Av. N. S. das Dores, 903 - Santa Maria - RS

(55) 3025-2277

(55) 3025-2266

Notícias

05/05/2025 - In Memoriam

Padre João Tomasi (1925-1996)

Mais uma vez, no ano de 1996, a Província Nossa Senhora Conquistadora foi surpreendida com a despedida inesperada de um irmão para a casa do Pai. Nas primeiras horas do domingo, dia 05 de maio deste ano, ao amanhecer, faleceu Pe. João Luiz Tomasi. Consola a todos a esperança de reencontrá-lo na casa do Pai, para onde, certamente, foi conduzido pelo Cristo, Caminho, Verdade e Vida, mas permanece uma grande saudade. Recordar o irmão falecido é um desejo, mesmo conscientes de não penetrar o seu mistério, que e riqueza em graça e bondade.

Família e formação

Pe. João Luiz Tomasi nasceu em Nova Palma (RS) no dia 16 de junho de 1925. Era filho do casal Francisco Tomasi e Angela Tagliapietra. Sua alegria de vir ao mundo foi turbada pela morte do pai quando ele contava com apenas três anos de idade. Aos cinco anos, perdeu também a mãe, e irmãozinho. João Luiz era o primogênito. Esta dupla orfandade em tão tenra idade, aliada à perda do irmão, calou profundamente em toda a sua sensibilidade, marcando-a para o resto da sua vida.

Foi acolhido e criado por suas tias, às quais dedicou sempre um carinho todo especial. Fez os estudos primários em Nova Palma, na Escola Nossa Senhora Mediadora, dirigida pelas Irmãs Palotinas. Foi coroinha do bondoso Pe. João Zanella. Sentindo-se chamado para o ministério sacerdotal, entrou, em 1939, no seminário menor palotino em Vale Vêneto (RS), onde, até 1944, fez o curso ginasial, revelando-se um rapaz inteligente e aplicado.

Terminado o curso ginasial, iniciou, em 1945, o noviciado em São João do Polêsine (RS), sob a direção do Pe. Agostinho Michelotti, e terminou-o em Cadeado (RS), hoje Augusto Pestana. Começou, em 1946, seus estudos de Filosofia em São João do Polêsine, onde fez também todo o curso de Teologia. A conselho do seu diretor espiritual, interrompeu, por um ano, os estudos de Teologia, permanecendo, em 1951, no seminário de Vale Vêneto, onde lecionou português, latim, francês e história natural. Esse ano foi muito importante para ele. Em 02/03/1951, escrevia ao seu Provincial: “Graças ao cuidado de V. Revma., estou nesse oásis de paz, em que o exemplo dos confrades me arrasta para o alto. Dia adia, Jesus me fala ao coração: “Serás meu sacerdote”.

De resto, me sinto psicológica, moral e asceticamente disposto a envidar todos os esforços para o ser. Sob as bênção e graças do Divino Amigo e da grande Educadora, o homem de virtude e heroísmo vai crescendo e se robustecendo nesse meu coração, outrora tão perverso. Posso mesmo garantir-lhe que a MTA, a quem confiei meus problemas, operou em mim um verdadeiro milagre de transformação interior. E meu dever, agora, e fazer frutificar as graças que recebi e continuamente estou recebendo. A Providência Divina parece querer me abismar em suas graças e bênçãos”.

Recebeu a ordenação sacerdotal em Nova Palma (RS), no dia 21 de dezembro de 1952. Sua ordenação e sua primeira missa tocaram-no bastante. Alguns dias após a sua ordenação, ele escrevia ao seu Provincial: “Estou ainda gozando as divinas alegrias da ordenação e primeira missa. Quanto conforto, quanta felicidade para o coração!”. Em 1953, terminou o curso de Teologia em São João do Polêsine (RS).

Apostolado

Demonstrando especial aptidão e gosto para o estudo e a comunicação, pois sabia falar e escrever bem, e interessado, sobretudo, no conhecimento do homem, seus superiores encaminharam-no para o magistério superior. Começou sua atividade de mestre e de educador em Cadeado, em 1954, onde esteve até 1957 como professor de Filosofia, que naquela época era dada e estudada em latim. Em 1957, esteve em São João do Polêsine lecionando Filosofia. A partir de 1958 até sua morte, trabalhou como professor, sobretudo de Psicologia, no Colégio Máximo Palotino, nas Faculdades Imaculada Conceição, na Universidade Federal de Santa Maria e no Instituto Diocesano de Pastoral Catequética.

Para aprofundar seus conhecimentos teóricos e práticos no vasto campo da psicologia, frequentou a PUC de Porto Alegre (RS), fez cursos especiais em várias cidades do Brasil e, de 20 de setembro de 1964 até 20 de unho de 1965, esteve em Madrid, gozando de uma bolsa de estudos, concedida pelo governo espanhol. Adentrou-se na área da Psicologia e da Psiquiatria. Ouviu renomados mestres.

Chegou à capital espanhola com grande curiosidade e vontade de crescer em conhecimento e em experiência. Em sua primeira carta ao Provincial, escrevia: “Estou custando crer, pois vivo momentos privilegiados. Jamais pensei que dessa forma pudesse eu chegar até cá. Esta vida tão diferente dos dez anos de intensas atividades didáticas será mérito? Não, apenas bondade divina dos superiores. Uma coisa é certa; vou aproveitar muito para repouso, assimilação, organização, autoeducação e santificação. Tudo farei para ser útil, mais eficiente, mais positivo aos seminários e à Província”.

