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Padre Hugo Antes (1932-1998)
Para que se guarde a memória e se tenha uma eterna gratidão pelo dom que todo servo de Deus realiza na humanidade, apresentam-se alguns traços importantes da pessoa e da vida do Pe. Hugo Antes, reconhecendo a impossibilidade de conhecer o íntimo das pessoas, sempre envolta nas névoas do mistério, diante do qual só há espaço para o silêncio e o balbucio.
1. FAMÍLIA E FORMAÇÃO
Hugo Antes nasceu em Cerro Largo (RS) no dia 30 de junho de 1932. Era filho de José e de Joana Köhler Antes. Vinha de uma família de doze filhos e muito cristã. Fez os estudos primários e parte dos estudos ginasiais em sua terra natal. Cerro Largo teve laços especiais com a comunidade Palotina, pois os padres palotinos, por muitos anos, lá exerceram o seu trabalho pastoral e, em muitas famílias, deixaram saudades. Uma dessas famílias era a família Antes. Vale recordar, inclusive, o testemunho de sua mãe, Joana.
Diz ela que, quando os Palotinos tiveram que deixar Cerro Largo, seu pai, Leonardo Köhler, a mandou até a casa paroquial para despedir-se do pároco, Pe. Leonardo Naab. Ao despedir-se dele, o padre lhe disse: “Antes de voltar para casa, vá à igreja e peça de joelhos a Deus que chame um filho desta paróquia para ser padre palotino”. A menina foi à igreja e, diante do tabernáculo, rezou: “Jesus, que estás no tabernáculo, faze que um dia um seminarista desta grande paróquia se torne padre Palotino”. Passou longo tempo em oração e sentiu-se contente e aliviada por ter atendido O último desejo do Pe. Leonardo Naal. E ela acrescentou. “Naquela hora imaginei que o Senhor chamaria um dos meus doze filhos a ser padre palotino”.
Pe. Hugo Antes entrou no seminário menor de Vale Vêneto (RS) em 1950 e, em 1953, completou os seus estudos secundários. Em 1954, foz. noviciado palotino em Augusto Pestana, no Colégio Santo Alberto, sob a orientação do Pe. José Cancian. Durante o noviciado, começou o curso de Filosofia, que concluiu no Seminário Maior de São João do Polêsine (RS). Terminado o curso de Filosofia, passou um ano em Vale Vêneto como assistente dos estudantes do Pensionato Nossa Senhora de Lourdes, anexo à casa paroquial local.
Fez todos os cursos teológicos no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria, e recebeu a ordenação sacerdotal em 07 de julho de 1963, na cidade de São Gabriel (RS), das mãos de Dom José Gomes, primeiro bispo de Bagé e hoje bispo de Chapecó (SC). Junto com o Pe. Hugo Antes foram ordenados P.P. Arnaldo Giuliani e Veríssimo Mânfio, seus colegas de curso.
2. APOSTOLADO
Tendo terminando o curso de Teologia em 1964, Pe. Hugo começou a sua atividade sacerdotal propriamente dita em 1965. Como ele conhecia a língua alemã, sua atenção pastoral aconteceu em paróquias marcadas por forte presença alemã. Seu primeiro campo de trabalho foi a paróquia de São Martinho (RS), onde ficou de 1965 até 1978, atuando primeiro como vigário e depois como pároco. Além do trabalho na paróquia, empenhou-se muito no ensino. Lutou pela criação do Ginásio Comercial e, por muitos anos, foi professor daquele ginásio, inclusive seu conceituado diretor. Durante o tempo em que esteve em São Martinho, Pe. Hugo Antes procurou aprofundar e complementar sua formação científica e filosófica. Ele completou os estudos filosóficos na Faculdade Imaculada Conceição FIC, em Santa Maria (RS), fez o curso de Pedagogia e a especialização em Administração Escolar na Universidade de Passo Fundo (RS).
Seu segundo grande campo de trabalho foi na paróquia de Augusto Pestana (RS). No ano de 1978, foi transferido de São Martinho para aquela paróquia, onde trabalhou como vigário cooperador e, a partir de 1983 até 1991, como pároco. No ano de 1983, exerceu na Secretaria da Educação o cargo de supervisor de Ensino Religioso nas 35 escolas municipais. A paróquia de Santa Cecília, em Humaitá (RS), foi a última etapa de sua caminhada de padre. Assumiu aquela paróquia no ano de 1991. Aposentado como professor, pôde dedicar-se por inteiro às atividades de pastor daquela comunidade católica. E foi no pleno exercício do seu ministério sacerdotal que foi acometido de forma implacável pela doença que o levou ao término de sua existência terrena, na madrugada do dia 25 de junho de 1998.
