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07/11/2024 - In Memoriam

Padre Milvo José Alberti (1923-1991)

Os pais do Pe. Milvo foram Guilherme Alberti e Catarina Pigato. Milvo era o primeiro duma turma de 17 irmãos. Aprendeu as primeiras letras numa escola particular de Polêsine (Antônio Ceretta). Entrou no seminário de Vale Vêneto em 25 de fevereiro de 1935, dia de seu. aniversário. Em 1936 esteve em Augusto Pestana (ex-Cadeado), onde fez o quarto preliminar. Entre 1937 e 1942 cursou o ginásio, no seminário de Vale Vêneto. No ano seguinte vestiu a batina para o noviciado sob a direção do Pe. Agostinho Michelotti, em São João do Polêsine. Ali mesmo começou o estudo da Filosofia (1943- 46). Em 1947 fez magistério no seminário Rainha dos Apóstolos, como professor de matemática e ao mesmo tempo diretor de teatro, levando ao palco boas representações cênicas.

Ao voltar novamente para Polêsine, iniciou o estudo da Teologia. Ao lado do currículo escolar, Milvo cultivou a música, o esporte e a catequese nas escolas. Foi também um grande colecionador de selos, como veremos mais adiante. Sua paixão foram também a história e a geografia. Sua ordenação aconteceu no dia 24 de dezembro de 1950 em Polêsine, por Dom Antônio Reis. Em 1951 concluiu o quarto ano de Teologia e ao mesmo tempo exerceu o múnus de ecônomo local.

Pe. Milvo, ao entrar na ativa, esteve em Augusto Pestana como reitor do noviciado, ecônomo e professor (1952) e, no ano seguinte, trabalhou na Igreja de N. Sra. de Fátima em Porto Alegre. Em 1954 foi coadjutor em Novo Treviso, cujo pároco era o Pe. Agostinho Rorato.

E por quatro anos exerceu o cargo de auxiliar de espiritual no seminário Rainha dos Apóstolos e professor de matemática e geografia, dirigindo ao mesmo tempo o teatro com os seminaristas. Foi, outrossim, grande incentivador do esporte.

Em 1959 esteve em Sobradinho como professor do ginásio local. Depois retornou novamente a Novo Treviso como coadjutor do Pe. Agostinho Rorato. Neste tempo dirigiu a pintura da Igreja Matriz, pintada por Lazzarini (1960 e 1961) Em 1962 e 63 exerceu a capelania do juvenato dos Maristas em Getúlio Vargas.

As diversas mudanças do Pe. Milvo não foram motivadas por falta de inserção, mas pela necessidade dos trabalhos da Província. Uma limitação, que o Pe. Milvo sentia, era não poder guiar carros; aliás, não se esforçou por aprender a dirigir, daí os temores manifestados ao padre provincial, quando o designou para Iporã.

Apesar disso, ele foi disposto e contente, para o novo campo de apostolado. Embora não soubesse guiar carro, Pe. Milvo não deixou de trabalhar na pastoral; tomou a seu cargo capelas situadas nas estradas gerais por onde passava o ônibus. Sua capela predileta foi Cafezal e outras seis da imensa paróquia de Iporã. Adiante se tocará melhor este ponto ou sua estadia naquela comunidade, que a deixou em 1974, quando retornou ao Rio Grande do Sul.

Ao regressar aos pagos, Pe. Milvo foi pároco de Vale Vêneto e ao mesmo tempo professor de geografia no seminário, dirigindo também, a arte cênica com bons teatros, dando aos seminaristas oportunidade de se apresentarem em público e no palco. Mas a primeira preocupação do Pe. Milvo foi a comunidade paroquial, dando muita ênfase à família e à catequese. Fez ressuscitar o belo e antigo costume da reza do terço em família, principalmente no mês de outubro, valendo-se dos confrades e dos seminaristas.

Durante seu paroquiato em Vale Vêneto um fato digno de nota foram os festejos do centenário da colonização italiana, em 1975, com diversas comemorações. Ficou na história a maior polenta desse centenário, benta por Dom Ivo Lorscheiter e saboreada pelos presentes ao grande evento. Foi também encerrada em Vale Vêneto a histórica visita às paróquias coirmãs, do Cardeal Albino Luciani, Patriarca de Veneza e, depois, Papa João Paulo I.

No dia 7 de dezembro de 1975, Pe. Milvo celebrou seu jubileu sacerdotal entre os paroquianos de Vale Vêneto. No mesmo ano deu início aos trabalhos da ampliação do salão paroquial, levado a termo, depois, pelo Pe. Ládio Girardi, seu sucessor.

