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Padre Rafael Iop (1882-1947)
O menino que seria um dos maiores palotinos do Brasil, nasceu em Vale Vêneto, aos 22 de junho de 1882, dos pais Atílio e Stella lop.
Enfileirando-se cedo entre os palotinos, foi estudante em Tristeza e Porto Alegre. Foi ordenado sacerdote com 24 anos, a 13 de maio de 1906. Seu primeiro apostolado fê-lo em Belém Novo (arrabalde de Porto Alegre), residindo em Tristeza. Aqueles fiéis muito lucraram com o padre novo, que granjeou a simpatia de todos. Ficou aí até 1912.
Foi então nomeado vigário cooperador do Pe. Valentim Rumpel, em Passo Fundo. Dois anos depois, sucedeu ao Pe. Rumpel, na qualidade de pároco de Passo Fundo. Logo conquistou toda a população da extensa paróquia, pela entrega total ao seu bem espiritual e material. Construiu o Hospital São Vicente de Paulo. Hoje, sua nova ala chama-se "Maternidade Pe. Rafael".
Impossibilitado de levar a todas as pessoas sua palavra de pastor, editou o almanaque "Folhinha da Serra". Tendo fundado as Conferências Vicentina, fez publicar para elas "A Folha Vicentina".
Em 1921 foi transferido para sua terra natal, como diretor dos seminaristas. O Seminário funcionava na casa paroquial, com aulas no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Nos seminaristas seu coração encontrava um terreno adequado para sua vocação de educador. No dia 02 de fevereiro de 1922 lançou a pedra fundamental do Seminário Rainha dos Apóstolos, para, no dia 11 de dezembro do mesmo ano, inaugurar a ala central do atual edifício. Foi ele o primeiro reitor, cargo em que trabalhou por 12 anos consecutivos.
Mil novecentos e vinte e três foi o primeiro ano letivo do Rainha dos Apóstolos. Como é de supor, nem tudo estava pronto. Pe. Rafael a preocupar-se em concluir salas de estudos, cozinha, pátios. Oito anos depois, orientou a construção de outra ala, concluída em 1932.
A 13 de novembro de 1922 erigira-se canonicamente o Noviciado no Rainha dos Apóstolos (ainda em construção) e Pe. Rafael era também Mestre de Noviços. Foi em Vale Vêneto que instalou a tipografia. E em 1923 leu-se o primeiro número da revista "Rainha dos Apóstolos", em cuja direção ficou por 24 anos.
Embora mergulhado em todos esses trabalhos, causava admiração pela dedicação aos alunos seminaristas. Bondoso, alegre, simples e, ao mesmo tempo, severo, soube cativar a confiança de sua "rapaziada" e merecer-lhe no coração o lugar de pai. Como Mestre de Noviços, fez sentir suas convicções e orientações sadias. Em 1934 deixou Vale Vêneto para dirigir o Patronato Antônio Alves Ramos, em Santa Maria. Com ele foi transferida a tipografia. Ali continuou a trabalhar, sem um minuto de descanso, até o fim da vida.
Sob a direção de Pe. Rafael, centenas de meninos encontraram abrigo no Patronato e tomaram posição na vida. Ele continuava dedicado e amoroso. Continuava também com suas latas de balas e cinemas - delírio da petizada - o que já fazia em Vale Vêneto.
Em 1935 escreveu e editou, em sua tipografia, "Vicente Pallotti e sua Obra". Compilou e fez publicar "Rezai Bem" e "Rezai, Crianças".
Em 1936, com a morte do Superior Regional, Pe. João Iop, substituiu-o no cargo. E, aos 07 de março de 1940, ocasião em que a Região Sul-Brasileira passou a ser Província, foi ele o primeiro Provincial, e permaneceu no cargo até dois meses antes de sua morte.
Tinha, então, Pe. Rafael, de multiplicar-se por falta de padres. Mas continuou com a mesma simplicidade, humildade, bondade, colocando acima de tudo a glória de Deus e o bem da Província.
