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31/12/2024 - In Memoriam

Padre Hilário Cervo (1926-1995)

No último dia de 1995, às seis horas da manhã, no domingo, dia do Senhor, Pe. Hilário Cervo terminou sua vida terrena e iniciou a eterna. Conservando a memória do nosso confrade, descrevem-se aqui alguns momentos importantes de sua vida.

 1.   Família e formação

Pe. Hilário nasceu numa família numerosa e muito cristã. Era o último dos doze filhos do casal João Cervo e Luiza Dallasta Cervo. Viu a luz do mundo no dia 14 de setembro de 1926, em Santos Anjos, então município de Cachoeira do Sul (RS).

Entrou no seminário menor de Vale Vêneto (RS) em 1940, e lá permaneceu até o final de 1946. Em 1940, completou o curso primário, iniciado em Santos Anjos, e, nos anos seguintes, fez o curso ginasial, vencendo com muita persistência as dificuldades ligadas aos estudos.

Terminado o curso ginasial, fez, em 1947, em Augusto Pestana (RS), o seu ano de noviciado. Ao terminá-lo, foi a São João do Polêsine, onde os Palotinos tinham o seu Seminário Maior. Lá fez todos os seus estudos de Filosofia e de Teologia.

Promulgou a sua primeira consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico (SAC), no dia 02 de fevereiro de 1949, e a consagração perpétua, no dia 02 de fevereiro de 1952. Foi ordenado presbítero por Dom Antônio Reis, no final do terceiro ano de Teologia, na igreja matriz de Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria (RS), no dia 20 de dezembro de 1953, junto com seus colegas de curso: Eduardo Dagiós, Sisto Trevisan, José Giuliani, José Pascoal Busato, José de Aguiar e Osvaldo Viegas.

Concluído o curso teológico em 1954, Pe. Hilário iniciou o seu ministério sacerdotal, que foi intenso e diversificado. Dotado de uma grande força de vontade, foi muito empreendedor e tenaz nas suas muitas iniciativas pastorais e sociais.

2.   Apostolado

Seu primeiro campo de trabalho foi a paróquia de Guaíra (PR), trabalhando de vigário cooperador entre os anos de 1955 a 1957. De 1958 a 1960, foi Diretor da Pia Obra dos Cooperadores Palotinos e residiu na Casa de Retiros, em Santa Maria. Em dezembro de 1961, foi nomeado Conselheiro Provincial, período em que também exerceu o ofício de Ecônomo Provincial, isto até 1965.

No capítulo Geral da Sociedade do Apostolado Católico, realizado em Roma em 1965, foi eleito Conselheiro-Geral e representante dos Palotinos sul- americanos. Durante os seis anos seguintes ficou em Roma, oportunidade em que também fez um curso de aperfeiçoamento na língua italiana, na "Società Dante Alighieri", que lhe conferiu o certificado para ensinar a língua italiana no exterior. Antes de voltar ao Brasil, em 1972, fez um curso de catequese em Bruxelas, na Bélgica.

Ao retornar ao Brasil, em 1973, Pe. Hilário trabalhou, sobretudo, no centro e no norte do Brasil. De 1973 a 1977 esteve na diocese de Dourados (MS). Neste local, foi por vários anos Diretor Diocesano de Pastoral, Diretor Diocesano do Movimento de Cursilhos de Cristandade, coadjutor da paróquia de Nossa Senhora de Fátima e pró-vigário de Douradina. Nesse período, também se dedicou ao magistério superior, pois obteve a licenciatura em Filosofia na Universidade de Passo Fundo no ano de 1974. Ele foi professor de História Antiga no Centro Pedagógico de Dourados; de Psicologia Geral e Psicologia Educacional na Escola Menodora Fialho de Figueiredo e de Filosofia na Universidade de Dourados.

Em 1978, o Pe. Hilário deixou Dourados e foi para Manaus (AM), lá permanecendo até 1986. Inicialmente, trabalhou como pároco da paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Praça XIV, a qual, com a sua intervenção, em 1982, foi elevada à categoria de Santuário pelo arcebispo de Manaus, Dom Milton Correa Pereira. No mesmo ano, começou a publicar o boletim "A Voz do Santuário. Também construiu, ao lado do santuário, uma capela para a adoração eucarística.

Além disso, manteve programas de rádio e televisão, construindo amplo centro social na Praça XIV. Ele também foi professor de Filosofia no Centro de Estudos Teológicos, incentivou muitos movimentos, tais como: Cursilhos de Cristandade, Encontros de Casais com Cristo (ECC) e comunidades neocatecumenais. Sua atividade pastoral e social repercutiu significativamente em Manaus.

No dia 29 de abril de 1983, a Assembleia Legislativa do Amazonas lhe tributou reconhecimento e aplausos por ter inaugurado, nas imediações da Praça XIV, um posto médico para atendimento à população pobre daquele bairro. No dia 31 de outubro de 1983, a Câmara Municipal de Manaus concedeu ao Pe. Hilário o título de "cidadão benemérito de Manaus", como reconhecimento público e solene de grande parcela da população manauara aos seus grandes méritos.

