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Notícias

07/10/2024 - In Memoriam

Padre Ângelo Lôndero (1943-2018)

1.  Introdução

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá" (Jo 11, 25).

No dia 7 de outubro de 2018, dia de Nossa Senhora do Rosário, domingo ensolarado, com bastante movimento nas ruas por causa das eleições, em primeiro turno, para os diversos cargos políticos em nosso país, ficamos abalados quando, às 14h30min, chegou-nos a triste notícia: Pe. Ângelo acabara de falecer.

Mesmo sabendo que sua saúde estava bastante debilitada nos últimos dias, não foi possível escapar-se daquele estalo dentro da gente, como se algo tivesse se quebrado. Como se diz popularmente: "Demorou um pouco para cair a ficha". Mas, como ocorre neste tempo de grandes facilidades de comunicação, a notícia se espalhou rapidamente e a tristeza começou a tomar conta das pessoas, especialmente daquelas mais próximas do Pe. Ângelo.

Pretendo, neste encarte, escrever, um pouco, da forma intensa como o Pe. Ângelo viveu. É claro, ao escrever sobre uma pessoa como ele, corre-se o risco de esgotar o espaço recopilando datas e funções. Pode, ao final, não sobrar espaço para o que é mais importante: aperceber-se da alma da pessoa. Apesar das diversas publicações sobre sua vida e seus escritos, faz- se necessário, aqui, de forma breve, que se divulgue um pouco de sua vida e de sua história.

 2.  Sua família e seus estudos

O Pe. Ângelo nasceu em Mata, no dia 28 de agosto de 1943. Filho de Pedro Lôndero e de Marcelina Marquezan, que tiveram 8 filhos, agora todos falecidos. O Pe. Ângelo sempre manifestou grande admiração pelos seus pais e pela sua família, especialmente na dimensão da fé e do compromisso cristão com a comunidade onde viviam. Certa vez, ao falar sobre a sua vocação, disse: "A minha vocação à vida consagrada e ao ministério presbiteral é, primeiramente, dom de Deus e, também, fruto da matriz familiar. Foi no ambiente da minha família que ela germinou e cresceu".

Ingressou no então pré-seminário São José, em Faxinal do Soturno, no ano de 1955, com 12 anos de idade, onde permaneceu até o final de 1956. De 1957 a 1960, esteve em Vale Vêneto, onde concluiu o Curso Ginasial. Em 1961, foi para Polêsine. Em 1962, juntamente com os colegas, frequentou as aulas junto aos formandos dos Irmãos Maristas, no Cerrito (Curso Colegial), onde hoje é centro de eventos e hotel.

Em 1963, concluiu o Curso Colegial no Colégio Máximo Palotino. Em 1964, fez o ano de noviciado em Augusto Pestana. De 1965 a 1968, em Santa Maria, fez o Curso de Filosofia na FIC (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição). Ainda 1968 iniciou o Curso de Teologia, no Colégio Máximo Palotino, até 1971. A sua ordenação presbiteral ocorreu no dia 27 de junho de 1971, pela imposição das mãos de Dom Ângelo Mugnol, então bispo de Bagé, na Igreja Santo Antônio, em Mata (RS).

 3.  Seu ministério presbiteral

Logo depois de ordenado, no dia 25 de agosto de 1971, assumiu, na condição de vigário paroquial, a paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Porto Alegre. Na sequência, de 1973 até 1976, foi pároco da referida Paróquia. Após ter realizado um bom trabalho pastoral em Porto Alegre, foi convidado a trabalhar na formação e no magistério no Colégio Máximo Palotino. Em outubro de 1977, foi a Roma, onde, na Universidade Gregoriana, fez uma especialização em teologia sistemática, na área da Cristologia. Voltando de Roma, em 1979, passou a residir no Colégio Máximo, até a sua morte.

4.  Seu trabalho na formação de novos consagrados palotinos

Sem dúvidas, Pe. Ângelo dedicou a maior parte do tempo e o melhor de si, como ele mesmo dizia, no serviço da formação e do magistério: "Investi muito em viagens e cursos para poder servir melhor. Como sempre fui uma pessoa dedicada ao estudo, foi na área da formação de novos sacerdotes e irmãos que me senti melhor e mais realizado. Foi neste campo que a vida me brindou com as maiores alegrias. Contudo, não deixei de experimentar o cálice das lágrimas e o pão da amargura. Mas, uma certeza eu carrego no coração: nunca senti arrependimento por me ter decidido a trabalhar em favor do Reino de Jesus de Nazaré".

