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21/02/2025 - In Memoriam

Pe. Gentil Lorenzoni (1929-1999)

Pe. Gentil Lorenzoni faleceu na primeira metade da noite do dia 21 de fevereiro de 1999, em terra de missão, no hospital de Inhambane, em Moçambique, na África. No dia 07 de fevereiro de 1999, junto com Pe. Casimiro Facco, assumira a Missão de Quissico na diocese de Inhambane. Visto que a casa da Missão não tinha condições mínimas, enquanto Pe. Casimiro Facco estava em Maputo, tratando de papéis e de outros assuntos, Pe. Gentil permanecia em Inhambane, na casa do bispo, Dom Alberto Setele. Pelo que no momento se conhece, dia 21, à noite, de repente, começou a sentir-se mal e foi logo levado ao hospital. Sentia-se mal, sem deixar de andar e de falar. Subitamente, sofreu um ataque e faleceu, para surpresa dos médicos, que, em vão, tentaram reanimá-lo. A causa mortis dada é malária cerebral. Imediatamente, começaram as tratativas legais para que seu corpo pudesse ser translado para o Brasil e enterrado no campo-santo Palotino, em Vale Vêneto, sendo mais um sinal para novas vocações missionárias.

1.  Família e formação

Pe. Gentil Lorenzoni nasceu em Vale Vêneto (RS) no dia 26 de fevereiro de 1929. Era filho de Vitório Lorenzoni e de Carmelina Coletto, que tiveram nove filhos, sendo Gentil o quarto deles. Pouco tempo após o seu nascimento, seus pais migraram para a Colônia Borges, município de Restinga Seca (RS). Sua família, profundamente cristã, com seu clima de fé, oração e trabalho, favoreceu o desabrochar do seu desejo de consagrar-se todo a Deus e aos irmãos como sacerdote palotino. Em 1941, ingressou no seminário menor de Vale Vêneto, onde completou curso primário e fez os estudos ginasiais e colegiais. Foi sempre um dos primeiros alunos da aula, quase sempre o primeiro. Era sempre alegre, estudioso, piedoso, amante do trabalho e do esporte.

Fez o noviciado em Augusto Pestana (RS) em 1947 e, de 1948 a 1951, estudou Filosofia no seminário maior palotino em São João do Polêsine (RS), destacando-se sempre com um dos primeiros alunos nos estudos, no trabalho catequético e nas atividades comunitárias. Em vista das suas grandes e muitas qualidades, seus superiores encaminharam-no para o magistério superior. Junto com Pe. Félix Albino Pilon, em 1951, foi para Roma, a fim de preparar-se para o magistério em Teologia no seminário maior que estava sendo construído em Santa Maria. Fez todo o curso de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, obtendo a licenciatura na mesma disciplina. Em Roma, também, no dia 17 de abril de 1954, recebeu a ordenação presbiteral.

2.  Apostolado

Pe. Gentil tinha aguda inteligência e sabia comunicar-se com facilidade, beleza e simplicidade tanto na sala de aula como nas celebrações e encontros. Também sabia manejar a pena e cultivar boas relações de fraternidade e de amizade. Era uma pessoa que gostava de estar na comunidade e de trabalhar por ela.

Seu primeiro grande campo de trabalho foi o magistério. De 1956 a 1959, trabalhou no Colégio Máximo Palotino como professor de Teologia e como reitor. Lecionou também no Instituto Diocesano de Catequese, do qual foi também diretor por muitos anos. Ensinou deontologia jurídica na Faculdade de Direito de Santa Maria. Durante todo este tempo em que foi professor, Pe. Gentil atendeu a inúmeras comunidades religiosas e foram sem conta os retiros que orientou. Foi um pregador de retiros e um orientador espiritual muito solicitado.