Em 1986, o Pe. Hilário foi transferido para Porto Velho, capital da Rondônia, lá permanecendo até o início de 1992. Trabalhou na paróquia de São Luiz Gonzaga, no Bairro Meu Pedacinho de Chão, dando especial atenção ao Cursilho de Cristandade, ao Encontro de Casais com Cristo, as comunidades neocatecumenais e à formação de lideranças cristãs. Por motivos de saúde, teve que deixar Porto Velho e transferir-se para Porto Alegre a fim de ter um melhor acompanhamento médico.

Chegando em Porto Alegre (RS) em 1992, assumiu com muito entusiasmo a paróquia São Vicente Pallotti, mas sua presença à frente daquela paróquia foi por pouco tempo. Uma infecção pulmonar causada por um fungo transmitido por aves manifestou-se de forma rápida e violenta. Passou grande parte do ano 1993 hospitalizado e sob constantes cuidados médicos. Sofreu uma cirurgia pulmonar com o fim de extirpar a parte em que se tinham localizados os fungos.

Ao restabelecer, de forma satisfatória, a saúde, em 1994 assumiu a direção da paróquia de Itapejara do Oeste (PR), onde esteve até maio de 1995.

Em 30 de julho de 1995, a convite de Dom Ângelo Salvador, bispo de Cachoeira do Sul (RS), assumiu a direção da paróquia de Sobradinho (RS). Rapidamente, conquistou a simpatia dos fiéis.

No mês de setembro de 1995, surgiram novos e fortes problemas de saúde. O diagnóstico médico acusou hepatite crônica ativa (tipo C) e cirrose hepática sem possibilidade de cura. Pe. Hilário fez um rigoroso tratamento em Porto Alegre (RS) e em Santa Maria (RS).

3.   Doença e despedidas

Visivelmente, o Pe. Hilário foi perdendo as suas forças. A quem o visitava, pedia orações, dizendo sempre que seu dia estava chegando. Nos dias seguintes, mais exames foram feitos, e diagnosticaram uma doença altamente contagiosa.

No dia 28 de dezembro, pediu para falar com o Provincial, Pe. Lino Baggio, oportunidade em que relatou momentos importantes de sua vida, sua alegria e seus desafios. Ainda com bastante lucidez e serenidade, admitiu que estava chegando o seu fim. Também pediu ao Pe. Lino que, durante a celebração de corpo presente, dissesse a todos as seguintes palavras: "Pe. Hilário pediu perdão a todos os que magoou através de palavras e de atitudes e, igualmente, perdoa a todos. Resaltou ainda que Estava morrendo em paz".

No final do encontro, o Pe. Lino Baggio, acompanhado dos padres Ademar Fighera, Moacir Piovesan e Félix A. Pillon (colega de curso), deu ao Pe. Hilário a unção dos enfermos. No dia 31 de dezembro, pelas seis horas da manhã, Pe. Hilário "morria em paz".

Devido à doença contagiosa, o médico ordenou que seu corpo fosse sepultado o mais rápido possível, não podendo ser aberto o caixão, hermeticamente fechado. O corpo foi levado a Vale Vêneto e velado na capela da Mãe Três Vezes Admirável, junto ao seminário menor. As quinze horas, foi levantado o corpo e conduzido à igreja matriz, onde houve missa concelebrada por mais de vinte padres, presidida pelo Pe. Lino Baggio, com a presença do Mons. Breno Simonetti, Vigário Geral da Diocese de Cachoeira do Sul, além dos seus muitos parentes e amigos.

A homilia foi feita pelo Pe. Félix A. Pillon, seu colega de curso, e as últimas orações na igreja e no cemitério foram feitas pelo pároco local, Pe. Osvaldo Viegas, também seu colega de curso. Pe. Hilário completou o primeiro cemitério dos Palotinos em Vale Vêneto. Ele é a 64ª cruz. Pe. Hilário deixou o testemunho de uma profunda e simples vida consagrada.

Era possuído e animado de uma grande devoção à Maria Santíssima e ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Graças à sua união com Maria e com Cristo, conseguiu superar as muitas dificuldades que marcaram a sua caminhada de consagrado e de presbítero, e também as suas dificuldades de ordem física e de ordem psíquica. Na comunidade, muitas vezes sentiu dolorosamente suas limitações, pois a vida comunitária não lhe era fácil. Muitas vezes, a vontade e os sentimentos tomavam o lugar da razão. Onde esteve e trabalhou, encontrou amigos, mas também opositores. Suas transferências foram sofridas.

Os últimos meses foram assinalados por um amadurecimento espiritual notável. Sempre tivera muito medo da morte e, a cada sinal dela, procurava confessar-se e receber a unção dos enfermos. Através do seu Espírito, o Senhor o foi preparando para a longa viagem de retorno. O amor misericordioso de Deus tirou-lhe os temores e a angústia. Suas palavras, "Estou morrendo em paz", manifestam o triunfo da fé, da esperança e do amor. Que Deus o tenha para sempre em sua comunhão!