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Notícias

21/10/2024 - In Memoriam

Padre Cláudio Walmir Rossini (1964-2012)

"Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá"(Jo 11,25).

Aos 48 anos, no domingo, 21 de outubro de 2012, Dia Mundial das Missões, Pe. Cláudio veio a falecer durante a celebração Eucarística, no momento em que fazia a homilia, às 9h da manhã (horário local), no presbitério da Igreja Rainha dos Apóstolos, no Conjunto Habitacional Dom Pedro I, em Manaus (AM).

Ele foi surpreendido por um infarto cardiovascular fulminante, mesmo tendo sido socorrido por dois médicos cardiologistas presentes à celebração que lhe prestaram os primeiros socorros e tentaram reanimá-1o. Pe. Cláudio foi levado pela Equipe do SAMU ao Hospital 28 de Agosto, mas já sem vida. O bioquímico Geraldo Magela, que estava participando na celebração, informou que o padre começou a passar mal logo após a leitura do Evangelho. Segundo ele, o missionário caiu e bateu com a cabeça no chão. Disse o bioquímico: "Eu o segurei no meu colo, ele olhou para mim e disse Louvado seja o nome do nosso Senhor e desmaiou.

A Igreja Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos estava plena de fiéis, em torno de mil pessoas, especialmente porque naquele horário da celebração muitas crianças e adolescentes, com seus pais e catequistas, fariam a Renovação das Promessas do Batismo, preparando-se para, nos próximos dias, receberem a Primeira Comunhão. Foi neste contexto celebrativo que este nosso coirmão partiu para a celebração de outra ceia, a Ceia definitiva na Casa do Pai.

 1.  Família

Pe. Cláudio Walmir Rossini nasceu no dia 02 de outubro de 1964, em Ajuricaba (RS), filho de Juliana Pizutti Rossini e José Rossini (falecidos respectivamente em 07/11/2002 e 07/02/2003). Deste matrimônio, nasceram dez filhos, Cláudio era o oitavo. São seus irmãos e irmãs: Carmen Maria Tereza (falecida em abril de 2002), Jeni, Zita, Vilmar, Neri, Sueli, Lari Osmar (falecido aos três anos de idade), Neldi e Neuza. Quando o Cláudio tinha nove anos, seus pais deixaram o Rio Grande do Sul e migraram para Dionísio Cerqueira - Barracão, cidades gêmeas de Santa Catarina e Paraná, na fronteira com a Argentina.

Em 1985, Cláudio, juntamente com seu irmão Neri Rossini e sua cunhada, migrou para o Estado de Rondônia, em busca de terra e trabalho. Pe. Valdemar Secretti, naquela época missionário em Rondônia, narra o itinerário do Cláudio Rossini recém-chegado à Região de Ariquemes:

"Foram morar em Ariquemes, na linha 85 da BR 364, e que hoje pertence ao município de Rio Crespo. Na comunidade ele foi convidado para ser animador e para dirigir os cultos dominicais. Ele aceitou e num encontro que houve dos Animadores de Comunidade ele veio para a cidade e, como não tinha pessoas conhecidas, hospedou-se na casa paroquial, onde, depois do encontro, ficou na segunda-feira um bom tempo, pedindo-me para orientá- lo e perguntando-me sobre o que podia e até devia fazer na comunidade, pois nunca tinha feito isto. Eu nem lhe perguntei se era participante no Estado do Paraná. Achei muito estranho um jovem recém-chegado e com tamanho interesse. Ele também era professor de uma escolinha que havia na comunidade.

Em 1986, quando eu estava na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Machadinho D'Oeste (RO), lá estavam o Neri e sua família e o Cláudio. Ele trabalhava de carpinteiro, pedreiro, com motosserra derrubava mato e lá ele conseguiu um lote rural perto do Rio Belém. Na construção da Casa Paroquial de Machadinho Doeste foi ele pedreiro e carpinteiro. Foi ele que batalhou e reuniu a juventude para serrar a madeira para a construção do salão paroquial. Eu, às vezes, tinha vergonha de chamá-lo, pois não tinha dinheiro para pagar-lhe o trabalho, mas ele sempre estava disponível e com coragem. Um dia, a cunhada dele me falou: "Diga para o Cláudio entrar no seminário e ser padre, porque ele só fica lá na igreja, ou que arrume uma menina e se case". Mas isto não estava nos seus planos. Ele continuou no seu trabalho e continuou ajudando na igreja. Lá, depois , foi atuando cada vez mais e se tornou Ministro Extraordinário da Eucaristia Depois, a partir de 1987, ajudando o Pe. Vitor Pasa, ele recebia um salário para trabalhar na paróquia.