Outro grande campo de trabalho seu foram as comunidades paroquiais, nas quais deixou sempre uma longa esteira de saudade. Ao deixar o Colégio Máximo Palotino, em 1969, Pe. Gentil assumiu a direção da Casa de Retiros, onde esteve até 1972. De 1972 até 1975, foi coadjutor e pároco da Paróquia Nossa Senhora das Dores. Não deixou, contudo, de lecionar no Instituto Diocesano e Pastoral Catequética - IDPC. De 1975 até 1977, foi pároco em Iporã (PR). De 1978 a 1979, auxiliou como mestre de noviços, em Buenos Aires, Argentina. Em 1980 a 1982, foi pároco em Coronel Vivida (PR) e, de 1982 até 1985, assumiu a Catedral de Cruz Alta (RS). Foi pároco em Campo Grande (MS) da paróquia São Judas Tadeu de 1985 até 1988.

De 1989 ate janeiro de 1991, retornou como pároco da paróquia das Dores. De fevereiro de 1991 até o início de 1994, foi pároco em Manaus (AM) na paróquia Nossa Senhora de Fátima. Em 1994, para comemorar os seus quarenta anos de sacerdócio, pediu e obteve um ano sabático, que passou em Roma, em Lido di Óstia, trabalhando com os confrades italianos. De 1995 até a metade de 1998, dirigiu a paróquia de Santo Antônio, em Cachoeira do Sul (RS). Deixou aquela paróquia a fim de preparar-se para o trabalho missionário na África.

3.  Missionário na África

Ser um dia missionário fora do Brasil havia sido sempre o seu grande sonho. Em 1998, a Província Nossa Senhora Conquistadora assumiu uma frente missionária na diocese de Inhambane, Moçambique, África, e o Pe. Gentil Lorenzoni, com 68 anos, se ofereceu alegremente como missionário. Para tanto, a segunda metade de 1998 passou se preparando para a missão.

Na celebração de envio dos dois missionários para Moçambique, realizada no dia 07 de janeiro de 1999, em Vale Vêneto, o Provincial, Pe. Lino Baggio, disse-lhes: "A missão que estamos assumindo não é missão só dos PP. Gentil e Casimiro. É a missão da Província Nossa Senhora Conquistadora. Cada um de nós, hoje, deve sentir-se enviado para a missão! Eles serão os nossos representantes diante daquele povo necessitado, e nós queremos também estar presentes com a nossa oração.

Que, no dia de amanhã, possamos ampliar essa missão! Esse é o desafio que Deus nos fez e nós queremos assumi-lo juntos. Oxalá nós possamos ampliar ainda mais nossa presença onde se necessita mais! Queremos servir a Deus, dando de nossa pobreza".

 Após as palavras do Provincial, muito espontaneamente, no final da celebração eucarística, e em tom de despedida, o Pe. Gentil disse: "Não faz muito tempo, o Pe. Lino Baggio me perguntou: Você está ainda a fim de ser missionário na África? Na Assembleia decidimos assumir uma missão em Moçambique!' E eu respondi: Eu não retirei a palavra! Com essa idade? Você está louco, dizia-me alguém. Pois é, humanamente falando é uma temeridade, mas, dentro do projeto de Deus, se sabe que Ele se serve também das pessoas que têm mais de setenta anos para servi-lo aqui, lá e acolá e também em Moçambique. Tenho certeza de que não estou sozinho. Sou chamado. Ele me chamou, não fui eu que escolhi. E não me considero sozinho. E não há gente só na retaguarda. Há gente dos lados, em cima, na frente e em tudo está o Senhor. Quem vai fazer é Ele, através de qualquer um de nós. Nós não escolhemos, mas somos escolhidos. Se Deus escolhe, Ele tem que dar um jeito para que sejamos instrumentos fiéis. Ele pede fidelidade, não propriamente sucesso. Estou nesta caminhada e não somente nossa Província, mas toda a Sociedade. Eu agradeço ao Senhor, agradeço a vocês e parto com alegria." No dia 16 de janeiro, Pe. Casimiro Facco e Pe. Gentil Lorenzoni deixaram o Brasil rumo a Roma. No dia 22 de janeiro, em Roma, junto do altar São Vicente Pallotti, recebeu o envio missionário das mãos do Reitor-Geral da Sociedade do Apostolado Católico, Pe. Séamus Freeman, e de Dom Marcello Zago, Secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos, com o aplauso e as preces da numerosa Família Palotina reunida para celebrar São Vicente Pallotti.

