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Notícias

31/07/2024 - In Memoriam

Padre Bonfiho Mânfio (1927-2020)


Na dimensão da fé encontramos um sentido para a vida: viver é ser feliz servindo com alegria! Mesmo nas adversidades do tempo e nos contrários da história, encontra a felicidade quem serve com alegria, quem se torna dom de Deus para os mais necessitados. E quando o tempo se encerra e a morte se apresenta, revigoramos nossa confiança de que a vida daqueles que se fizeram servidores do bem não fica encerrada no túmulo, senão que é glorificada em Deus. Nesse sentido, diante da partida do Pe. Bonfilho Mânfio, SAC, as palavras de Jesus são reconfortantes: "Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus" (Mt 5,3).

  

2.  Família

O Bonfilho nasceu no dia 22 de maio de 1927, na Linha Base, interior do município de Nova Palma (RS). Filho de Valentim Mânfio e Josefina Pegoraro. O casal teve treze filhos, sendo o Bonfilho o primogênito. Na sequência vem a Irmã Milena, das Irmãs de Maria de Schönstatt, depois o Natalino, a Julia, o Hetore, o Valdomiro, o João, a Maria, o José, a Tereza, a Elena, o Bernardo e o Angelo.

Referindo-se à família o Bonfilho escreve que seus pais "eram simples, humildes e tinham poucos recursos financeiros, mas sempre tiveram um cuidado especial para com os filhos. Eram religiosos fieis aos compromissos com a sua Igreja. Tinham devoção especial à Nossa Senhora, às orações, ao terço e às missas. Eles rezavam e ajudavam as vocações e tinham a vontade de consagrar seus filhos a Deus."

 

3.  Vocação

A sua vocação nasce a partir do diálogo com seu colega Érico Ferrari que era seminarista diocesano e que, mais tarde, tornou-se padre e bispo da Diocese de Santa Maria (RS). Contudo, nunca pensou em ser padre diocesano, pois tinha grande admiração pela bondade e trabalho pastoral do pároco Padre João Zanella.

Também as pregações missionárias dos Padres Rafael Pivetta e Celestino Trevisan o animaram a ser um pregador da mensagem de Deus.

Manifestou a vontade de ser padre aos pais enquanto trabalhava na lavoura. O pai, num primeiro momento, disse que concordava, mas tinha que esperar, pois no momento não havia condições financeiras.

Num contato com o Padre Ernesto Ferrari, amigo da família, o mesmo disse que não se preocupasse com o dinheiro, pois poderia ajudar no seminário com aquilo que era possível.

No dia 04 de março de 1943 a mãe preparou o necessário e com mais dois colegas, partiu cedo para Vale Vêneto (RS). Caminharam cerca de 12h para percorrer os 46 Km. Chegaram por volta das 16h30min no Seminário Rainha dos Apóstolos. Tudo era diferente, sentia muita saudade de casa, mas aos poucos foi superando.

  

4.  Formação

Os primeiros estudos realizou nas comunidades de Linha Base e Novo Paraíso, interior de Nova Palma, naquele tempo município de Júlio de Castilhos (RS). Nos anos de 1943 até 1949 esteve no Seminário Rainha dos Apóstolos, onde completou os estudos primários e ginasiais. Destaca que foi um tempo bom. Conviveu bem com os formadores. Trabalhou no jardim do seminário e recebeu as orientações do Pe. Antônio Marin.

Em 1950 foi para Cadeado, hoje Augusto Pestana (RS), para fazer o ano de noviciado. Seu mestre foi o Pe. José Stefanello. Destaca que foram dias inesquecíveis. Havia trabalho, ascese, estudo do carisma e espiritualidade do recém beatificado Vicente Pallotti. Também houve grande vivência mariana e Maria se tornou seu grande apoio no chamado vocacional e depois na vida sacerdotal.

O primeiro ano de filosofia, em 1951, como não havia espaço no Seminário Maior, fez em Cadeado e tinha como professor o Pe. Genésio Bonfada. Além da filosofia, o Pe. Genésio ensinou oratória e retórica. Faziam os ensaios no meio do mato e na hora do almoço proclamavam, onde eram também analisados pelos professores.

Nos anos de 1952 até 1957 esteve no Seminário Maior em São João do Polêsine (RS), onde concluiu a filosofia e iniciou a teologia, sendo que o último ano de teologia cursou no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria (RS). Durante o período em que esteve no Seminário Maior, em 2 de fevereiro de 1952, fez a sua primeira consagração a Deus através da Sociedade do Apostolado Católico e no ano de 1954 exerceu o magistério no Pré-Seminário São José, em Faxinal do Soturno (RS).

No dia 21 de dezembro de 1958 foi ordenado presbítero por Dom Luiz Vitor Sartori, juntamente com os colegas Clementino Marcuzzo, Osvaldo Cremonesi, Bonfilho Carlos Stefanello e Duvílio Antônio Antonini. A celebração de ordenação foi no Santuário Nossa Senhora Medianeira, em Santa Maria. A primeira missa solene aconteceu no dia 1 de janeiro de 1959, na Capela São Francisco, Paróquia Santíssima Trindade de Nova Palma. Seu lema de ordenação era: "Deste lugar atrairei os corações das juventudes, e farei deles instrumentos perfeitos em minhas mãos."