Com a saída dos Palotinos da Paróquia de Machadinho (20 de maio de 1990), o Cláudio continuou com o Pe. Carlos Suykens, sacerdote da Arquidiocese de Porto Velho. O Pe. Carlos me disse que o Cláudio, na paróquia, fazia mais que um padre. Num dia do Encontro Regional, o Pe. Carlos me chamou ao lado e me perguntou: "Você conhece o Cláudio, pois eu o acho um pouco estranho. Eu fiquei 03 meses com salário atrasado, e ele não reclamou e nunca mexeu no dinheiro. Um dia deixei dinheiro na gaveta para testá-lo, mas ele não mexeu. Ele não pensa no futuro. Ele tira a camisa para dar para os outros".

Um dia, o Cláudio me disse num Encontro em Ariquemes: "Eu pensei em ir para o Sul e estudar. Fazer uma faculdade e me preparar para o futuro. O que você acha?" Eu lhe disse: "Eu acho ótimo". Mas, eu necessito de um lugar para morar e trabalhar. Então, telefonei para o Padre Provincial para que arranjasse um lugar, um trabalho para o Cláudio em Santa Maria (RS), porque ele merecia esta oportunidade. Assim, ele foi para Santa Maria e começou o Curso de Filosofia, morando e trabalhando na Comunidade do Patronato. Ele era um jovem diferente e incansável. A preguiça não tinha lugar naquele reforçado corpo. Recordo ainda que em 1986 muitas vezes ele vinha à casa paroquial e nos pedia: "Têm remédio para a malária?" Ele tomava os comprimidos, se deitava no piso por um pouco de tempo, se levantava e ia para o trabalho. Outro dado interessante. Um ano ele foi candidato a prefeito do Machadinho D'oeste, mas como os bons não ganham, o Cláudio também não ganhou as eleições municipais".

O Pe. Genésio Bonfada (1922-2011), quando escreveu o livro Missão Amazônia - dez anos de presença palotina em Rondônia e dezoito no Amazonas, em 1992, na página 114, sob o título "Semeador de boa semente", faz também menção ao Cláudio, semelhante àquela do Pe. Valdemar Secretti, referindo-se ao seu apostolado na Paróquia de Machadinho Doeste: "A partir daquele mesmo ano (1987), a comunidade pôde contar também com os préstimos do jovem Cláudio Rossini, como braço direito do Pe. Vitor Pasa, e que ainda hoje colabora com o Pe. Carlos Suykens. Era um agente de pastoral liberado, cuidava da catequese, atendia a secretaria paroquial, coordenava os encontros. Com rara generosidade empregava seu tempo a serviço do Reino de Deus". E, na página seguinte, o Pe. Genésio chama de "apóstolo leigo Cláudio Rossini" (p. 115).

Quando foi entregue a paróquia de Machadinho à Arquidiocese de Porto Velho (RO), na carta de despedida ao povo, em 20 de maio de 1990, Pe. Vitor Pasa assim se referiu ao Cláudio: "Companheiro fiel de todas as horas".

2.  Formação e apostolado

Conforme o descrito anteriormente, pode-se dizer que a vocação à vida consagrada palotina do Pe. Cláudio deu-se no contato com os nossos missionários palotinos presentes em Rondônia: os padres Vitor Pasa e Valdemar Secretti e, provavelmente, outros. Nos anos de 1995 e 1996, Pe. Cláudio fez o Curso de Filosofia na Faculdade Palotina, naquele período sob o nome de IFITESMA (Instituto de Filosofia e Teologia Santa Maria), mas residindo na Comunidade do Patronato, em Santa Maria.

Naqueles dois anos fez um discernimento aprofundado e, então, sim, resolveu ingressar na Comunidade dos Padres e Irmãos Palotinos, e sua primeira Casa de Formação foi o Noviciado São Vicente Pallotti, em 1997, na cidade de Cascavel (PR).

