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04/08/2024 - In Memoriam

Padre Valentim Zamberlan (1914-1998)

Agradecemos ao Deus Uno e Trino pelo dom que Pe. Valentim Zamberlam foi para todos. Guardá-lo bem vivo na memória deve ser o desejo de todos. Embora seja difícil traçar o perfil do irmão falecido, aqui vão alguns tópicos de sua bela e rica existência na comunidade palotina.

 1.  Família e formação

Padre Valentim viu a luz do mundo em Val Veronês, localidade do município de Faxinal do Soturno (RS), no dia 08 de março de 1914. Era o sétimo rebento do casal José Zamberlam e de Elisa Soncini, enflorado com onze filhos. Oito dias após seu nascimento, Valentim renasceu na fonte batismal e, no dia 19 de outubro do mesmo ano, recebeu também o sacramento da crisma.

No seio de uma família numerosa e no meio do clã Zamberlan, Valentim cresceu sadio como pessoa e como cristão. Era um menino muito alegre, amante de aventuras e bom de briga. Ele mesmo dizia que não temia o choque com quem o provocasse. Os apelidos recebidos falam por si mesmos: "Ximbé", "Marimbondo" e "Tigre'".

Animado pelas famílias cristãs que o rodeavam e pelos padres que estiveram em contato com ele, sentiu-se chamado pelo Cristo a segui-lo como consagrado palotino. Fez os estudos primários no seminário menor de Vale Vêneto (RS), em 1926 e 1927, e os estudos ginasiais no seminário diocesano São José, em Santa Maria (RS), de 1928 a 1932. Participou ativamente do nascimento da devoção a Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, no seminário São José, onde era preceito Inácio Vale S.J., iniciador da devoção a Medianeira.

Sob a orientação do Pe. Rafael Iop, fez, em 1993, a sua iniciação à vida comunitária palotina. O seu ano de noviciado deu-se em Vale Veneto (RS). Fez todos os estudos de Filosofia e Teologia no seminário Central Imaculada Conceição, em São Leopoldo, dirigido pelos padres jesuítas. No final do terceiro ano de Teologia, no dia 23 de dezembro de 1939, foi ordenado com seu colega Pe. José Pivetta, e celebrou sua primeira missa em Val Veronês no dia 31 de dezembro de 1939.

2.  Apostolado

O ministério sacerdotal do Pe. Valentim Zamberlan foi longo, variado e rico em realizações e graças. Após terminar, em 31 de outubro de 1940, os seus estudos de teologia, foi trabalhar como vigário cooperador em Silveira Martins (RS), onde esteve até 22 de fevereiro de 1942. Em 23 de fevereiro do mesmo ano, assumiu a direção da paróquia do Corpo de Deus, em Vale Vêneto, onde trabalhou até 21 de outubro de 1942, deixando profundas marcas nos seus paroquianos.

Durante sua estada em Vale Vêneto, construiu capelas e, sobretudo, a gruta Nossa Senhora de Lourdes, promessa feita em vista da cessação dos desmoronamentos assustadores dos montes que circundam Vale Vêneto, causados pela grande enchente de 1941. Como descreve a lápide aos pés da gruta: "E promessa mãe querida, nestes montes sem suporte, onde a gente busca a vida, não permitas que haja morte" (Pe. Jorge Zanchi).

Apenas inserido e integrado na comunidade de Vale Vêneto, Padre Valentim teve que deixá-la para, no dia 1° de novembro de 1942, assumir a paróquia de Ibarama (RS), onde esteve até 4 de março de 1946. No dia 10 de março do mesmo ano, foi transferido para Santa Maria (RS), onde assumiu a direção da Paróquia Nossa Senhora das Dores, cargo que ocupou até 20 de janeiro de 1952.

Durante o tempo em que foi pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores, acompanhou de perto a construção da Casa de Retiros, inaugurada em 01 de janeiro de 1949. Depois disso, por mais de dez anos, Pe. Valentim esteve afastado do trabalho paroquial e, durante esse tempo, exerceu várias atividades no campo da formação e da direção da Província. Além de ter sido Conselheiro Provincial de 1947 até 1956, de 1952 a 1954 foi reitor do Seminário Maior em São João do Polêsine (RS) e professor de História da Igreja no mesmo seminário.

De 1° de janeiro de 1955 até 13 de junho de 1956, acompanhou e supervisionou a construção do Colégio Máximo Palotino. De 1° de junho de 1956 a 1° de junho de 1959, foi Superior Provincial e, em maio de 1959, participou do capítulo geral da Sociedade do Apostolado Católico em Roma. De setembro de 1959 a fevereiro de 1961, foi capelão do Hospital da Brigada Militar em Santa Maria. De 14 de fevereiro de 1960 até o início de 1962, foi o ecônomo do Colégio Máximo Palotino e, ao mesmo tempo, vigário cooperador na paróquia Nossa Senhora das Dores em Santa Maria.

Ao deixar os cargos administrativos, Pe. Valentim voltou para o seu trabalho preferido, o trabalho paroquial, era incansável. De 1962 até agosto 1972, esteve à frente da paróquia de Dona Francisca (RS). Após dirigir os trabalhos de renovação e de construção na Praia Azul, em 1973 assumiu a direção da paróquia de Vale Vêneto e, de 1974 até 1983, foi pároco em Augusto Pestana (RS). De 1983 a 1989, trabalhou como coadjutor na paróquia do Salto do Jacuí (RS). Por motivos de saúde, foi transferido, em 20 de abril de 1989, para a Casa de Retiros em Santa Maria, onde esteve até o final dos seus dias.