Em 1976 começou a renovar o espírito comunitário com pregações especializadas em cooperação com os confrades do seminário e leigos da paróquia. E dentro desta iniciativa foi feita uma demorada visita pastoral de Dom Ivo, quando, além da matriz, percorreu todas as capelas. E no fim Dom Ivo deixou no livro de Tombo um elogio ao Pe. Milvo, dizendo que a comunidade estava sendo bem conduzida. No mesmo ano começou a benzer as casas e a conscientizar os paroquianos para o dízimo e, ao mesmo tempo, fazendo a campanha pela pintura da Igreja Matriz, cujo trabalho foi levado a termo no mesmo ano. Em 10 de julho foi inaugurado o salão da Capela São José. No dia 17 de julho de 1977, Vale Vêneto recebeu a visita do Bispo de Vicenza, Dom Arnoldo Onisto, ocasião em que houve festejos do centenário da colonização do Quarto Núcleo da Colônia de Silveira Martins.

Estiveram também nas celebrações Dom Ivo e Dom Servílho Conti. Foram mais de cinco mil pessoas as que assistiram às comemorações...Na ocasião foi inaugurado o museu Pe. João Iop. Uma festa idêntica aconteceu no ano seguinte, quando foi comemorado o centenário da fundação de Vale Vêneto.

Em fevereiro de 1980, Pe. Milvo transferiu-se para Dona Francisca, como coadjutor do Pe, Virgílio Costabeber. E, a partir de 26 de julho de 1981, assumiu a direção da comunidade como pároco. Aqui não teve o carinho e o acolhimento como os teve em Vale Vêneto. Ele procurou dar de si tudo o que podia oferecer àquela comunidade; continuou seguindo as Iinhas da pastoral da diocese.

Quando faleceu o Pe. Benjamin Ragagnin, pároco de Novo Treviso (1967- 1983), a paróquia foi atendida até março de 1984 pelo Pe. Genésio Trevisan, Durante este tempo tinha sido aventado que a paróquia poderia passar a ser Capela de Faxinal do Soturno. O povo ficou bastante triste ao ouvir tais comentários. No decurso desta possibilidade, apareceu em cena o Pe. Milvo Alberti. Ele não se sentia bem em Dona Francisca e suspirava por um lugar sossegado e calmo, onde pudesse dar continuidade e pôr em ordem seu enorme arquivo de coleções... Ofereceu-se então, para ser pároco de Novo Treviso, a menor paróquia de nossa Província. Tratou logo de arrumar com o prefeito um caminhão para transportar sua mudança e todo seu enorme acervo de livros, coleções de revistas e jornais, material de pesca, etc..., etc...Ele nunca botava fora nada quando era transferido. O ambiente e o lugar não poderiam ser melhores: sobrava tempo para seu hobby.

Mas acima de tudo o ideal de Pe. Milvo foi a comunidade daquela pequena paróquia que, por ser humilde e reduzida, era preciso que continuasse a ser sempre o que fora. Na visita pastoral em abril de 1985, Dom Ivo deixou escritas estas palavras no livro de Tombo: " ...Sinto-me feliz ao perceber o fervor e a fidelidade desse povo. Agradeço ao Pe. Milvo Alberti pela sua presença e atuação nesta benemérita paróquia, sobre a qual invoco as melhores bênçãos de Deus. Que esta bênção também suscite no presente e no futuro boas vocações sacerdotais e religiosas."

Convém aqui registrar logo o que a lápide dos vigários e coadjuntores de Novo Treviso, colocada pelo Pe. Benjamin Ragagnin, diz: "Novo Treviso Já deu à Igreja 25 sacerdotes (e um bispo), 92 religiosas e diversos irmãos religiosos."

Pe. Milvo, por ocasião do centenário da primeira missa em Novo Treviso, celebrou com toda a comunidade o histórico acontecimento no dia 8 de março de 1987. De junho a agosto do mesmo ano levou a termo uma reforma no salão paroquial. Cada ano seguiu o costume introduzido pelo Pe. Benjamin de celebrar a "festa" do Pe. Agostinho Rorato. Este sacerdote, falecido em 1965, dirigiu a Paróquia de Novo Treviso durante 40 anos.

Na visita pastoral de 1968, Dom Ivo deu as cinco prioridades que a paróquia devia dar preferência: grupos de famílias, juventude, comunicação social, problemas sociais e liturgia. Pe. Milvo tomou a sério estas prioridades e procurou pô-las em prática com a ajuda do conselho paroquial. Ele teve ainda a coragem de ampliar o salão paroquial do lado da igreja, alargando- o seis metros por 30 de fundo; concluiu a obra, no dia 28 de abril de 1989, e, na festa de São Marcos (30.04), foi solenemente inaugurado, com grande alegria dos paroquianos.

Através do livro de Tombo a gente pode constatar que a vida espiritual na pequena comunidade sempre esteve acesa e a caminhada nunca esmoreceu. Isto prova que o vigário era zeloso e amado pelos seus paroquianos. Todos caminhavam juntos. Dom Ivo sempre teve palavras de elogio ao Pe. Milvo Alberti.