De 1998 ao ano de 2001, fez o Curso de Teologia, residindo no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria (RS). Fez sua Primeira Consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico (SAC) no dia 25 de março de 1999, e a Consagração Perpétua no dia 23 de março de 2002, e naquele ano também fez o Ano de Estágio Pastoral na Paróquia São Roque, em Coronel Vivida (PR), onde recebeu a Ordem de Diácono, no dia 19 de maio de 2002. No dia 08 de setembro de 2002, na Paróquia São João Batista, em Santo Augusto (RS), foi ordenado presbítero por Dom Zeno Hastenteufel, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen (RS). Seu lema de ordenação foi o pedido de Maria, mãe de Jesus, aos serventes, presentes às Bodas de Caná: "Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jo 2,5). Na sua homilia, Dom Zeno, que naquele dia realizava sua primeira ordenação presbiteral, definiu três funções importantes que o padre deverá desempenhar no exercício do ministério sacerdotal: A partir de sua ordenação, o padre se torna um "Mensageiro da Palavra de Deus, um Ministro do Altar e dos Sacramentos e um Coordenador do Povo de Deus".

Após a ordenação, Pe. Cláudio continuou o seu apostolado na Paróquia São Roque, em Coronel Vivida (PR), como vigário paroquial. No ano seguinte (2003), Pe. Cláudio foi nomeado vigário na Paróquia São Francisco de Assis, em Ariquemes (RO). Em 2004, foi nomeado vigário na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Colorado do Oeste (RO).

No ano de 2005, residindo na Comunidade do Patronato, em Santa Maria (RS), foi nomeado vigário na Paróquia Santo Antônio, Diretor da Cerâmica Pallotti, Tesoureiro da Faculdade Palotina (FAPAS), Secretário da Gráfica Editora Pallotti e do Colégio Antônio Alves Ramos e ainda Redator do Informativo Palotino. Em 2007, o Conselho Provincial nomeou-o Diretor da Gráfica e Editora Pallotti, em Porto Alegre (RS), residindo na Comunidade da Paróquia São Vicente Pallotti.

Em agosto de 2008, o Conselho Provincial o nomeou vigário no Santuário Nossa Senhora de Fátima, Praça XIV, na cidade de Manaus (AM), permanecendo neste apostolado até o final do ano de 2011. Em janeiro deste ano (2012), Pe Cláudio Rossini foi nomeado pároco da Paróquia Rainha dos Apóstolos, Conjunto Habitacional Dom Pedro I, em Manaus, até este domingo, dia 21 de outubro de 2012, dia de seu falecimento.

O Pe. Cláudio era bem conhecido na cidade de Manaus pelo seu envolvimento nos meios de comunicação, mantendo programas em rádios, televisão e sites. Seu campo apostólico era expansivo e procurava divulgar seu trabalho através da postagem de fotografias e vídeos em diversos meios eletrônicos. Tinha, além disso, diversas coordenações diocesanas sob sua responsabilidade pastoral.

3.  Despedida em Manaus

Na tarde do dia 21 de outubro, dia de seu falecimento, às 18h e as 20h, duas missas de corpo presente foram celebradas na Igreja Matriz Rainha dos Apóstolos, com a participação de muita gente. A celebração das 18h foi presidida pelo Arcebispo de Manaus, Dom Luiz Soares Vieira, e concelebrada pelos bispos Dom Mário Pasqualotto, Bispo Auxiliar de Manaus, e Dom Elói Roggia, SAC - Bispo da Prelazia de Borba (AM) e nosso coirmão palotino, e por grande número de sacerdotes.

Dom Luiz, na homilia, destacou alguns pensamentos em torno da morte do nosso confrade: "Pe. Cláudio, nesta manhã, após a pregação da Palavra de Deus, nos deixou. E isto aconteceu no Dia Mundial das Missões. Que o testemunho deste missionário desperte muitas vocações! O contexto de sua partida entre nós se deu durante uma celebração eucarística em que se renovariam as Promessas do Batismo de várias crianças que se preparam para a Primeira Eucaristia.

O decisivo em nossa vida é que somos cristãos e o serviço que oferecemos às pessoas. Deus não vai perguntar a Dom Luiz se ele foi o Arcebispo de Manaus, porém, vai perguntar se ele amou o seu povo, se ele serviu as pessoas. Em minha morte, desejaria o toque festivo de muitos tambores... Nestes poucos anos que Pe. Cláudio esteve aqui em Manaus ofereceu seu Sim às várias atividades na obra da evangelização. Este momento não é de desânimo, mas de enfrentamento dos desafios".

