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25/09/2024 - In Memoriam

Padre Dorvalino João Dotta (1933-2019)

1.  Introdução

O Pe. Dorvalino foi um homem de alma forte, coração sereno, sorriso aberto, gestos quase meditativos. Suas palavras, às vezes, não saiam com rapidez. Meditava antes de falar. Procurava o que era mais certo para dizer, com os termos corretos. Mas quando falava, era gostoso ouvi- lo. Em rodas de amigos, além do chimarrão, falava coisas simples e alegres.

Era encorajador e comunitário. Sabia se dar bem com as letras. Tinha um espírito forte; era um amigo sem fronteiras ou restrições. A sua tranquilidade e generosidade revelavam-no um possuidor de muitas graças e de uma presença forte do Espírito.

 2.  Família

Dorvalino João nasceu no dia 28 de fevereiro de 1933, em Vale Vêneto, na época município de Cachoeira do Sul (RS). Filho de Leonardo Santo Dotta e Teresa Páscoa Sartori. Ambos agricultores. O casal teve 11 filhos. Uma família muito religiosa, sendo que dois seguiram a vida consagrada, um padre e uma irmã.

Ao falar sobre a sua família o Dorvalino disse que esta foi uma bênção de Deus. Disse que Deus lhe deu pais de fé, de honestidade e tenacidade. Os pais indiretamente influenciaram a ingressar no seminário de Vale Vêneto, sua terra natal, pois, segundo ele, "foi a firme e convicta fé que absorvi da família que me levou à decisão de ingressar na vida religiosa".

Ele menciona, em seus escritos, que os pais recebiam a bênção anual do padre como se eito, um dia de festa. Ao padre era dedicada toda a atenção, carinho, respeito, acolhimento alegre e festivo.

3.  Seminário

Ingressou no Seminário Rainha dos Apóstolos de Vale Vêneto em primeiro de março de 1947. Destaca como positivo nos seminários de sua época a disciplina no estudo, no trabalho e no esporte. Apesar do fechamento disciplinar, tudo isto proporcionava horas sérias de estudo. Quase todos estudavam com afinco porque eram estimulados pelos mestres a dar o melhor de si. Havia vontade de estudar. Criava-se o hábito de estudar. As belas notas dos colegas o estimulavam a não se acomodar.

Também no início de sua caminhada vocacional enfrentou dificuldades como a falta de saúde, a timidez e o distanciamento que os educadores mantinham dos educandos.

Em 1954 fez o noviciado em Cadeado, hoje Augusto Pestana (RS). Cursou Filosofia (1955-1957) em São João do Polêsine (RS), e Teologia (1959 e 1970-1971) no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria (RS). Em 1970 fez o curso de Pastoral, no Instituto Nacional de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no Rio de Janeiro (RJ).

Recorda que em 1958 o Pe. Vitor Trevisan pregou um retiro para os seminaristas maiores e uma de suas palestras foi sobre a importância do diálogo. Ficou surpreso, pois esta palavra era muito pouco usada, tanto que uma vez ao ler um livro no seminário menor e se deparar com tal palavra teve que recorrer ao dicionário.

Consagrou-se a Deus na Sociedade do Apostolado Católico, no dia 2 de fevereiro de 1955 e fez a Consagração Perpétua no dia 2 de fevereiro de 1959. Foi ordenado presbítero no dia 21 de novembro de 1971 por Dom Jaime de Barros Câmara, em Santa Maria (RS).

 4.  Atividades Pastorais

Os campos de trabalho, onde se sentiu melhor e mais realizado, foram aqueles em que pode sentir a vida na sua totalidade. No ano de 1958 trabalhou no Pensionato de Vale Vêneto (RS). Em 1960 exerceu o magistério no então Pensionato de Faxinal do Soturno (RS). Em 1961, após o término do primeiro ano de teologia, pediu para suspender os estudos, devido ao precário estado de saúde, e ocupar-se de tarefas no Patronato, onde permaneceu até 1969. Afirma que foi aí que começou a respirar, enxergar, abrir horizontes e sentir a vida sob os mais variados ângulos.

Viu operários entrando e saindo da gráfica, da marcenaria, da olaria, com chuva ou sem chuva. Conviveu com crianças, adolescentes e jovens em regime de internato, órfãos de pai e mãe, quando não abandonados por ambos! Foi aí que pôde trocar ideias com professores, na condição de secretário e representante do Diretor do então Ginásio Industrial.

Rezou terços, à noite, nos bairros de casa em casa. Tudo isto o fez pensar, refletir, confrontar o pequeno mundo de Vale Vêneto e da clausura dos seminários. Falando da vida recorda que, por vezes, ficava impressionado com leigos que em cursilhos relatavam fatos e situações de vida. A sinceridade foi sempre uma das virtudes que mais mexeu com sua vida.