Uma das características deste sacerdote foi de colecionador. Começou a colecionar selos desde a mocidade (1943) e durante os anos de Filosofia e Teologia. Conseguiu reunir uma grande e variada coletânea de selos nacionais e estrangeiros. Manteve também intercâmbio com pessoas no exterior.

Elaborou muitas coleções que foram vendidas a filatelistas cujo resultado foi investido em benefícios das Missões. Naqueles tempos, de 1943 a 1950, o espírito missionário estava em alta entre os seminaristas de Polêsine. Cada ano, no mês de outubro, se fazia a campanha missionária com maratonas, listas, ofertas e encerrava com uma festa popular em benefício das Missões.

Nosso seminário foi campeão na Diocese de Santa Maria. Pe. Rafael lop foi diretor da campanha das Missões durante muito tempo; a ele sucedeu o Pe. Artur Stefanello. Ele cultivou também o esporte, vôlei e futebol. Conhecia quase todos os grandes times do Brasil e até bom número de internacionais, como também sabia os nomes dos seus titulares. Na corrida dos campeonatos não poupava críticas aos erros de jogadores incompetentes...

Um dia, à hora do recreio, Pe. Milvo "se gabou" que sabia o nome de muitos times e de seus titulares. O Pe. Agostinho Michelotti, ouvindo tal declaração, disse na hora:" Não seria mais útil saber os nomes das dioceses do Brasil e dos seus respectivos bispos?" O interpelado não disse nada, mas fez o propósito de se interessar também por isto, sem largar seu hobby, o esporte. E, sem perder tempo, lançou-se a esta tarefa. Servindo-se de jornais, livros de história eclesiástica, revistas, etc., tomou a iniciativa de catalogar as dioceses com os respectivos bispos: o histórico das mesmas e os nomes dos bispos desde o primeiro antístite, como também das prelazia.

Eu, que recolhi o enorme acervo do extinto, encontrei e recolhi 26 caixas de papel fotográfico com listas e dados sobre todas as dioceses e prelazias do Brasil. E não só isso: ele recolheu e colecionou muitos outros dados interessantes de bispos ilustres, como Dom Arcoverde, Dom Vital, Dom Macedo Costa, Dom Duarte Leopoldo e Silva, Dom Sebastião Leme, etc. E, se fôssemos examinar outros aspectos desse trabalho do Pe. Milvo, o tema se tornaria quase infindável e daria para formar uma enciclopédia. Ainda inclui nesta coleção a CNBB e a Nunciatura.

Paralelamente ao acima exposto, ele começou a recortar jornais, revistas, como Correio do Povo, Jornal do Dia, Diário de Notícias, Folha de São Paulo, revista O Cruzeiro, etc. E nesta imensa seara foi catando, segundo seu gosto: música, arte, teatro, literatura, poesia, sonetos, humorismo, juventude, matrimônio, divórcios, Natal, liturgia, dia das mães, dia dos pais, crianças, etc... etc... E assim formou coleções e mais coleções, encheu prateleiras, armários, caixas e caixas de papelão (das de camisas, papel fotográfico...). No dia 11 deste mês (novembro de 1991), o padre provincial me levou a Novo Treviso e me encarregou de ver tudo o que o falecido deixou. Quando me deparei ante tão enorme amontoado, não sabia por onde começar...

As coleções já prontas foram todas preservadas e recolhidas. Os outros milhares e milhares de recortes, sem título e soltos a esmo, fui refugando e enchendo e, depois?...Que o diga a Lourdes Balzan quantos cestos levou para a incineração!...O Pe. Milvo não botou nada fora, nem um envelope de carta, calendários do passado, tiras de papel, santinhos, folhetos, cartas, canetas secas (esferográficas)...guardou tudo...tudo. Foi por isso que o acervo ficou enorme. Só de folhas de revistas O Cruzeiro havia mais de metro e meio cúbico... O caderno de sábado do Correio do Povo deu outro tanto ou mais. Mas guardou muita coisa útil e valiosa, como acima acenei. Por isso ele foi conservador e não destruidor, como alguns padres que queimaram documentos, escritos, e muita coisa histórica, deixando assim uma lacuna em nossa história.

Não foi só colecionador de recortes de jornais e revistas; se o fez, na certeza fê-lo pelo múnus de mestre e educador. Nos seus 41 anos de sacerdócio. mais de 15 dedicou ao magistério, em Iporã, Vale Vêneto, Augusto Pestana, e Sobradinho. Na escola normal de Iporã, das irmãs do I. C. M., ele exerceu um verdadeiro sacerdócio como mestre e educador. Teve muita influência na formação da juventude que naqueles dez anos passou pelos bancos escolares do educandário. Prova disso são as cartas que seus ex-alunos lhê mandaram, quando Pe. Milvo retornou para o RS. Todos se confessaram agradecidos ao seu mestre. Diversas turmas de formandos o escolheram como paraninfo.

 Por Pe. Claudino Magro, SAC