E no dia 22 de outubro, segunda-feira, às 06h da manhã, foi celebrada a missa presidida por Dom Mário Antônio da Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Manaus. Dom Elói Roggia também concelebrou e em torno de 30 sacerdotes, com grande participação de fiéis.

Dom Mário, na homilia, quis destacar acerca deste momento da morte repentina do Pe. Cláudio: "A Palavra de Deus proclamada hoje, 22 de outubro, segunda-feira (cf. Lc 12,31-21), e atualizada no Mistério Pascal nos faz entender na passagem do Pe. Cláudio que não somos chamados a resolver os problemas de heranças, mas sim perceber que a nossa autêntica herança é a de sermos filhos de Deus, vocacionados para a vida eterna.

Pe.Cláudioviviacomamesmaalegria,com o mesmo entusiasmo, o celebrar a Eucaristia e o se dedicar à pesca, um de seus lazeres... Enquanto vivemos, Deus está conosco, quando morremos, somos nós que estamos com Deus. Da dedicação às redes sociais, que Pe. Cláudio utilizava para a evangelização, hoje ele participa das redes na presença de Deus".

Antes da bênção final e a cerimônia de translado, outros testemunhos foram destacados. Dom Elói Roggia recordou que "o Pe. Cláudio foi homem simples. Quando se pretendia ver que algum trabalho deveria avançar, era só colocar Pe. Cláudio na equipe".

Pe. Jair Giuliani, Coordenador da Comunidade Regional do Amazonas, fez o seguinte destaque do Pe. Cláudio: "Em 21 de outubro de 2012 - Pe. Cláudio deu sua vida na Amazônia. Em 21 de fevereiro de 1999 - Pe. Gentil Lorenzoni deu sua vida, no início da Missão Palotina em Moçambique. Neste ano do reconhecimento da Igreja que o Pe. Vicente Pallotti é Santo há 50 anos, estamos sendo provados, mas certamente estamos crescendo na esperança e no amor".

4.  Despedida e sepultamento em Vale Vêneto

O translado do corpo do Pe. Cláudio Rossini, de Manaus a Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine (RS), ocorreu entre os dias 22 e 23 de outubro, chegando na Igreja Matriz Corpo de Deus. Nela um grande número de pessoas estava aguardando a chegada do corpo. Assim que o corpo chegou, o caixão foi aberto para que familiares, parentes, coirmãos e amigos pudessem ver o corpo de quem partiu para a Casa do Pai. Antes da celebração da Eucaristia foi recitado o Santo Terço dos Mistérios Gloriosos. Às 17h deu-se início à Eucaristia. Inicialmente, Pe. Edgar Ertl SAC, Vice-Reitor Provincial, acolheu os presentes e leu a biografia do falecido e também algumas mensagens de solidariedade, entre elas, a do padre Lino Baggio, Reitor provincial, que se encontrava na Europa.

Dom Hélio Adelar Rubert, Arcebispo de Santa Maria (RS), presidiu a Eucaristia, concelebrada por mais de trinta sacerdotes palotinos, diocesanos e um capuchinho. Presentes à celebração Irmãs Palotinas, Coração de Maria e de Schoenstatt, religiosos, seminaristas Palotinos, irmãos, irmãs, sobrinhos, primos do padre Cláudio, além de amigos e representantes de Santo Augusto, Ajuricaba e Santa Maria.

Pe. Reneu Stefanello, SAC, que veio de Manaus para acompanhar o translado do corpo do Pe. Cláudio, falou em nome dos Palotinos da Amazônia. Transmitiu os sentimentos de solidariedade aos familiares, parentes, amigos e confrades.

E ressaltou como o fato da morte do Pe. Cláudio repercutiu em todo o território da paróquia dele e na cidade de Manaus. Por fim, disse ainda que o Pe. Cláudio nunca falou que estivesse com algum problema de saúde. "Não tínhamos conhecimento de que ele sofria problemas de saúde. Além disso, recentemente ele fez uma bateria de exames que não apontou nada". Lembrou ainda que ele era um sacerdote muito solicitado e, na medida do possível, e, às vezes, nas impossibilidades, queria atender a todos. Era versátil e com tantas atividades apostólicas, até demais.

No Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos, antes da oração final e bênção do túmulo, a senhora Marilei Andrighetto, sobrinha do Pe. Cláudio, de Santo Augusto (RS), agradeceu à Família Palotina por tudo o que esta fez pelo seu tio.