Para os que tivemos a oportunidade de tê-lo como formador, percebemos o quanto ele se preocupava conosco não só com o aprimoramento da nossa inteligência. Por acaso, encontrei, em minhas anotações pessoais, o que escrevi de uma reunião com ele, num momento tenso do nosso grupo de formandos: "Diante de um mundo que muda tanto, é normal que frequentemente nos deparemos com crises, com momentos de dor, de angústia. São momentos que nos fazem sofrer. A crise é o momento do encontro com o Senhor. O momento de rever práticas, projetos, de parar diante de Deus, escutar, ouvir o que Ele tem a nos dizer. Os momentos da crise, da dor, do sofrimento foram os momentos mais ricos da revelação bíblica. Nós, como pessoas consagradas e herdeiros do carisma de São Vicente Pallotti, precisamos recuperar a ideia da beleza que temos e somos"

5.  Sua relação com a FAPAS (Faculdade Palotina) e a Educação

Precisamos reconhecer e isso já lhe foi dito em vida, que o Pe. Ângelo, auxiliado por confrades, por colaboradores e colaboradoras, deu um grande impulso à Faculdade Palotina. E importante percebermos que a origem desta sua dedicação não é voluntarista, mas no exemplo de Vicente Pallotti que não só trabalhou com universitários, mas também se preocupou com a alfabetização das crianças e jovens, através da fundação de escolas noturnas. Ainda, como Diretor da FAPAS e grande professor, sempre destacou a importância da nossa presença evangelizadora no campo da educação. Sempre enfatizava que educar a pessoa humana é parte integrante da missão evangelizadora da Igreja, continuando assim a missão do Cristo Mestre. 

 6.   Homem apaixonado pela vida, pela espiritualidade e pelo carisma de São Vicente Pallotti

O Pe. Ângelo ficou muito conhecido e citado, no âmbito da Família Palotina, em todo o mundo, pelos seus preciosos escritos, a suas bem elaboradas palestras, aulas, debates, pelos inúmeros convites para orientar retiros, em torno da vida, da espiritualidade, do carisma e da Fundação de São Vicente Pallotti. Muitos de seus escritos trataram da dimensão espiritual do carisma palotino, ou de questões relacionadas com isso. Costumava dizer que São Vicente Pallotti ainda é um tesouro a ser descoberto na Família Palotina e na própria Igreja. Por isso, empenhou-se muito nos encontros de formação e animação dos membros da Família Palotina para a valorização do espírito do nosso Fundador. Sempre cobrou de todos nós maior compromisso com a União do Apostolado Católico.

O fato de ter estado muitos anos na coordenação do Instituto Sul- Americano de Estudos Palotinos (ISEP), prestou uma especial colaboração às jurisdições palotinas na América do Sul.

Agora aumenta o desafio para que outros membros da nossa Província nos ajudem a mantermos acesa a paixão pelo nosso Fundador e à sua Obra, como o fez Pe. Ângelo. 

 7.  Pe. Ângelo e a Nova Evangelização

Os leitores poderão achar estranho este título, mas é importante destacar que o Pe. Ângelo foi incansável comunicador do tema da Nova Evangelização à luz da espiritualidade palotina. Relendo alguns textos escritos por ele, percebe-se a sua preocupação em refletir sobre o carisma, no tempo em que estamos vivendo. Assim como Vicente Pallotti esteve atento aos sinais dos tempos quando exercia seu ministério e respondeu à lamentável situação da sua época com a fundação de uma obra, a União do Apostolado Católico, Pe. Ângelo insistia que somos chamados, com grande intensidade, a cultivarmos o carisma e a espiritualidade, como forma de reavivar a fé em Cristo, à luz dos ensinamentos do Evangelho, na realidade em que nos encontramos hoje. O desafio maior é não cultivarmos uma espiritualidade que seja individualista, mas que nos torne capazes de viver como irmãos numa comunidade, de trabalhar como uma equipe apostólica e de trabalharmos junto com os outros, no apostolado. Não podemos ser fatores de desintegração e divisão, mas de integração e unificação.

8.  O desafio imposto pela doença

Desde 1995 a doença tentou debilitar o Pe. Ângelo. Ele teve que alterar o ritmo de suas atividades e reforçar os cuidados com a saúde. Mas, enquanto pôde, manteve-se no trabalho e sempre se mostrou muito agradecido pelo carinho e apoio de todos. Disse seguidas vezes: "As pessoas amigas, com suas preces e apoio, suavizaram o meu peregrinar por consultórios médicos, laboratórios e hospitais".

9.  Celebrações e sepultamento

Assim que foi liberado no Hospital de Caridade, em Santa Maria, o corpo do Pe. Ângelo foi conduzido ao Colégio Máximo Palotino (CMP), onde ocorreu, às 20h, do dia 07 de outubro, uma celebração eucarística presidida pelo seu primo, Pe. Francisco Bianchin, acompanhado pelo outro primo do falecido, Pe. Eugênio Antônio Pozzobon, ladeados por expressivo número de confrades e com a presença de muitas pessoas. A capela do CMP ficou pequena para acolher tanta gente!

No dia 8 de outubro, às 9h, também na capela do CMP, ocorreu a celebração de despedida, presidida pelo arcebispo da Arquidiocese de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rubert. A celebração contou com a presença, além da comunidade formativa do CMP, de confrades, de familiares, de religiosos, religiosas, padres e seminaristas diocesanos, estudantes e colaboradores/as da Faculdade Palotina (FAPAS), amigos e amigas. Foi um adeus carregado de emoção e de gratidão por tudo o que o Pe. Ângelo semeou entre nós. Logo após a celebração, ele foi conduzido ao cemitério dos Irmãos e padres palotinos em Vale Vêneto.

Foi difícil, para todos nós, vê-lo declinar pouco a pouco e, ao mesmo tempo, foi uma inestimável graça sermos testemunhas de um gradativo definhamento de uma pessoa tão brilhante, tão rica em sabedoria e graça e que se foi tornando pobre e se entregando nas mãos do Senhor, com paz e simplicidade.