3. ENFERMIDADE, MORTE E SEPULTAMENTO
Pe. Hugo foi muitas vezes visitado por doenças e sempre teve que cuidar de sua saúde frágil. Muitos foram os médicos consultados e os hospitais visitados. Enfrentou com trepidação, mas sempre com muita esperança, várias cirurgias. Depois da primeira cirurgia, sofrida há dez anos, ele dizia que “a saúde não é mais a mesma. Não tenho ilusões. A vida é assim mesmo. Somos como flor do campo. Hoje estamos aqui, amanhã uns palmos de terra nos esperam e nos acomodam em Vale Vêneto. O importante é ter feito alguma coisa na vida, ter sido útil aos outros, sem esperar grandes elogios e recompensas neste mundo que passa tão depressa”.
No ano de 1998, sua saúde começou a inspirar maiores cuidados e a exigir tratamentos especiais. Sofreu forte pneumonia e, por fim, teve problemas cerebrais que lhe exigiram internamento na UTI do Hospital de Caridade de Ijuí, onde passou mais de uma semana sem poder comunicar-se com as muitas pessoas que o visitavam. Todos aguardavam seu restabelecimento, mas, nos primeiros minutos do dia 25 de junho, ele retornou à casa do Pai acompanhado de Cristo, seu fiel Companheiro, Caminho, Verdade e Vida.
A notícia da sua morte espalhou-se rapidamente pela região da serra, onde sempre viveu e trabalhou. Seu corpo foi velado na capela mortuária do Hospital de Caridade, em Ijuí, a fim de facilitar a despedida de muitos familiares, paroquianos e amigos seus. Após uma celebração eucarística, presidida por Dom Jacó Hilgert, bispo de Cruz Alta (RS), e muitos padres diocesanos e confrades daquela região, em que participaram muitos parentes e amigos, seu corpo foi conduzido ao cemitério palotino, em Vale Vêneto. Antes de seu corpo baixar a terra, esteve exposto na igreja matriz local, onde foi celebrada uma missa presidida pelo seu colega de ordenação acompanhado de mais trinta padres palotinos. Uma grande delegação da comunidade paroquial de Humaitá acompanhou o corpo do Pe. Hugo até o último lugar e expressou-lhe seu carinho e gratidão através de cantos e preces. Um membro da comunidade de Humaitá disse-lhe belas palavras de admiração, de gratidão e de despedida. Pe. Hugo Antes, no dia 30 de junho, completaria 66 anos de idade. Tinha 42 de consagração palotina, à qual desde o ventre da mãe estava unida, e dia 07 de julho completaria 35 anos de sacerdócio.
4. CONCLUSÃO
Não compete a nós fazer um juízo sobre a pessoa e o trabalho feito pelo Pe. Hugo Antes, basta conhecer suas intenções. Ao celebrar os 25 anos de padre, o Pe. Hugo abriu seu coração e disse: “Valeram a pena os 25 anos de sacerdócio, nem sempre fáceis, mas não faltou a força e a presença de Maria para que a gente não fracassasse. Aliás, sempre procurei inculcar nas pessoas a devoção mariana, a reza do terço e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Conheço minhas limitações. Sempre procurei cumprir com o meu dever sacerdotal e espero continuar assim. Não estou arrependido. Apenas sinto não ter podido fazer mais. O meu sonho era, depois de aposentado do magistério, poder trabalhar só na pastoral numa paróquia. A gente faz os planos, sonha e caminha neste mundo, mas, às vezes, Deus tem outros planos. Enfim, seja o que Deus quiser. O dia de amanhã não pertence a nós” (Informações Palotinas, 1998, n. 2, 22-29).
Deus leva em consideração até os nossos mínimos desejos e por isso esperamos que suas aspirações de padre tenham encontrado plena realização graças ao amor infinito Daquele que nos amou e continua a amar-nos por primeiro. Um sentimento de gratidão deve estar em nosso coração. Primeiro a Deus, pelo chamado vocacional, segundo à mãe do Pe. Hugo Antes, que direcionou as suas preces para que nunca faltem vocações sacerdotais e religiosas e, ao perceber que um de seus filhos era um dos chamados, motivou-o sem egoísmo e com muita fé.