Av. N. S. das Dores, 903 - Santa Maria - RS

(55) 3025-2277

(55) 3025-2266

Notícias

06/10/2024 - In Memoriam

Padre Ernesto Pradebon (1935-2015)

1.  Introdução

Nossa vida está cheia de surpresas. Umas muito alegres e agradáveis, outras cheias de lágrimas e inseguranças. Isto acontece nas famílias e também na nossa Comunidade provincial. São Francisco de Assis costumava chamar a morte humana de "Irmã". E nós, Palotinos, mais uma vez neste ano, fomos surpreendidos pela surpreendente "Irmã Morte" que nos levou para a outra vida, anunciada e prometida por Jesus Cristo, o Pe. Aguinelo Burn, o Ir. Reik Burin, o Pe. Bonfilho Soldera e, nesses dias, o Pe. Ernesto Pradebon.

Embora com o coração e os olhos cheios de lágrimas, queremos agradecer a Deus pelo dom que Pe. Ernesto foi não só para a Família Pradebon, mas também para a Família Palotina, no Brasil e no exterior. E junto com agradecer, com muita confiança queremos também pedir ao Bom Deus que o tenha para sempre consigo, na casa que seu Filho anunciou e quer preparar para todos os que crêem e caminham com ele (cf. Jo 14,1-6). Também com muita confiança queremos pedir a Deus que suscite muitas e novas vocações sacerdotais e religiosas para preencher os vazios abertos.

A morte do Pe. Ernesto foi pela queda de um pequeno avião, em Mato Grosso do Sul. Ele viajava com seu sobrinho Luiz Eduardo Pradebon e com o sr. José de Arimatéia, e o avião, ao decolar, apresentou logo falha mecânica e caiu, pelas 10h do dia 6 de outubro de 2015. Um dos tripulantes sofreu fratura na clavícula, um outro na perna esquerda e o Ernesto na cabeça e tórax. As vítimas foram socorridas por um helicóptero da Força Aérea Brasileira, e Ernesto foi levado ao hospital de Coxim (MS), onde por causa dos graves ferimentos sofridos faleceu no fim das 15h locais. Um "Traumatismo Craniano Encefálico (TCE)” teria sido a causa de sua morte.

Após ser liberado e devidamente preparado, corpo do Pe. Ernesto foi trazido a Santa Maria (RS), foi velado na Igreja de Nossa Senhora da Glória em Camobi, onde era coadjutor, e a sua Missa de despedida foi celebrada no grande salão paroquial, às 14h30min. A seguir o corpo foi levado ao Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos, da Província Nossa Senhora Conquistadora, em Vale Vêneto.

Valendo-nos dos seus apontamentos e da sua entrevista, publicada em Informações Palotinas de julho/dezembro 2014, apresentamos breves dados de sua vida e de seu apostolado.

 2.  Seu nascimento

Ernesto nasceu, no dia 1 de junho de 1935, em São João do Polêsine (RS). Seus pais, agricultores, eram Salvador Pradebon (1898-1987) e Judite Sônego (1897-1984). Foi batizado na Capela de São João de Polêsine, em 22 de junho de 1935, pelo Pe. Jorge Albino Zanchi. E na mesma capela, no dia 26 de novembro de 1937, recebeu de Dom Antônio Reis o sacramento da Crisma. Teve boa vivência da família, do domingo, da missa, da catequese, da preparação para a primeira Comunhão e excelente vivência da mesma.

 3.  Sua formação e ordenação

Pe. Ernesto sempre gostou do estudo, desde a infância até ao fim de sua vida. Não se cansava de ler e de atualizar-se, não de modo egoísta, mas para ajudar mais e melhor os outros, as crianças, os jovens, os adultos e os idosos. Nos anos 1944-1947, fez os seus estudos primários em Polêsine, na Linha do Campo, na Escola Estadual sob a orientação da professora Amábile Rosso.

Parece que a sua vocação sacerdotal nasceu no clima cristão da sua família. Em 2014, Pe. Ernesto escrevia: "Em minha casa, sempre houve grande admiração pelos sacerdotes: homens semeadores do bem, da compreensão entre as pessoas, da paz entre famílias e vizinhos, e com a "extrema une as pessoas, da paz entre família para morrerem tranquilos. Só faziam o bem! Esta era a imagem dos padres lá em casa").

