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Notícias

29/12/2024 - In Memoriam

Ir. Luiz Bender (1981-1981)

No dia 29 de dezembro de 1981, às 5h da manhã, faleceu o Ir. Luiz Bender, no Seminário de Vale Vêneto.

Filho de Nicolau e Verônica A. Bender, natural de Ibirubá, nasceu a 04 de setembro de 1917 (este local chamava-se, então, General Osório e era capela de Cruz Alta, cuja paróquia fora entregue aos palotinos em 1903; até a data do nascimento de nosso irmão foi pároco o Pe. Carlos Kolb. Ibirubá tornou-se paróquia a 24 de dezembro de 1928 e teve como primeiro pároco o Pe. Carlos Dietz, palotino alemão que trabalhava em Cruz Alta desde 1921. Regeu aquela paróquia até 1934).

Os irmãos Bender (Vendelino e Luiz) e seu tio Bento Binsfeld foram os primeiros frutos vocacionados desse trabalho. Os três ingressaram em Vale Vêneto, em 1929 (Bento, depois do Noviciado, transferiu-se para o clero secular).

Contou o Luiz que, ao chegar em Cruz Alta, ficou encantado ao ver pela primeira vez o trem e um caminhão: "A máquina do trem esparramava fumaça, bufava e soltava apitos antes de partir e ao chegar nas estações!"

Contou o Ir. Lourenço que os dois irmãos Bender usavam gravata. O Vendelino tinha 14 anos e o Luiz, 12; falavam quase só alemão, mas aos poucos foram aprendendo o português, e até o italiano, e se foram acostumando à vida do Seminário. O intento deles era estudar para padre. Não se sabe bem o porquê, mas só o mais velho seguiu a carreira sacerdotal e o outro, parece que, por sugestão do Ir. Lourenço ou pelo exemplo do Ir. Simão Michelotti, resolveu fazer-se irmão leigo. Começou o Noviciado a 07 de março de 1934. Foi da primeira turma de noviços, quando o Pe. Casimiro Tronco sucedeu ao Pe. rafael Iop no cargo. Foi colega do Pe. José Stefanello. (Entre os anos de 1934 e 1937 vestiram o hábito da S.A.C. para serem irmãos, oito, mas de todos eles só perseveraram os Irmãos Luiz e Beno Krein).

O Ir. Luiz, ainda no noviciado, aprendeu o ofício de cozinheiro e, ao redor do fogão esfumacento, teve de aguentar muitos sacrifícios, pois o reitor era rigoroso e exigente. Percorreu as colônias de Vale Vêneto, Polêsine, Linha Base, Nova Palma e Novo Treviso com carroça de bois, enfrentando mil privações, a fim de recolher mantimentos para o Seminário Rainha dos Apóstolos. Algumas famílias lhe davam um copo de vinho, que ele o saboreava com gosto. Como andasse muito pelas colônias italianas, aprendeu bem o dialeto vêneto e sabia tirar alguma prosa com os italianos. Isso a tal ponto que se pode dizer que deixou seus costumes alemães e assumiu os dos gringos! Trabalhava na chácara, cuidava das abelhas. Estava tão afeiçoado a elas que para ele uma ferroada nem lhe dava cócegas... Quando enxameavam, as metia na caixa com as mãos mesmo...

Esteve ele a serviço do Seminário de Vale Vêneto até meados de 1948, quando foi mandado para Augusto Pestana, na casa de noviciado. Em princípio de 1950 veio para o Patronato, em Santa Maria, ocupando-se como encadernador, ofício que ele aprendera ainda em Vale Vêneto, com o  Pe. Rafael Iop. De 1955 a 1959 esteve em Polêsine, onde ainda funcionava o   Seminário Maior e, depois, o curso colegial. Ali também exerceu o ofício de encadernador e teve outras ocupações. Em 1959 retorna novamente para o Patronato, ocupando-se do serviço de encadernador, que era o seu ramo. "O número de livros, revistas e brochuras que passaram por minhas mãos não tem conta" - comentava ele próprio. Dois anos após foi para o Colégio Máximo Palotino (1960-1963), continuando com a mesma ocupação. E foi aí que o Ir. Luiz conheceu um crioulo, funcionário do DAER, que naquela época montava a ponte em frente ao Colégio Máximo. E a essa amizade, em parte, o Pe. Carlos Amarante Machado confessa dever sua vocação sacerdotal.

Em 1964 mudava-se para Vale Vêneto, onde se estabeleceu definitivamente. Ele estava muito ligado a este lugar e gostava do povo de lá. Conhecia muitas famílias, e o Seminário Rainha dos Apóstolos era para ele seu verdadeiro lar; foi a casa onde mais tempo esteve e se sentia bem acolhido pela comunidade. A roda e o convívio do chimarrão sempre se constituíam, a rigor, no encontro familiar ao qual nosso confrade não faltava e, quando o tempo o permitia, passava algumas horas jogando canastra ou o "trissete". Esteve nessa comunidade os últimos 17 anos de vida, dedicando a maior parte de suas atividades à encadernação. Quantos volumes que formam a biblioteca daquela comunidade não passaram pelas mãos do Ir. Luiz!

Mas a saúde lentamente o abandonava. A doença da cirrose o perseguiu durante muitos anos. Teve ameaças de trombose no fim de 1978, e isso custou-lhe a amputação da perna esquerda, em meados de 1979, obrigando-se a andar de muletas. E não havia passado um ano que teve de amputar a outra, e assim se movimentava em cadeira de rodas. Nada, porém, o angustiou e não se queixava. Continuou com a mesma disposição de ânimo e sabia sorrir, apesar de ver-se reduzido a esse estado. Ele ria quando os confrades lhe recordavam aquela passagem do evangelho: "se não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus!" Realmente, o Irmão Luiz se tornara uma criança também fisicamente: ficara um "toquinho" de gente... Girava e se locomovia pelos corredores do Seminário e se reunia com os confrades na sala do chimarrão. Não alterou seu modo de ser e de viver. E toda a comunidade do Seminário dispensava- lhe cuidados e carinho. Em especial se deve citar a Ir. Teresinha Schneider, que foi uma enfermeira muito solícita, uma "samaritana" incansável!

O sepultamento ocorreu no mesmo dia 29, à tarde, com a presença de 30 confrades concelebrantes, sob a presidência do Provincial.

Por Pe. Claudino Magro, SAC