Comunicava-se com todos os sacerdotes por cartas, onde expunha e pedia opiniões sobre os problemas da Província. Cartas escreveu-as muitíssimas, concluindo-as quase sempre com esta frase: "Uma Ave-Maria para este velho já sem préstimo"...
1937 - Roma: Capítulo, ou melhor, Assembleia Geral. Regressou entusiasmado por ter visto as casas por onde passara Vicente Pallotti. E aprofundou em si o espírito do Fundador. Em suas visitas às casas, levantava o ânimo dos sacerdotes, em seus trabalhos, e dos seminaristas, em sua vocação. Estes, ao vê-lo chegar, exclamavam: "Teremos passeio-grande!" (= piquenique, todo dia, pelas montanhas).
Em casa, todos os que o procurassem, encontravam-no, ou fazendo correspondência, ou ultimando trabalhos da tipografia, até horas idas da noite. Dizia aos alunos: "Vocês, rapazes, precisam de dormir bastante, enquanto eu adormeço às 11h30min e acordo pelas 02 ou 03..." "Mas, o que faz?" - perguntavam... "Leio e planejo os meus trabalhos" - respondia. Vemos aqui o incansável. E o vemos mais, quando, mais tarde, proibido pelos médicos de trabalhar, passou a fundir estátuas de gesso. Já realizava isso em Vale Vêneto. Do gesso saíam as brancas estátuas do Coração de Jesus e de Maria, que pintadas, serviam de bom presente para quem o visitasse.
Em 1942 idealizou o "Anuário do Apostolado Católico". No seu governo começaram os Retiros Populares. Tomou para si a ideia da construção da Casa de Retiros, em Santa Maria.
Gostava de falar sobre o Menino Jesus e Nossa Senhora. Sua pregação era bem preparada, rica em assunto e por isso muito apreciada. Falava e pregava em português castiço, italiano e alemão.
Antes que o absorvessem as grandes responsabilidades, nos últimos anos, gostava de dedicar-se à fotografia, nas horas vagas. No começo do ano de sua morte, ao enviar para o Noviciado 22 fotografias de sacerdotes falecidos da Província, disse: "o 23ª serei eu. Mas isto de minha morte será em agosto".
Em agosto foi a Porto Alegre pedir ao governador subvenção para o Patronato. Dia 15, missa da Assunção de Maria. "A missa que mais me custou rezar", declarou depois. Era a despedida da Eucaristia.
Assim mesmo, no dia seguinte, partiu para Santa Maria. Estava disposto por poder viajar. Mas esta disposição durou pouco. Ao Pe. Arthur Stefanello, que o acompanhava, pediu que rezasse por ele, pois "às vezes a gente nem pode rezar". Sentiu-se aliviado por ter podido chegar em casa. Acama-se depois para descansar, e da cama vai para o Hospital de Caridade. E no dia 17 anuncia-se: "Acaba de falecer Pe. Rafael"... Um colapso cardíaco trouxera- lhe o fim.
A notícia espalhou-se rápida e dolorosamente. Manifestações de pêsames aos palotinos, de todos os lados. A Câmara dos Deputados dedicou-lhe um momento de silêncio. Na capela do hospital, uma multidão de povo entra, despede-se e sai. E Pe. Rafael, deitado, imóvel, morto, faz recordar a todos o homem que fora de pé, incansável e vivo. E faz sentir e faz lagrimar: desde já até a descida à terra, houve olhos e mais olhos que lhe declaravam o quanto significava sua vida e mostravam haver corações cortados por sua despedida.
No mesmo dia 17 de agosto, Vale Vêneto recebe de volta o filho que daí saíra e o honrara. O Rainha dos Apóstolos, numa derradeira homenagem, abriga-o na última noite. O dia 18 amanhece quieto. Mas o povo quer ver o seu padre. E vêem-no de novo. Depois... enquanto o grande sino tange, num tom inspirador, seguem a mãe e os irmãos chorando, junto com os parentes. E choraram seminaristas e choraram sacerdotes... Lágrimas saudosas desceram junto com o último punhado de terra lançado sobre o caixão... Pe. Rafael tinha 65 anos de idade e 41 de sacerdote.
Por Antoninho Stefanello