Apoiado, pois, pelos seus pais e irmãos, no dia 26 de fevereiro de 1948, entrou no Seminário Menor de Vale Vêneto, e disse que não teve dificuldades de adaptação, pois havia diversos colegas e vizinhos seus e gostava muito de estudar e jogar futebol. No Seminário de Vale Vêneto, de 1948 a 1951, fez os estudos ginasiais, e, de 1952 a 1954, também os estudos colegiais.

No dia 2 de fevereiro de 1955, iniciou o noviciado, em Augusto Pestana (RS), sob a orientação do Pe. José Cancian que era também reitor da casa. Os noviços eram 5 Brasileiros, 1 Espanhol e 1 Paraguaio.

Nos anos 1955 e 1956, por falta de espaço no Seminário Maior de Polêsine, o Curso de Filosofia fora transferido para Augusto Pestana. Era assim um Noviciado com noviços e filósofos. Por causa dos muitos trabalhos necessários para a manutenção da casa, Pe. José Cancian não conseguia dar todas as aulas sobre a vida espiritual, mas no dizer do Ernesto "tudo isto não impediu haurir um profundo espírito mariano, que já trazia de família, seja pelas palestras do mestre de noviços, que era um apaixonado por Maria, seja pelas romarias de todo dia 18 de cada mês. E mais a forte espiritualidade de consagração à Mãe e Rainha através do incentivo à Consagração no grau da Carta Branca nas mãos da Mãe do Céu".

No dia 2 de fevereiro de 1957, em Augusto Pestana, Ernesto fez a sua Primeira Consagração a Deus, na Sociedade do Apostolado Católico (SAC), e, no dia 2 de fevereiro de 1960, em Santa Maria, fez a Consagração Perpétua.

De 1957 a 1958, Ernesto esteve no Seminário Maior de Polêsine que, no dia 1 de maio de 1958, começou a funcionar em Santa Maria, sob o nome de Colégio Máximo Palotino, onde de 1960 a 1964, fez todos os estudos de Teologia.

Como Dom Luiz Victor Sartori, Bispo de Santa Maria, nos últimos meses de 1964, estava em Roma participando do Concílio Vaticano II, ele mesmo concedeu ao Pe. Provincial Genésio Bonfada a possibilidade de procurar um outro bispo para a ordenação de diácono e de sacerdócio do Ernesto. Dom José Gomes, bispo de Bagé (RS), prontificou-se a ordená-lo subdiácono e diácono. Dom Alberto Trevisan SAC, bispo militar no Rio de Janeiro, no dia 8 de dezembro de 1964, em São João do Polêsine, ordenou sacerdote o diácono Ernesto Pradebon que assim falou de sua ordenação sacerdotal:

"A ordenação foi um momento de expectativa, de forte emoção e surpresa interior, além de entrega total superior às minhas forças humanas. No fim daquele domingo de muita claridade, escrevi cheio de emoção: "Senhor, que a minha última missa seja infinitamente mais digna e santa que a primeira deste dia! Que a cada dia eu cresça mais um pouco em vosso amor!"

4.  Seu ministério sacerdotal

A educação foi o primeiro campo de trabalho do Pe. Ernesto. Nos anos 1965 e 1966, no Seminário Menor de Vale Vêneto, foi professor de português e literatura no segundo grau e de latim numa terceira série ginasial. Ajudou também ao reitor Pe. Wendelino Bender na administração do seminário, e nos anos 1967 e 1968, além de professor, foi também reitor do Seminário. Além das aulas, devia acompanhar os alunos nos trabalhos braçais e nos campos de futebol, mas assim mesmo confessou que "era uma época muito feliz, de muito entusiasmo, de ótima convivência entre os padres, de muita doação e entrega e de aprendizado! Em minha simplicidade, imaginava a Província uma comunidade perfeita de confrades".

