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18/09/2024 - In Memoriam

Padre José Spönlein (1881-1963)

Pe. José Spönlein nasceu em Lauda, Alemanha, no dia 03 de julho de 1881. Era o segundo dos quatro filhos do casal Paulo Spönlein e Margareth Schreck.

Tendo feito seus estudos primários e secundários na Alemanha, entrou na Pia Sociedade das Missões (hoje Sociedade do Apostolado Católico), em Másio, Itália, no ano de 1897. Iniciou o ano de noviciado em 1° de novembro de 1889, em Rocca Priora, perto de Roma, e, em 1° de novembro de 1901, fez sua primeira consagração a Deus na Pia Sociedade das Missões.

De 1901 a 1903 estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana. De 1903 a 1907 fez os estudos de Teologia em Bruchsal, na Alemanha. Foi ordenado padre por Dom Jacinto Arcangeli, em Asti, Itália, no dia 29 de junho de 1907.

No mesmo ano, Pe. José Spönlein veio como missionário palotino para o Brasil, onde permaneceu até o fim de sua vida. Ele foi o último dos palotinos europeus pertencentes à Província Nossa Senhora Conquistadora. A longa vida do Pe. José foi marcada pela mobilidade, por intensa e variada atividade, por muitos sofrimentos e também por muitos frutos apostólicos.

Tendo chegado ao Brasil em setembro de 1907, no ano seguinte ele foi coadjutor do Pe. Francisco König, pároco de São Luís Gonzaga, residindo, porém, Pe. José, em Cerro Azul, hoje Cerro Largo. Ali ficou até 1910. Durante parte de 1910, 1911 e parte de 1912, Pe. José residiu em Núcleo Norte (hoje Ivorá), como coadjutor do Pe. Frederico Schwinn, pároco de Silveira Martins.

Em 1912 e 1913, Pe. Spönlein foi coadjutor do Pe. Caetano Pagliuca em Santa Maria. De 1914 até 1918, Pe. José foi pároco de Cerro Azul. Foi chamado para aquela localidade sobretudo para levar a cabo a construção da grande igreja matriz. Ali ele demonstrou sua grande capacidade de trabalho, de organização e de direção. Mas não permaneceu amarrado às construções materiais. Seu empenho maior foi a edificação da comunidade cristã, mediante um intenso trabalho de catequese e de vida sacramental, visita assídua às famílias e particularmente aos doentes. Grande foi seu sofrimento por não poder terminar a nova matriz. Porque o Brasil tinha declarado guerra à Alemanha e Pe. Spönlein era alemão, teve que deixar aquela comunidade cristã. Pe. Spönlein nunca esqueceu Cerro Azul. Muitas vezes recordava-o nos seus sermões e catequeses.

Em abril de 1918, Pe. Spönlein trabalhou em Santa Maria, como capelão do Colégio Sant Ana. A 1ª de janeiro de 1919 assumiu a Paróquia de Cruz Alta, onde permaneceu como pároco até 19 de março de 1934. Em 1934 assumiu a nova Paróquia de Visconde do Rio Branco (hoje Pejuçara) e aí permaneceu até o seu jubileu de ouro de sacerdócio, ocorrido no dia 29 de junho de 1957.

De 1957 a 1963, foi vigário cooperador de Cruz Alta. Debilitado fisicamente pelo trabalho e por doenças, teve que ser hospitalizado. Em maio de 1963 foi conduzido à Santa Maria e sofreu melindrosa intervenção cirúrgica. Faleceu no Hospital de Caridade, no dia 18 de setembro de 1963, com 83 anos de idade, 62 de vida palotina e 56 de sacerdócio. Foi enterrado no cemitério palotino, em Vale Vêneto.

