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Notícias

23/06/2024 - In Memoriam

Padre João Iop (1878-1936)

Nasceu em Val de Buia, aos 12 de maio de 1878, no “barracão dos imigrantes”, nos primeiros dias da colonização italiana de Silveira Martins. Como sabemos, os primeiros imigrantes italianos que vieram a Silveira Martins, logo que chegaram, acamparam em Val de Buia, ao pé do cerro de Silveira Martins. Por falta de casas, acamparam em um barracão. Estavam um tanto desanimados, por muitos motivos, principalmente por falta de assistência religiosa. Sendo pouco o lugar para tanta gente, os pais do Pe. João armaram uma pequena barraca, com lençóis, ao lado do barracão. Numa manhã, sai o pai, com João nos braços, gritando, cheio de contentamento: “Nasceu um padre, nasceu um padre!”… Parece que previa o futuro.

Com 14 anos de idade, João entrou no Seminário, com mais uns meninos, levados pelo Pe. João Vogel. Foi dos primeiros alunos palotinos do Brasil e foi para Vale Vêneto, cujo Seminário funcionava na Casa Paroquial, em 1892. Sendo transferido o Seminário para Tristeza, os alunos também tiveram que ir para lá. Fez os estudos secundários e filosóficos em Tristeza e os teológicos em Porto Alegre. Não era dos primeiros da aula, mas era muito estudioso.

 Fez a primeira profissão religiosa na S.A.C. aos 25 de maio de 1897. Foi ordenado sacerdote aos 26 de junho de 1902, por Dom Cláudio Ponce de Leão, com 24 anos de idade. Foi o primeiro neossacerdote a celebrar a primeira missa em Vale Vêneto, onde também passou a trabalhar como vigário cooperador. Neste cargo, regularmente, atendia a Ivorá, a 30 quilômetros de Vale Vêneto. Perfazia sempre esta distância a cavalo, através das picadas, em busca daquelas almas.

Tinha a têmpera de autêntico gaúcho. Encarnava a personalidade de São Francisco de Assis. De 1906 a 1910 passou a residir em Ivorá, na qualidade de capelão, por causa do aumento da população daquele lugar. Foi o primeiro sacerdote a residir em Ivorá. Por sua bondade, espírito alegre e, principalmente, por seu zelo apostólico, era muito estimado e querido por todos. Aí melhorou a casa paroquial primitiva, comprou alfaias necessárias para o culto divino e terminou de pagar as dívidas da construção da Igreja Matriz de alvenaria. Depois, foi vigário cooperador do Pe. Rumpel, em Passo Fundo, de 1910 a 1912. Esta paróquia abrangia grande parte da Serra Rio-grandense. Basta dizer que de norte a sul media 275 Km. Em 1935 aquela paróquia já estava desmembrada em 20 paróquias. Diz-se que não havia lugar que o Pe. João não conhecesse, e tudo isso em lombo de cavalo.

Deixando Passo Fundo, em 1912, foi até 1913, primeiro secretário do primeiro Bispo de Santa Maria, Dom Miguel de Lima Valverde. Pe. João era muito humilde. De si mesmo costumava dizer que era um “NANNI’… De 1913 até sua morte, em 1936, foi pároco de Vale Vêneto. Era muito fiel a seus deveres. Certo dia saíra para atender a uma capela. Daí a meia hora, ei-lo de volta: esquecera o Manual de Preces e o livro de Leitura Espiritual… Era também muito zeloso na paróquia. Disse dele Dom Miguel, em sua Visita Pastoral de 10 de janeiro de 1916: “Tivemos o prazer de encontrar a paróquia em muito boa ordem, quase não encontrando o que corrigir, senão muito que louvar”. Dizia o mesmo bispo em 16 de novembro de 1917: “Tendo encerrado hoje os trabalhos da Visita Pastoral na Paróquia de Vale Vêneto, encontramos tudo na mais perfeita ordem, tanto na administração espiritual como na temporal. Deixamos aqui os nossos bem-merecidos louvores ao Rvdo. Pe. João Iop, e pedimos a Deus o abençoe e conforte para maiores trabalhos em bem das almas em boa hora confiadas à sua cura pastoral”.

