Notícias
Padre Hermogênio Borin (1921-2010)
1. Família
Pe. Hermogênio Borin nasceu a 20 de abril de 1921, na região chamada Caturrita, pertencente ao município de Santa Maria (RS). Seu pai, Bernardino Borin, era agricultor. Sua mãe, Amélia Magdalena Peche Borin, doméstica. Bernardino e Amélia tiveram doze filhos, oito homens e quatro mulheres, dos quais Hermogênio é o quarto.
Hermogênio frequentou a escola primária na sua terra natal. O ensino médio o fez no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Vale Vêneto (RS), de 1935 a 1939. Participou do Noviciado no ano de 1940, em São João do Polêsine (RS), e fez a primeira consagração na Sociedade Vicente Pallotti no dia 24 de fevereiro de 1942.
Em 1944, concluíu o curso de Filosofia no Seminário Central de São Leopoldo (RS). No ano seguinte, fez o estágio no Seminário de Vale Vêneto, tendo a função de professor. De 1945 a 1948, retornou a São Leopoldo (RS), onde completou o estudo de Teologia. E no ano de 1948, foi ordenado presbítero da Igreja, mais especificamente no dia 25 de fevereiro de 1948, em celebração realizada em Vale Vêneto e presidida por Dom Antônio Reis.
2. Apostolado
Pode-se afirmar com segurança que toda a vida e todo o apostolado do Pe. Hermogênio Borin foram muito movimentados. Iniciou sua atividade sacerdotal em Cruz Alta (RS), como Vigário Paroquial, onde esteve em 1949 1950. Em 1951, foi novamente professor em Vale Vêneto. No ano seguinte dirigiu-se Nossa Sento Alegre (RS), onde atuou como Vigário Paroquial na Paróquia Nossa Senhora de Fátima.
De 1953 a 1957, integrou a equipe Missionária da Província, que pregava nas paróquias do Rio Grande do Sul e em Santa Catarina e no Paraná. Nos entremeios dessa atividade, Pe. Hermogênio, interessado por abrir novos campos de apostolado para a Província, procurou novos operários para a Messe no oeste de Santa Catarina e do Paraná.
Na época, esta região estava sendo intensivamente povoada e colonizada.
Pe. Hermogênio, com o Pe. Rafael Pivetta, ajudou a levar colonos da região da Quarta Colônia para o oeste do Paraná, especialmente para aquela região que hoje é o município e cidade de Palotina.
Por isso, é considerado um dos fundadores de Palotina. A primeira missa nesse núcleo de colonização foi rezada pelo Pe. Rafael a 06 de janeiro de 1954. Pe. Hermogênio estava presente, como ele narra numa de suas cartas.
Nos anos de 1958 e 1959, esteve em Humaitá (RS) como Vigário Paroquial. De 1960 até 1972, trabalhou em algumas paróquias, mas dedicou-se especialmente à promoção vocacional.
Por isso circulou muito, tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina e no Paraná. Ele tinha um dom especial e uma grande facilidade para cativar os jovens e se relacionar com eles. Diversos dos encaminhados por ele ao seminário são padres hoje.
De 1973 a 1978, estabeleceu-se em Coronel Vivida (PR) como vigário paroquial. Nos dois anos seguintes, foi vigário paroquial da paróquia de Palotina (PR). De 1984 a 1986, esteve também como vigário paroquial em Terra Roxa (PR). E, de 1993 a 1995, foi vigário paroquial em Glória de Dourados (MS).
Nos oito anos seguintes, de 1995 a 2004, estabeleceu-se em Palotina (PR), no Seminário São Vicente Pallotti, onde exerceu variadas atividades. Nesse período, lutou contra um câncer na garganta que o fez sofrer muito. Fazia seu tratamento em Cascavel (PR). Em 2005, por questões de saúde e também de idade, veio para Santa Maria (RS). Estabeleceu-se inicialmente na Casaco Retiros e depois passou a residir na Comunidade do Patronato Antônio Alves Ramos, que possui instalações ótimas e adequadas para doentes e idosos.
3. Estilo de Ser
Pe. Hermogênio Borin era de uma personalidade muito complexa, muitas vezes até contraditória. Sempre muito inquieto, buscava novos caminhos, novos horizontes, novas ideias, tanto nas formas de vida religiosa como no apostolado. Não gostava de permanecer muito tempo no mesmo lugar. Dizia que "era ave de árvore e não de gaiola"!
Em alguns momentos, foi polêmico e até ousado em suas ideias, como no caso de "Inferno vazio". Sobre este tema, escreveu um pequeno livro que, embora provocativo, não chega a ser herético. Muitas vezes, insurgia-se contra atitudes de superiores e autoridades da Igreja e manifestava estas suas opiniões por meio de cartas que enviava a muitas pessoas.
E com seu estilo original e até agressivo, criava antipatias e rejeição em muitos que tinham dificuldade de compreender sua personalidade versátil e instável. Quem lesse um ou outro de seus escritos ou escutasse certas afirmações suas, poderia pensar que ele estava na margem da ortodoxia, tanto doutrinária como disciplinar. E, certamente, alguma vez, esteve perto desses limites!
Mas, para melhor compreender o mais íntimo deste homem complexo e contraditório, veja-se o que escreveu num documento que ele intitulou como "Testamento", com data de 26/10/1966: "Ratifico a minha crença em todas as verdades da fé, professadas pela Igreja Católica, firmo a minha esperança nas promessas de Cristo".
E, a respeito de suas polêmicas e de seus desentendimentos com coirmãos, pede, no mesmo documento: "Peço a caridade do perdão de todos e de cada um de meus colegas no sacerdócio pelas muitas ofensas e pelos desgostos que lhes causei durante a minha vida, bem como perdoo de todo o coração os poucos desgostos que recebi".
Quando abriu caminho no oeste do Paraná, tinha adquiriu e escriturou, em seu nome, terras em Terra Roxa (PR); em Cascavel (PR) e em Amambai (MS), as quais passou para a Sociedade Vicente Pallotti e que hoje estão sendo muito bem utilizadas. Num outro documento, também intitulado «Meu Testamento, assinado em 2007, afirma: "Durante a vida, me fui desmaterializando. Desfiz-me... de todas as terras conquistadas na época da colonização... de minha aposentadoria e de uma colônia que recebi de herança de meu pai". E concluía: "Creio na ressurreição da carne e na vida eterna. Serei, então, mais semelhante aos anjos e a Deus, cuja justiça é sua infinita misericórdia. Amém".
4. Despedida
Padre Hermogênio tinha uma constituição física muito forte. Alcançou os 89 anos. Apesar do câncer de garganta que o acometera, sobreviveu por mais quinze anos. Já enfraquecido pela idade, na casa de repouso do Patronato Antônio Alves Ramos, movimentava-se muito, caminhava, fazia exercícios. Nas suas últimas semanas, movimentava-se em cadeira de rodas.
Após semanas de debilidade, transtornos psicológicos agressivos e sofrimento, faleceu em seu quarto, na comunidade do Patronato, em Santa Maria (RS), onde vivia desde 2005.
Era o dia 08 de julho de 2010. No mesmo dia, foi levado a Vale Vêneto e velado na capela do Seminário Rainha dos Apóstolos. E, no dia seguinte, após a missa de corpo presente celebrada na Igreja, foi sepultado no Cemitério dos Padres e Irmãos Palotinos. Teve a presença de muito povo e de quase todos os coirmãos Palotinos que trabalham no Rio Grande do Sul, que estavam terminando o seu retiro anual, em Vale Vêneto. Roguemos para que o Senhor lhe dê a paz e a vida eterna.