Pe. Spönlein foi um missionário devorado pela caridade de Cristo, como foi São Vicente Pallotti. Desprendido de si mesmo e inclusive de sua família e de sua pátria, durante 56 anos trabalhou incansavelmente no Brasil, que escolhera como sua segunda pátria. Gastou generosamente sua vida em prol dos outros. Mas Pe. José não era uma pessoa insensível ao belo e ao agradável. Muito pelo contrário. Era uma pessoa muito sensível a tudo que é bom. Muitas vezes referia-se com saudades aos lugares que marcaram sua juventude e formação. Era uma pessoa muito exigente consigo mesma e também com os outros. Procurava a perfeição em tudo que fazia e queria o mesmo dos outros.

Viveu de modo exemplar sua consagração religiosa, declarando-se sempre disposto a secundar as determinações dos seus superiores. Viveu exemplarmente a pobreza, a castidade consagrada, a vida comunitária e exerceu com generosidade e fidelidade o seu ministério sacerdotal. Foi um imitador de Cristo que se apresentou sempre como "aquele que serve". Pe. José foi o servidor de todos. Alegrava-se com o crescimento da fé, entristecia-se com a presença do mal e lançava-se sem piedade contra o que poderia diminuir ou pôr em perigo a vida cristã dos que lhe tinham sido confiados. Era um homem de Deus e exemplar foi sua vida de oração, seu amor à Eucaristia e à Mãe de Deus.

Três lugares foram sobretudo testemunhas da sua vida e da sua atividade: Cerro Azul, Cruz Alta e Pejuçara. Em Cerro Azul foi operário da primeira hora. Ao chegar aí não encontrou nem igreja e nem casa. Trabalhou ele mesmo na construção da capela e da sua modesta habitação. Quando retornou, mais tarde, como pároco, empenhou-se em levar a termo a já começada igreja matriz, sem descuidar a catequese das crianças, a educação dos jovens e a formação humana e social do povo. A paróquia florescia muito bem, quando, por ser alemão, teve que deixar aquela florescente comunidade cristã, fecundada pelo suor do seu rosto e pelo orvalho das suas preces e pelo calor do seu zelo sacerdotal. Os que o conheceram, guardaram profundas recordações dele.

Outro grande campo de atividade para Pe. Spönlein foi a Paróquia de Cruz Alta, onde esteve de 1919 a 1934. Àquela época a Paróquia de Cruz Alta abrangia praticamente toda a atual Diocese de Cruz Alta. Os meios de locomoção eram poucos, mas assim mesmo Pe. José, com seus colaboradores, visitava as comunidades espalhadas pelos campos ou metidas entre as matas. Como pároco de Cruz Alta promoveu a educação. Com a colaboração do povo católico e com o apoio da comunidade palotina, construiu o Ginásio Cristo Redentor, dirigido por dois anos pelos palotinos. Por falta de recursos humanos, os mesmos o confiaram aos Irmãos Maristas, em 1934.

À Cruz Alta também dedicou Pe. José seus últimos anos e suas últimas forças, quando deixou a Paróquia de Pejuçara em 1957. No dia 14 de julho de 1978, o prefeito de Cruz Alta, Dr. Carlos Pompeo Schmidt, quis prestar uma homenagem póstuma ao Pe. José, dando seu nome a uma rua da cidade, homenageando assim "a quem em vida prestou serviços e conviveu com a nossa comunidade".

Mas foi sobretudo Pejuçara que foi testemunha do zelo e da dedicação do Pe. Spönlein. De 1934 a 1957 ele foi o pastor incansável daquela comunidade cristã. Quando era pároco de Cruz Alta, atendia regularmente aquela comunidade que queria a todo custo ter um padre residente. No dia 20 de abril de 1930, um abaixo-assinado firmado por 251 pessoas foi dirigido ao Pe. João Iop, solicitando-lhe um padre permanente. O mesmo pedido foi feito a Dom Antônio Reis. Não tendo sido atendido, um membro da comunidade cristã de Pejuçara dirigiu- se pessoalmente ao Papa Pio XI, pedindo-lhe a graça de ter um padre estável.