3.  Enfermidade e morte

Padre Valentim passou adoentado nos últimos dez anos de sua vida, uma vida bem diferente da que vivera até 1989. Uma isquemia cerebral o impediu de gravar e reter muita coisa do que foi acontecendo desde então. Sua memória era fiel em relação ao passado. Viveu sob constantes cuidados médicos, auxiliado de perto pela senhorita Anita Bernardy, que foi para ele uma irmã muito querida, para não dizer mãe carinhosa e solícita. O diabetes lhe trouxe graves problemas de circulação.

Viveu por muitos anos ameaçado de ter uma perna amputada e com a visão bastante fraca. Passava muitas noites em claro, especialmente no inverno, cruciado de dores, sem, porém, queixar-se delas. Grande parte do dia e da noite passava em oração. Seu organismo foi-se enfraquecendo sempre mais, e os médicos disseram que ele poderia partir de um momento para o outro, como de fato aconteceu.

No dia 03 de agosto de 1998, levantou-se como de costume, tomou banho e preparou-se para a celebração eucarística, que para ele era o momento mais sagrado e importante do dia. Quando se dispunha a participar na celebração eucarística, sentiu falta de ar e foi aconselhado pelo padre provincial, Pe. Lino Baggio, a permanecer sentado na sua cama. Recebeu a comunhão e tomou um leve café. Sentindo sempre maior falta de ar, seu médico pediu que fosse levado ao patronato a fim de receber oxigênio. Pouco depois, se apagou em paz uma belíssima vida dedicada ao Senhor e aos irmãos. Foi confortado com a unção dos enfermos. Eram 8h30min da manhã. Estavam presentes o médico e vários confrades. Ele, que todos os dias rezara pela boa morte de todos os moribundos e agonizantes, partiu sem agonia. Adormeceu para esta e acordou-se para uma nova vida.

4.  Sepultamento

Seu corpo permaneceu sereno e, revestido de túnica e estola, foi levado à Casa de Retiros, onde foi velado até o dia seguinte. Muitíssimas pessoas estiveram orando junto ao seu corpo, profundamente marcado pela presença do Senhor e do seu Espírito. A tarde do dia 03, a capela da Casa de Retiros tornou-se pequena para acolher quantos vieram participar na celebração eucarística presidida pelo reitor da Casa, Pe. Casimiro Facco. Muitos, durante a celebração, destacaram qualidades do falecido e disseram o quanto se sentiram enriquecidos com seu contato.

Na manhã seguinte, houve celebração eucarística, da qual participaram muitas pessoas da cidade, e presidida pelo Pe. Elói Roggia. Pelas 7h30mil, o féretro foi conduzido a Vale Vêneto e depositado na igreja matriz, onde Pe. Valentim havia sido ordenado padre e onde muitas vezes havia celebrado como pároco. O caixão foi aberto ao público e, às 9 horas, houve celebração eucarística presidida pelo Reitor Provincial, Pe. Lino Baggio, acompanhado por várias dezenas de padres e por muitos amigos, parentes e conhecidos de Val Veronês e de outras paróquias. Dom Jacó Roberto Hilgert, bispo de Cruz Alta, grande admirador do Pe. Valentim, fez-se representar pelo Pe. Ernesto Predebon, pároco do Salto do Jacuí (RS).

No início da celebração, Padre Casimiro Facco leu um breve relatório sobre a vida e os trabalhos do falecido e, à hora da homilia, Pe. Lino destacou alguns aspectos muito bonitos do Padre Valentim. Disse que Padre Valentim, na alegria e no sofrimento, na dor e na esperança, sempre demonstrou sentir-se profundamente amado por Deus, que é Pai, exercendo com satisfação e felicidade o seu ministério. Era um homem realizado e de bem com a vida, e o melhor meio que encontrou para conservar esta felicidade foi partilhá-la com os outros. Ele nunca precisou nos fazer um sermão, mas soube partilhar conosco. Dizia o Pe. Valentim: aprendam o melhor dos outros e deem o melhor de vocês mesmos.

Pe. Valentim Zamberlam era um homem de muita fé, com uma espécie de esperança enraizada na gratidão que o levou a situar toda a sua vida dentro do plano de Deus. Zeloso na eucaristia e perseverante na oração, sabia acolher a todos com carinho e muita atenção. Apesar da surdez, ficava atento às palavras dos outros e penetrava o mais possível na alma daquele que falava. Tinha um coração mariano e um carinho especial para com os pobres e idosos. Era alegre e sempre disponível para acolher e ajudar as pessoas, sobretudo através do sacramento da penitência. Foi um incansável apóstolo e por onde passou deixou saudades. Recebia o Cristo para levá-lo aos outros. Costumava dizer: "qualquer coisa que o padre diz ou faz é sempre um argumento a favor ou contra Cristo". Com o rosto sempre sorridente, amava a vida. Era alegre, otimista e sempre estava de bom humor.

As orações finais na igreja e no cemitério palotino foram feitas pelo pároco local. Quando seu corpo desceu à terra, muitas lágrimas rolaram, agradecidas, pelas faces dos presentes e muitas flores caíram sobre o caixão que agora sob a terra guarda em seu bojo um corpo santificado pelo Senhor à espera da plenitude da vida.

Obrigado, Senhor, pelo dom que foi o Pe. Valentim para a comunidade Palotina e para tantos fiéis que nele buscaram a presença de Deus e a orientação nos momentos de dificuldade.