Av. N. S. das Dores, 903 - Santa Maria - RS

(55) 3025-2277

(55) 3025-2266

Notícias

10/12/2024 - In Memoriam

Padre Francisco Burmann (1868-1945)

Valmede, na Westfália (Alemanha), foi sua terra natal. Nasceu a 20 de julho de 1868, no seio de uma família profundamente cristã e de muita disciplina.

Entrou no Seminário de Másio, depois do serviço militar, na qualidade de postulante a Irmão Leigo. Na verdade, já tinha 26 anos. Sua intenção era trabalhar nas Missões de Camarões, na África. Devido à sua opção, ocupou-se, inicialmente, em trabalhos de jardim, horta, serviços da casa e sacristão.

Em 1897 foi apresentado para o Noviciado. Continuando depois os estudos em Másio, sentiu-se chamado ao sacerdócio, alimentando sempre o ideal missionário.

Terminados os estudos de Humanidades (2° grau), repetiu o Noviciado, em 1901, em Rocca Priora, perto de Roma. Concluído o Noviciado, voltou a Másio, onde fez os últimos estudos para o sacerdócio.

Foi ordenado sacerdote aos 17 de julho de 1905. Agora estava aberto o caminho para as Missões. Uma barba espessa cobria o seu rosto. Tudo indicava que iria para a África, mas, em fins de agosto desse mesmo ano, recebeu um telegrama de seus superiores dizendo: "Prepare-se para viajar para o Brasil e não para Camarões!"

No dia 15 de setembro embarcou para o Brasil, no transatlântico chamado "Rio Grande", e chegou ao Rio Grande do Sul no dia 31 de outubro, depois de 40 dias de viagem. Grande foi sua alegria ao ser recebido pelo Pe. C. Giessler, Superior da Missão, e Pe. V. Rumpel, que sempre esparramava alegria e otimismo, em Porto Alegre.

Depois de quatro meses, deixou a capital e veio para as colônias dos imigrantes italianos, embarcando pela primeira vez em trem brasileiro. O campo inicial de suas atividades foi Vale Vêneto. Como ainda não sabia cavalgar, não tendo outro meio para fazer o percurso de Arroio Grande - Silveira Martins - Vale Vêneto, fez mais de 30 Km a pé.

Ficou em Vale Vêneto, como vigário cooperador, durante um ano e depois foi transferido para Nova Palma, onde trabalhou durante 14 anos, na qualidade de pároco, em substituição ao Pe. Guido Spiesberger, a partir de 1907. Aí deixou traços indeléveis de sua operosidade. Médico das almas, por vocação, não deixava o Pe. Burmann de orientar o povo também sobre os preceitos mais rudimentares de higiene, nessa época em que os médicos eram tão raros e tão distantes.

Já em 03 de maio de 1907 lançou-se a pedra fundamental da Capela de Linha Sete (hoje Vila Cruz). Em 1913 empreendeu a remodelação da igreja matriz de Nova Palma e a construção da torre, obra que se concluiu em 1915. Nesse mesmo ano, foi levada a termo a capela de madeira de São Miguel do Paraíso e, já em 1920, a 31 de outubro, foi lançada a primeira pedra da atual capela de alvenaria. Em 1919 entrou a funcionar a Capela de Linha Base (hoje São Francisco).

Mas, certamente, o fato mais importante da administração do Pe. Burmann foi a elevação da então Capelania de Soturno (Nova Palma) à categoria de curato. Podia-se agora perguntar pela causa de ser Nova Palma constituída em curato e não Novo Treviso, que se achava mais ou menos em idênticas condições. Informes daquele tempo assinalam dois motivos que teriam influído poderosamente: em primeiro lugar, quando da primeira Visita Pastoral de Dom Miguel de Lima Valverde, o povo, encabeçado pelo Pe. Burmann, fez brilhantíssima recepção; em segundo lugar, o ressaltado interesse de Pe. Burmann pelas vocações sacerdotais teria tocado o coração do jovem bispo da incipiente Diocese de Santa Maria. Com efeito, no ano de 1912, Pe. Burmann enviou ao Seminário Diocesano seis seminaristas, os primeiros de Nova Palma. Tratava-se de Mons. Dr. Valentim Ferrari, Mons. Pascoal Gomes Librelotto, Pe. Aquiles Bertoldo, Pe. Júlio Marin e Pe. Ben- jamin Busato.