Marcante foi a atuação pastoral do Pe. Spönlein em Pejuçara. Ele enucleou a vasta paróquia, que naquela época abrangia também a atual Paróquia de Panambi, em comunidades-capelas, que eram regularmente visitadas por ele. Empenhou-se muito na educação cristã do povo.

Além do seu próprio trabalho catequético, conseguiu a vinda das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora (fundadas pela Serva de Deus Bernarda Bütler), que por muitos anos dirigiram o Colégio Santo Antônio.

Mesmo enfrentando forte oposição - muitos queriam a sede da paróquia num lugar mais central -, Pe. José levou adiante a construção da nova igreja matriz, construída em forma de mutirão. Em 1940 chamou os missionários palotinos, Pe. Celestino Trevisan e Pe. Rafael Pivetta, que pregaram missões na Matriz e em todas as capelas, com notável participação do povo. Pe. José sempre teve muito a peito a renovação da vida cristã paroquial.

Pe. Spönlein foi uma pessoa que fez da sua vida um serviço em bem dos outros. Nunca teve em vista sua promoção ou sua vantagem pessoal, mas o bem espiritual e social dos outros. Os que o conheceram recordam seu espírito de generoso serviço. Ainda hoje é chamado "o bom Pe. José".

Sua vida foi marcada também por muito sofrimento, incompreensão e fofocas. Ele suportou tudo com paciência cristã. Era uma pessoa talhada para grandes obras. Nunca se acomodou ou se declarou aposentado. Considerava-se o bom servo do Evangelho que, após ter feito o seu dever, dizia ser um servo inútil. Não perdeu a sua jovialidade e alegria, quando, sem compreender o porquê, teve que deixar comunidades edificadas por ele e que o queriam. Sofreu muito durante as duas guerras mundiais, por ser ele alemão. Teve seus passos vigiados e perdeu muitos escritos, que foram sequestrados e destruídos.

Pe. José amou verdadeiramente o Brasil e a nossa Província. Nunca pensou em deixar o Brasil para retornar à sua pátria ou à sua Província de origem. Ele pertencia à Província Americana, criada em 1909. Quando em 1919, muitos membros dela resolveram retornar à Alemanha para fundar a Província de Bruchsal, Pe. Spönlein resolveu permanecer no Brasil. No dia 04 de novembro de 1928 dirigiu ao Reitor Geral da Sociedade, Pe. Pedro Resch, e ao Superior de Santa Maria, Pe. João Iop, o pedido para deixar a Província de Bruchsal e ser aceito na comunidade palotina de Santa Maria. Seu pedido foi aceito pelo Pe. João Iop, em 15/11/1929, e pelo Superior Geral, em 12/02/1930.

Pessoalmente, guardo uma grata recordação do Pe. José Spönlein. Sempre me impressionaram a sua alegria, a sua disposição para o trabalho, a sua coragem ao enfrentar as dificuldades, a sua constância em levar adiante uma obra considerada importante para a comunidade, a sua piedade eucarística e mariana, a bondade paternal com que me acolhia no sacramento da reconciliação, seu amor aos pobres e seu silêncio diante das acusações que lhe eram feitas. Já em 1930, o Reitor Geral, Pedro Resch, lhe escrevia: "Esqueça o que de pesado caiu sobre si no passado. Deus o terá em devida conta e o recompensará abundantemente"

Por ocasião do seu jubileu sacerdotal, Dom Antônio Reis lhe escrevia: "Em toda a parte, V. Revma. foi sempre o mesmo sacerdote: zeloso, apostólico, humilde, piedoso, filialmente obediente aos seus superiores e, em particular, devotado ao bispo da Diocese"". Suas últimas palavras, quando agonizava, teriam sido: "Amai-vos uns aos outros". Aí está, talvez, a chave para compreender quem foi Pe. José Spönlein.

Pe. João B. Quaini, SAC