No dia 25 de janeiro de 1999, partiu para Moçambique via Lisboa, onde esteve até o dia 26, aguardando o avião que o levaria a Maputo, capital de Moçambique. Ao chegar em Maputo, no dia 28, junto com Pe. Casimiro Facco, juntou-se aos novos missionários, reunidos numa casa de formação durante um mês inteiro. Acabado o curso, no dia 05 de fevereiro, foi ter com o bispo de Inhambane.

No dia 06, com o bispo, ele e Casimiro foram a Quissico, a Missão que iriam assumir no dia seguinte. Em condições precárias, pernoitaram em Quissico. No dia 07 de fevereiro assumiram a Missão, com grande participação do povo e com muita alegria do bispo, do povo cristão do lugar e também dos missionários. Quem mais vibrou foi o próprio Pe. Gentil. Pe. Casimiro foi o primeiro a sofrer as consequências da malária, mas recuperou-se logo. Pe. Gentil parecia insensível à terrível doença. Mas, enquanto Pe. Casimiro estava em Maputo para tratar dos papéis de permanência e de outros assuntos, de repente, no dia 21 à noite, Pe. Gentil apresentou os sintomas da malária e começou a sentir-se mal. Foi imediatamente levado ao hospital, mas sem deixar de caminhar e conversar. De repente, teve um ataque, caiu por terra e todas as tentativas dos médicos para reanimá-lo foram sem êxito. Era ele quem mais desejava trabalhar como missionário, deu sua vida pela fecundidade do trabalho missionário em Quissico.

A gente percebe o tamanho da árvore quando ela tombou. Podemos dizer que Pe. Gentil encarnou em sua vida de padre e de consagrado Palotino a disponibilidade do Cristo Apóstolo do Pai Celeste. Tinha consciência de que sua missão era servir onde quer que houvesse irmãos necessitados. Mostrou em toda a sua vida de padre uma enorme disponibilidade para os mais variados trabalhos e nas mais diversas situações. Não sabia dizer não a quem lhe pedisse apoio.

Além de sempre disponível, era um servidor simples, alegre, sem complicações, cordial, amigo. Tinha o dom da comunicação e também do relacionamento fraterno e amigo. Se às vezes aconteciam choques, não sabia viver na discórdia, mas procurava logo reconciliar-se e retomar as relações. Sua presença de padre não ameaçava ninguém, mas fazia bem a todos.

Era um padre profundamente mariano. Herdou dos seus pais uma terna devoção a Maria, cultivada e aprofundada nos seminários, sobretudo através do Movimento Apostólico de Schoenstatt e dos seus estudos teológicos. Fazia parte do Curso Imaculada que teve um papel muito importante na introdução e no desenvolvimento do Movimento em nossa Província. Consagrou-se por inteiro, em todos os graus, à Mãe e Rainha Três Vezes Admirável e ao Santuário que marcou sua vida de padre e de consagrado.

Amou profundamente também São Vicente Pallotti e sua Fundação, razão por que não pensou nunca em deixá-la. Acreditou em Pallotti e Schoenstatt e não pensou em deixar a comunidade Palotina quando esta foi separada com violência do Movimento, pois não via que semelhante separação fosse querida por Deus.

Enfim, deixou a todos um bonito exemplo de cristão, de padre e Palotino. Com a vida e com as palavras mostrou sentir-se feliz de ser cristão, padre e palotino. Não tinha medo de dizer a todos que se sentia muito feliz como padre e que valia a pena viver essa vocação.

Encantou e desafiou a todos o seu gesto singular de, mesmo com uma idade mais avançada, partir para a missão, quando muitos outros, em condições muito mais tranquilas, pensam em retirar-se do trabalho.

Que o Senhor faça com que o grão plantado na terra apodreça, sim, mas produza espigas cheias de nutridos grãos! Que o Pe. Gentil, entusiasta do trabalho missionário, interceda junto a Deus pela continuidade do trabalho por ele iniciado em campo de missão, com tanto amor, ardor e dor!