As associações religiosas da paróquia foram erigidas quase todas por ele: as Filhas de Maria, o Apostolado da Oração, a Confraria do SSmo. Sacra- mento, a Pia Obra das Vocações Sacerdotais e a Congregação da Doutrina Cristã. Na festa do Sagrado Coração de Jesus de 1916, em obediência à carta pastoral de Dom Miguel, datada de 12 de maio do mesmo ano, Pe. Burmann, depois de solene tríduo nos dias 28, 29 e 30 de junho, recitou a fórmula de consagração da diocese ao Sagrado Coração de Jesus, com participação dos fiéis, que também em número extraordinário receberam a Eucaristia. Durante os meses de maio e junho, desse mesmo ano, escreveu Pe. Burmann, realizou-se no curato um ato de importantíssimo significado. O Sagrado Coração de Jesus, continua Pe. Burmann, tomou posse das famílias do Curato de Nova Palma. E segue com a enumeração de 70 famílias que têm a imagem do Sagrado Coração de Jesus em primeiro lugar.

A sua atividade, radicada numa profunda vida interior, a bondade de seu coração, o zelo com que se dedicou sempre ao bem-estar moral e material do povo, fazem dele um dos maiores homens de Nova Palma. Seu devotamento pelos paroquianos é reconhecido ainda hoje com saudade. Realmente, elevou de tal forma o espírito religioso da paróquia, de modo que o paroquiano que não frequentasse os sacramentos constituía uma exceção.

Enquanto pároco de Nova Palma, foi à Europa visitar a estigmatizada Tereza Neumann, que lhe disse que voltasse para o Brasil.

Por um curto lapso de tempo foi pároco de Cerro Largo, passando depois a dirigir a Paróquia de Augusto Pestana, onde permaneceu até o fim da vida. Para lá foi em fins de junho de 1921.

Em março de 1922 a Capela São José, de Augusto Pestana, foi elevada à paróquia. Dois anos mais tarde, Pe. Burmann deu início à construção de um templo mais digno e de uma majestosa torre.

Ausentou-se da paróquia por dois anos para ir à Europa, sendo substituído por Pe. Germano Schröer. De volta da Europa, auxiliado pelos seus paroquianos, levantou o Colégio Santo Alberto, para alunos internos e externos, começando a funcionar em março de 1933 até 1935. Em princípios de 1936 este colégio passou a ser uma casa de estudos preliminares para alunos da Província de Santa Maria.

Sacerdote exemplar, Pe. Burmann dedicou toda a vida sacerdotal ao bem do povo e cuidou com zelo das vocações sacerdotais. Era também cheio de saúde e de grande clarividência. Quando na Europa expirava sua mãe, estava a falar no púlpito e disse aos fiéis: "acaba de falecer minha mãe" Sua morte fora predita por ele 15 dias antes e se recomendava às orações dos paroquianos. Nos últimos dias, tinha muito trabalho e estava com uma perna enferma. Deu um período de 15 dias de preparação intensa de catequese às crianças para a Primeira Eucaristia, a realizar-se no dia 08 de dezembro. A pedido, veio um sacerdote para auxiliá-lo, mas este, a pretexto de estar mais doente que Pe. Burmann, largou tudo e foi embora.

No dia 08 fez a Primeira Eucaristia das crianças. No domingo seguinte fez um sermão de agradecimento ao povo por ter sido tão generoso para com ele e nunca o ter ofendido ou atacado pessoalmente. Tudo indicava ser um sermão de despedida. De fato, aos 10 de dezembro de 1945, com 77 anos de idade e 40 de sacerdócio, após a missa, à mesa do café, foi surpreendido por um ataque cardíaco e morreu. Foi sepultado no cemitério local. O povo, em sinal de reconhecimento, ergueu lhe um monumento na praça. A afluência ao seu enterro foi simplesmente além da expectativa. A Cúria Episcopal de Santa Maria expediu uma circular a todo o clero da diocese, participando este lutuoso acontecimento.

 Por Pe. Dorli Signor, SAC