Após a sua ordenação em 21 de novembro de 1971 passou a atuar na Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Camobi, Santa Maria (RS); em 1972, por alguns meses auxiliou na Paróquia São Pedro de Arroio Grande, Santa Maria (RS) e na Paróquia São Vicente Pallotti em Porto Alegre (RS). No segundo semestre de 1972 passou a ser vigário paroquial na Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Glória de Dourados (MS); de 1975 a 1979 atuou na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Dourados (MS), onde também exerceu a coordenação diocesana de Pastoral e a Direção Diocesana do Cursilho, dos Vicentinos e do Encontro de Casais com Cristo. De 1980 a 1981 atuou na Paróquia Santo Antônio, em Campo Grande (MS); de 1982 a 1986 foi o primeiro pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Deodápolis (MS); de 1987 a 1988 foi pároco da Paróquia Rainha dos Apóstolos, em Vicentina (MS); em 1989 foi diretor espiritual do Noviciado em Belém Novo, Porto Alegre (RS). Em 1990 foi pároco da Paróquia Rainha dos Apóstolos em Cascavel (PR) e de 1991 a 2004 foi vigário paroquial da mesma. De 2005 a 2006 foi pároco da Paróquia Santa Cecilia de Humaitá (RS); de 2007 a 2008 foi vigário paroquial da Paróquia São Roque, em Coronel Vivida (PR); em 2009 foi vigário da Paróquia Senhor Bom Jesus da Redenção, em Itapejara do Oeste (PR); em agosto de 2010 foi residir no Seminário São Vicente Pallotti, em Palotina (PR), onde auxiliava na direção espiritual dos seminaristas e nas atividades pastorais da paróquia. Devido à fragilidade física e aos problemas de saúde, a partir de outubro de 2015 passou a residir na Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca, em Santa Maria (RS), onde permaneceu até o fim de sua vida terrena.

5.  Sua relação pessoal com São Vicente Pallotti

Vicente Pallotti encontrou espaço nos seus sentimentos desde os tempos de seminário menor, quando ouviu episódios edificantes de sua vida. Mas confessa que sentiu certa distância entre a sua pessoa e a do fundador. Para ele: "Pallotti nasceu para ser místico, nadou a vida inteira pelas águas mansas da mística e eu não nasci com nada disso!" Diz mais: "a mim me atraem os santos que escalaram as montanhas da mística, arranhando-se todos nas rochas pontiagudas". Como por exemplo: Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Santo Inácio Loyola e São João da Cruz.

 6.  Papel de Maria na sua Formação

O Pe. Dorvalino relata que Maria entrou na sua devoção desde a casa paterna, onde aprendeu a rezar o terço. Sempre a sentiu como uma cópia viva do seu divino Filho. Dizia ele: "como me faz bem ouvir Maria foi a primeira crente, a primeira discípula e a primeira apóstola!'

7.  Mensagem

O Pe. Dorvalino, em seus escritos, deixou aos confrades e seminaristas a seguinte mensagem: "Amem a Igreja apaixonadamente!

Sejam capazes de sonhar grande, mas com os pés no chão! Saibam, como São Paulo, dizer a este mundo: 'ai de mim se não evangelizar'. Sejam ministros de Deus e, como tais, sejam vistos, sentidos e experimentados! Sejam homens de escuta para uma sociedade cada vez mais pluralista, dispersiva e materialista. Cultivem a união, a colaboração, o espírito aberto, o diálogo, uma espiritualidade profunda, o desejo de aprender um do outro. Acima de tudo cresçam em testemunho de vida, porque o mundo está cheio de palavras, mas que não impressionam mais!"

Ao Povo de Deus: "Sempre devemos acreditar que a união faz a força e a desunião a derrota. Na desunião, todos saímos enfraquecidos, amargurados e desanimados. Na união brotam esperanças, confianças, otimismo, coragem e desejos de avançar juntos".

 8.  Falecimento

Pe. Dorvalino partiu, mas a sua vida e o seu modo de ser nos enriqueceram e fizeram com que fôssemos mais cristãos. O Senhor Deus, Pai de Misericórdia, acolha na eterna glória o Pe. Dorvalino e que na comunhão dos Santos possas continuar sendo testemunha de santidade para nós que continuamos caminhando na fé.

Como Província Nossa Senhora Conquistadora, de Santa Maria, Brasil, somos imensamente gratos a Deus por nos ter dado o Pe. Dorvalino como um dom que muito nos ajudou a refletir sobre o apostolado.

Internado desde o dia 21 de agosto no Hospital de Caridade, de Santa Maria (RS), devido a uma infecção pulmonar, o Pe. Dorvalino faleceu no dia 25 de setembro de 2019, quarta-feira, às 4h30min. No dia 25 foi celebrada uma missa de despedida na Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca, junto ao Patronato.

A missa de exéquias aconteceu no dia 26 de setembro de 2019, na Igreja Matriz Corpo de Deus e foi sepultado no Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos, em Vale Vêneto (RS).

Por Pe. Clesio Facco, SAC