 

 5.  Atividade Pastoral

Começou o exercício do seu ministério sacerdotal em 1959, como professor no Seminário Menor São José, em Faxinal do Soturno. Depois de dois anos exercendo o magistério foi designado a ser missionário no então Estado do Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul.

A cidade se chamava Amambaí, isso era o ano de 1961. O provincial chegou a Faxinal do Soturno e lhe disse: "prepara-te para ires trabalhar no Mato Grosso." Aceitou sem questionar o convite. Ao chegar em Amambaí foi recebido pelo Pe. Antônio Segatto. Era uma paróquia extensa, abrangia o território de nove paróquias atuais. Chegou a ficar um mês pelo interior atendendo as comunidades. Usou todos os meios de transporte da época para poder chegar aos locais. Lá também foi professor e orientador pedagógico. Trabalhou na Escola Mãe e Rainha Três Vezes Admirável e foi diretor do Colégio Dom Aquino Corrêa.

Foi um grande apoiador da juventude, para tal criou o Despertar para a Juventude (DPJ) e criou a Pastoral para Formar Peregrinos e Lideranças Cristãs (PLC). Edificou muitas capelas, a casa canônica e a igreja matriz. Em 1984 recebeu o título de cidadão amambaiense. Durante 26 anos esteve à frente desta comunidade que hoje louva e agradece a Deus pela boa semente que o Pe. Bonfilho semeou. Por ocasião da sua morte a prefeitura decretou três dias de luto oficial.

Em 1987 foi transferido para Fátima do Sul (MS) e ali permaneceu até o início do ano de 2014. Nesta paróquia também desenvolveu muitas atividades pastorais como pároco e professor. Deu grande apoio aos movimentos, ao PLC, à pastoral da juventude, ao cursilho e ao apostolado da oração. Edificou o Centro de Evangelização Vicente Pallotti e construiu capelas. Nas atividades de educação, assumiu a agência de educação (qualificação profissional para professores). Foi professor no Colégio Vicente Pallotti, onde encerrou a sua carreira no magistério. Criou programas de evangelização através de rádios. Em 2005 recebeu o título de cidadão fatimasulense.

No dia 27 de fevereiro de 2014 se despediu de Fátima do Sul, deixando muita saudade naquele povo e veio morar na comunidade Padre Caetano Pagliuca em Santa Maria. Durante seis anos e alguns meses foi uma presença simples, discreta e silenciosa entre os confrades.

  

6.  Desafios relacionados à saúde

O Pe. Bonfilho sempre enfrentou com confiança os momentos de sofrimento relacionados à saúde, nos seus escritos podemos perceber que para ele "o sofrimento voltado a Deus é um crescimento espiritual, familiar e comunitário."

Na sua trajetória, especialmente nos últimos trinta anos, sofreu um enfarto, um câncer e, por último, o mal de Alzeimer.

Sentado no leito do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS) concedeu uma entrevista à Revista Rainha dos Apóstolos. Perguntado sobre os sentimentos que o acompanhavam diante da gravidade da cirurgia que devia enfrentar, ele falou de quatro linhas básicas: fé em Deus; confiança na eficácia das orações da comunidade; fé na intercessão de Nossa Senhora e confiança na habilidade dos médicos. Com esta força e confiança foi superando o problema cardíaco e também o câncer. A vida não foi abreviada, mas sim prolongada. Nos últimos anos também teve que enfrentar o mal de Alzeimer, que aos poucos foi lhe tolhendo a memória, as palavras e os movimentos. Nos últimos meses permaneceu enfermo na cama.

  

7.  Rumo à Casa do Pai

Quinta-feira, 30 de julho de 2020, no final da tarde teve uma convulsão e perdeu todos os movimentos e reflexos. Um dia depois, 31 de julho, às 18h30min veio a falecer na Comunidade Pe. Caetano Pagliuca, junto ao Patronato, em Santa Maria (RS). O Pe. Bonfilho foi um homem bom. Podemos dizer foi um "bom filho". Deixa-nos um belo testemunho de simplicidade, de dedicação, de espírito missionário e de vida palotina.

Partiu para a Casa do Pai aos 93 anos e alguns meses, dos quais 68 de vida consagrada e quase 62 de ordenação presbiteral. Obrigado Senhor pela vida e testemunho do Pe. Bonfilho Mânfio! Especialmente pelo seu sim, pelo seu amor à vocação, pelo seu respeito para com o outro, pela sua presença silenciosa, mas cheia de sabedoria. Nos lugares onde passou deixou uma marca do amor de Deus.

Devido à pandemia do novo corona vírus Covid-19, somos orientados a seguir as determinações da secretaria estadual e municipal de saúde, ou seja, velório breve, não mais que quatro horas e restrito aos familiares.

No dia 1 de agosto de 2020, houve a missa de exéquias presidida pelo Reitor Provincial, Pe. Clesio Facco, às 10h na Igreja Matriz Corpo de Deus, em Vale Vêneto. Um bom grupo de padres, seminarista e familiares participaram da celebração. Às 11h, o Pe. Bonfilho foi sepultado no Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos, em Vale Vêneto (RS).

 

Pe. Clesio Facco, SAC