Graças à sua capacidade de trabalho, a Direção da Província nomeou-o como Ecônomo Provincial para os anos de 1969 a 1975. Nos anos de 1975 a 1978, foi Diretor do Instituto Vicente Pallotti, em Porto Alegre, e, na mesma cidade, de 1979 a 1983, trabalhou como professor na Escola Estadual José Feijó.

Ao deixar Porto Alegre, Pe. Ernesto foi o pároco da Paróquia Santa Cecília de Humaitá (RS), na diocese de Frederico Westphalen, onde esteve de 1984 a 1988. De 1989 a 1992, administrou a Paróquia Nossa Senhora da Glória em Camobi/Santa Maria. Em 1992-1993, por um ano e alguns meses, enquanto aguardava a sua aposentadoria, esteve na Paróquia Santo Antônio, em Santa Maria, quando sofreu um acidente de coluna. Passou o ano 1994, em Belo Horizonte (MG), estudando pastoral e psicologia.

Ao retornar para o Rio Grande do Sul, Pe. Ernesto esteve de 1995 a 1998 na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes em Salto do Jacuí (RS), onde trabalhou como coadjutor e também como pároco. Por uma segunda vez, isto é, de 1999 a 2004, Pe. Ernesto assumiu a Paróquia Santa Cecília em Humaitá (RS). Para assistir ao Pe. Ilvo Santo Rorato, que não estava bem de saúde, e ajudá-lo nas paróquias em que ele trabalhava, Pe. Ernesto passou um ano sabático em Belo Horizonte (MG).

Em 2006, Pe. Ernesto tornou-se pároco da Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Santa Maria, onde devia estar até 2011, quando partiria para os Estados Unidos, o que somente foi possível somente no fim de abril de 2012.

Para ajudar os coirmãos americanos Palotinos da Província da Imaculada Conceição, nos Estados Unidos, que ajudam nossos missionários em Moçambique, Pe. Ernesto Pradebon e Pe. Luiz Quaini iriam ajudá-los no trabalho pastoral com italianos, brasileiros e de língua espanhola. Mas somente no dia 1 de maio de 2012 chegaram ao aeroporto de Newark, na Nova Jersey, perto de Nova York. Foram bem recebidos e trabalharam especialmente na Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Fairwiew. Mas por causa das suas fortes dores de coluna, Pe. Ernesto, no fim de 2013, pediu para retornar ao Brasil para submeter-se a uma delicada cirurgia que, aliás, foi bem-sucedida.

Após lenta e boa recuperação reassumiu com alegria, dedicação e entusiasmo o seu trabalho de coadjutor, na Paróquia Nossa Senhora da Glória, em Camobi, onde esteve até sua partida para outra vida, no dia 06 de outubro de 2015.

5.  Seu amor ao estudo e ao trabalho pastoral

Desde pequeno, Ernesto amou e cultivou o estudo e fez isto especialmente após os seus estudos ordinários de Filosofia e de Teologia. Aprofundou os conhecimentos filosóficos na Faculdade Imaculada Conceição (FIC), em Santa Maria (RS). Graduou-se em Antropologia Filosófica na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Porto Alegre (RS), Fez também pós- graduação em História Moderna na Unisinos, em São Leopoldo (RS). Fez também especiais estudos de atualização (aggiornamento) de Teologia Bíblica Pós-Concílio Vaticano II, e participou em muitas semanas, jornadas e seminários de formação. Fez também dois cursos de Renovação Palotina em Santa Maria, em 1996 e 2003. Gostava muito de conhecimentos históricos, geográficos e artísticos, o que justifica suas muitas viagens culturais e suas leituras.

6.  O acidente fatal do dia 6 de outubro de 2015

Confesso não ter exatas informações a respeito do acidente e do falecimento do querido Ernesto Pradebon, como se encontram nos meios de comunicação. Uns dizem que faleceu de infarto cardíaco antes de chegar ao hospital; outros que morreu no hospital como consequência dos graves ferimentos sofridos na queda do avião. Todos afirmam que o Pe. Ernesto Pradebon estava visitando parentes, no Mato Grosso do Sul, que o acidente foi na região do Pantanal, a 150 km de Coxim (MS), e que estava com seu sobrinho Luiz Eduardo Pradebon e o Sr. José de Arimatéia. Logo após decolar da Fazenda Guanabara, o pequeno avião teria tido problemas mecânicos e na sua queda feriu os três passageiros, sobretudo o Pe. Ernesto. Segundo o Correio de Estado, de Brasília, Ernesto faleceu de pulmão e coração enquanto era transferido para o hospital de Coxim, mas segundo a Edição de Notícias de Campo Grande, por causa do traumatismo craniano encefálico (TCE), ele faleceu logo após entrar no hospital, pelas 13h.

