas com grandes sacrifícios. Ele foi não só um bom pastor espiritual, mas também um grande defensor dos pequenos agricultores, muitos dos quais voltaram, decepcionados, para seus lugares de origem.

Além do grande trabalho paroquial, padre José foi chamado a coordenar o começo da construção do Seminário Menor São Vicente Pallotti. Além do trabalho na construção do seminário, ele construiu uma pequena usina elétrica para o seminário e ajudou na construção de uma usina maior no Rio Azul. Padre José permaneceu em Palotina até o fim de 1968. Depois de trabalhar incansavelmente em Palotina, tanto na paróquia como na construção do seminário, os superiores o transferiram para Iporã, onde permaneceu até 1972.

Em 1972, assumiu a paróquia de Francisco Alves (PR), desmembrada daquela de Iporã, e nela permaneceu até 1990. Nela novamente mostrou sua vontade e habilidade em construir. Construiu a igreja, o salão paroquial e três pavilhões para atender às necessidades da paróquia e das comunidades neocatecumenais, que foram especialmente atendidas e acompanhadas por ele. Vivia muito pobremente, desconhecia o luxo e o supérfluo, sempre disposto a acolher e a ajudar.

Francisco Alves foi o lugar onde Pe. José ficou mais tempo e, certamente, onde deixou também sua marca mais profunda. Sua predileção pelas comunidades neocatecumenais levou-o a tornar-se, por mais de dez anos, catequista itinerante a serviço da formação e da animação de tais comunidades. Como tal atuou em todo o Brasil, principalmente no Paraná, em São Paulo, em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul.

 

6.  Doença

No início dos anos noventa, Pe. José, com sérios problemas de saúde, passou a residir no seminário de Palotina, onde permaneceu até o início de 2003, quando, muito debilitado e atingido pela doença de Alzheimer, foi trazido para Santa Maria (RS), passando a viver na comunidade do Patronato, onde esteve até seus últimos dias.

Foi sempre acompanhado pelo seu irmão, Pe. Bonfilho, que se lhe dedicou por inteiro e com muito carinho o acompanhou. Pe. José não tinha condições de reconhecê-lo como seu irmão, mas apenas como companheiro, sem o qual, porém, não podia estar.

O ano de 2004 foi o mais difícil e desgastante para ele. Devido à sua enfermidade e aos seus quase noventa anos, foi-se enfraquecendo até que, no dia 29 de julho de 2004, às 6h30min da manhã, faleceu no Hospital de Caridade de Santa Maria.

Seu corpo foi velado na capela da Casa de Retiros, onde se encontravam os confrades do Rio Grande do Sul em seu retiro anual. Às 18 horas, foi celebrada a Eucaristia, presidida por Dom Ângelo Salvador, bispo de Uruguaiana, pregador do retiro, e concelebrada por todos os padres que participavam do retiro (em torno de quarenta) e com a presença de familiares, religiosas e amigos.

Às 9 horas do dia 30, seu corpo foi levado para Vale Vêneto, onde, às 10 horas, houve celebração eucarística presidida pelo Pe. Ademar Figuera, Reitor Provincial, e concelebrada por Dom Ângelo Salvador e por mais de trinta padres junto com parentes e amigos. Na homilia, Pe. Valdemar Munaro salientou o exemplo de fé e de serviço deixado pelo Pe. José. Disse que Pe. José não guardou nada para si. Entregou tudo o que era e tinha.

Entregou-se totalmente no seguimento de Jesus Cristo e no serviço à Igreja. Após a missa, o corpo foi sepultado no Campo-Santo da Província. Pe. José marcou a vida da Família Palotina e das comunidades onde viveu e trabalhou, especialmente por seu espírito de fé, por sua devoção mariana e por seu espírito empreendedor.