O professor Tomasi

Pe. João Tomasi exerceu o seu ministério, o seu apostolado, dedicando-se quase por inteiro à docência. Gostava do seu trabalho docente, para o qual se preparava com muita seriedade e consciência. Não media esforços para despertar o interesse dos alunos e motivá-los para o conhecimento da psicologia humana.

Através de suas aulas, além de conhecimentos, oferecia motivações, estímulos e pistas de libertação e de amadurecimento. Alegrava-se ao ver os alunos crescerem e tornarem-se livres de complexos e conflitos e com atitude mais positiva diante da vida. Sabia acolher, aconselhar e orientar. Sentia prazer de estar na sala de aula e, sobretudo, de encontrar-se com os alunos, com os quais mantinha um diálogo descontraído e amigo. Além de mestre, soube ser amigo. Na docência, encerrou os seus dias. Seus alunos foram enriquecidos de presença, de luz, de estímulo e de apoio.

João Tomasi psicólogo

Muito sensível aos sentimentos humanos, desde cedo mostrou interesse em ajudar os que sofrem. Especializou-se na área da Psicologia, do atendimento e do aconselhamento. Enfrentando incompreensões e críticas, abriu, em Santa Maria, em 1967, uma clínica psicológica cujas portas estiveram abertas a tantos quantos fossem em busca de ajuda. Ocupava seu dia na cátedra e no consultório. Sabia ouvir com muita paciência, criava empatia com o paciente e com ele procurava solucionar os conflitos. Não tinha em vista o lucro. Era um profissional dedicado e escrupuloso no cumprimento do seu nobre dever. Grande conselheiro e orientador vocacional, ele ajudou a muitos a descobrir o seu lugar na vida.

João Tomasi padre

João Tomasi não foi apenas um grande professor e um bom psicólogo, mas também um bom padre, como desejava sê-lo. Além de sua atividade docente, soube dedicar tempo a várias comunidades cristãs, sobretudo na periferia pobre de Santa Maria. Visitava com prazer as famílias. Um membro de uma comunidade, atendida por Pe. João, disse ter sido ele para aquela comunidade uma irradiação do Bom-Pastor. Especialmente nos últimos tempos, aflorava nele a preocupação por viver o dom do sacerdócio e, mais vezes, declarou sentir-se feliz como padre. Maior era sua participação nos momentos de oração e de celebração da comunidade.

O desenlace

O sofrimento físico e moral sempre acompanhou Pe. João. Sofria de reumatismo, de artrose óssea e era diabético. Não lhe era fácil seguir uma dieta adequada. Seu organismo, nos últimos anos, dava sinais de rápido envelhecimento, feridas já não cicatrizavam e aumentava o teor de glicose no sangue. Suas forças físicas declinavam, não porém as psíquicas. Pelo contrário, sofria também por causa dos seus limites, das incompreensões. Tinha um grande círculo de amigos, sobretudo de famílias. Gostava de estar e de jantar nas famílias amigas. Apreciava o aconchego familiar e gostava de entreter-se com as crianças. Pois foi no seio de uma família amiga que acabou seus dias. No dia 04 de maio, à noite, foi convidado a jantar em casa de uma família. Estando avançada a hora, aceitou o convite da família para passar a noite na casa, não porém sem antes avisar a sua comunidade onde se encontrava. Ao levantar-se, pela manhã, sofreu um colapso. Foi encontrado sem vida, debruçado sobre a cama, bem ajeitado e vestido. Teria falecido pelas 07 horas da manhã. Como causa mortis o médico apontou “cardiopatia isquêmica- diabetes”


Velório e sepultamento

Seu corpo foi velado no Colégio Máximo Palotino, em cuja entrada foi armada a câmara ardente. Inúmeras pessoas e grupos passaram junto ao seu corpo, emocionados, deixando flores, preces e muitas lágrimas. Às 18h houve celebração eucarística presidida pelo seu colega, Pe. Aquiles Rubin, com a participação de muitos padres, seminaristas Palotinos e diocesanos, professores, religiosos e leigos. Durante toda a noite, houve vigília de oração, cantos e reflexão. Muitos grupos das comunidades que foram atendidas por ele vieram dizer-lhe adeus.

Dom Ivo Lorscheiter, que tinha retornado da Alemanha nas primeiras horas do dia seis de maio, foi para o CMP a fim de se despedir do estimado confrade Palotino. Conduzido a Vale Vêneto, a igreja matriz local tornou-se pequena para acorrer os que vieram, de muitos lugares, para a celebração eucarística exequial. Foi uma das celebrações mais emocionantes. Houve muita lágrima, sobretudo quando foi cantado o canto composto por Pe. Valdemar Munaro: “Vai, João, vai para o seio de Abraão”.

Caríssimos irmãos, apesar da grande saudade que toma conta de nós, queremos agradecer a Deus pelo irmão João e recomendá-lo à sua infinita misericórdia, oferecendo-lhe ao menos uma celebração eucarística, na sua intenção, como prevê nossa legislação palotina.