7.  Seu velório e sepultamento

Após a liberação do corpo e da sua preparação, foi trazido de avião, de Campo Grande (MS) a Santa Maria, na manhã do dia 7 de outubro. Por causa da forte chuva de Santa Maria, o avião não pôde aterrissar no Aeroporto santa-mariense (Base Aérea) e teve que buscar aquele de Júlio de Castilhos (RS), onde deixou o caixão com o corpo que foi buscado pelo Pe. Ronaldo Kuhnen SAC com a Funerária São Martinho de Santa Maria. Este é o motivo por que o tão esperado corpo só chegou a Camobi pouco antes das 12h e foi velado por pouco tempo na Igreja Matriz do lugar.

Após ser velado na igreja matriz, antes das 14h30min, o corpo foi levado para o salão paroquial que, embora sendo grande, não conseguiu acolher todas as pessoas. A celebração eucarística de despedida, prevista para as 14h30min, precedida e animada com muita oração e canto, foi presidida pelo Pe. Provincial Edgar Xavier Ertl e acompanhado de grande número de padres palotinos, diocesanos e de outras congregações, de religiosos e religiosas, e sobretudo de grandíssimo número de pessoas que desejavam pedir a especial bênção eterna de Deus para o falecido Ernesto Pradebon, e a sua particular ajuda para todos os seus familiares e coirmãos de consagração e amigos.

Em nome do Pe. Provincial, após a leitura da Palavra de Deus, Pe. Francisco Luiz Bianchin dirigiu a todos bonitas palavras a respeito do falecido Pe. Ernesto Pradebon, destacando sua grandeza humana, sua bondade, sua dedicação pastoral, seu grande amor e empenho em favor de grupos e encontros de conhecimento e amor cristão, de engajamento pastoral nas famílias e estudantes e especialmente nos Encontros de Casais com Cristo (ECC) em Santa Maria e em outros lugares.

Este importante trabalho do Pe. Ernesto estava sendo atestado pelo grande número de ECC presentes à celebração, vindos de fora e que, através de um longo e bonito canto, testemunharam seu amor e gratidão ao Pe. Ernesto. O mesmo fez um pequeno grupo vindo sob chuva torrencial da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes de Salto do Jacuí (RS), onde Ernesto trabalhara muitos anos e deixara profundas marcas. A grande comunidade de Camobi iria prestar a sua especial homenagem ao Pe. Ernesto na celebração do dia 17 de outubro, à tardinha.

Com o coração ferido e muita emoção e carinho, o pároco de Camobi, Pe. Zalmiro Francisco Dubal Figueiró expressou sua admiração e gratidão ao Pe. Ernesto, após ter convivido e trabalhado com ele por muito tempo, num clima de fraterna convivência e colaboração.

Como a oração de encomendação seria feita no Cemitério Palotino de Vale Vêneto, Pe. Edgar Xavier Ertl, antes de dar a bênção final, pediu que todos juntos cantassem o conhecido canto mariano "Nome dulcíssimo" tão estimado pelo Pe. Ernesto Pradebon, e dentro das possibilidades todos acompanhassem o corpo até o seu túmulo especial em Vale Vêneto.

Sob chuva torrencial até ao Santuário e, depois, com a diminuição da mesma, grande número de pessoas foi até o Cemitério Palotino de Vale Vêneto. As orações de encomendação foram feitas pelo Pe. Provincial, mas sob uma grande surpresa para todos, pois, as orações e o enterro foram feitos sob um surpreendente belíssimo momento de sol. Era como se Deus dissesse a todos: Eu estou sempre convosco também como Luz!