O segundo Bispo de Santa Maria, Dom Ático Eusébio da Rocha, aos 19 de outubro de 1928, diz: “Merece novamente o Pe. João os mais justos e francos elogios e favores” Ora, quem conhece a franqueza, crua às vezes, dos Srs. Bispos, em tais documentos, pode bem avaliar a significação dos testemunhos acima… Em Vale Vêneto, onde foi pároco por 33 anos, reformou a Igreja Matriz, não chegando a concluí-la.

Foi Superior Distrital, a princípio e, depois, Regional, por bem 14 anos, isto é, de 1922 a 1936, ano de sua morte. Deu grande impulso aos palotinos no Rio Grande do Sul.

Sob seu governo foi construído o Seminário de Vale Vêneto e foram lançados os alicerces do Seminário de São João do Polêsine. Fundou também o Pensionato São Luís, em Vale Vêneto, destinado a adolescentes e jovens que estudavam no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, da mesma localidade, dirigido pelas Irmãs do Imaculado Coração de Maria. O Pensionato estava sob a direção dos palotinos.

Pe. João esteve na 5ª Assembleia Geral, que se realizou em 1925, em Roma. Igualmente, em 1931, onde expôs a situação da Região da S.A.C. no Rio Grande do Sul. Sendo pároco em Vale Vêneto, recebeu, em 1915, os primeiros alunos palotinos que passaram a residir definitivamente em Vale Vêneto, pois antes estudavam em Tristeza. Estes alunos passaram a residir na Casa Paroquial e tinham aulas no colégio das irmãs.

Ao seu jubileu de prata sacerdotal esteve presente Dom Ático, como homenagem especial. Numa sexta-feira, 19 de junho, fez uma singular despedida ao Pensionato São Luís. É Ir. Jacinta Susin quem registra o fato, relatando suas palavras: “Vou à Capela de Polêsine para celebrar a festa de São João, domingo. Vou, mas não sei se volto. Rezem por mim!”…Pressentia alguma coisa. Tomou do seu breviário um santinho de luto e deu-o à Ir. Jacinta, dizendo: “Guarde isso! Não se assuste!” Depois dirigiu-se aos meninos do Pensionato: “Meus filhinhos, vamos cantar um canto à Nossa Senhora. Eu escolho: “Tudo darei, mas por Maria”” Em seguida, o que espontaneamente não fazia, dirigiu aos alunos calorosas recomendações. Depois, saiu para a calçada com a irmã: “Então, minha filha (aliás, só usava este apelativo no confessionário), nas dificuldades, sempre confiança e perseverança! Promete?” Apertou-lhe a mão vigorosamente, o que nunca fizera, deu um suspiro e exclamou: “Jesus, protege este pensionato!” E partiu. Logo voltou-se para, de novo, afastar-se um pouco. Virou-se de novo e disse: “Que Jesus abençoe isso tudo!”

Domingo, 21, celebrou a festa de São João. Daí deveria ir à Nova Palma para confessar as Irmãs Palotinas, mas não se sentia bem. “Não sei se ir adiante ou voltar para casa” – disse a um amigo. Contudo, foi à Nova Palma. “Sou sempre o Tomé” – gracejou – dirigindo-se ao Pe. João Zanella e ao Pe. José Busato aí presentes. Narra o Pe. J. Busato: “Estávamos, Pe. Zanella e eu, quando chegou o Pe. João. Viera, pois no dia seguinte festejaríamos juntos o seu padroeiro, São João. Perguntado quando fizera a festa de São João, em Polêsine, disse: “Eu já a antecipei”. Após a refeição ouvimos um pouco de rádio. Pe. João subiu ao quarto. Daí a momentos ouvimos vários gemidos. Corremos ao quarto. Uma síncope cardíaca prostrara-o de joelhos. Pe. Zanella correu ao médico. Administrei-lhe a Unção dos Enfermos. Pouco depois, entregava o espírito”…

No dia seguinte, o cadáver foi levado a Vale Vêneto, onde realizaram-se as exéquias e o enterro, em meio a extraordinário concurso de povo. O Sr. Bispo Diocesano, Dom Antônio Reis, veio especialmente de Santa Maria para presidir as cerimônias fúnebres e, no ato do sepultamento, proferiu vibrante oração, exaltando a vida de sacerdote modelar que fora Pe. João Top. Assim, na vigília de seu onomástico, 23 de junho, Pe. João entregava sua grande alma a Deus. Foi celebrar a sua festa no céu, com grande perda para a Província e para os que aqui ficavam. Tinha 58 anos de idade e 34 de sacerdócio.

 

Pe. Alziro Roggia, SAC