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Padre Paulo Alécio Engerroff (1955-2010)
1. O fato inesperado
Cada dia de vida do ser humano, a irreversivelmente aproxima-se o horizonte transformador da morte. Aos jovens, este evento parece estar muito distante, quase a anos-luz. Aos de meia-idade, coloca-se como um momento mais próximo; não muito além, contudo, das distantes montanhas. Aos idosos, situa-se aquém das colinas próximas, logo após a primeira fila vaga dos há pouco sepultados.
A estes, a expressão do Benedictus, "servir ao Senhor em santidade e justiça enquanto perdurarem meus dias" (Lc 1,75) torna-se um conteúdo espiritual próximo e real.
Não sabemos com que atitude humana e espiritual nosso saudoso colega Pe. Paulo Alésio Engerroff lidava com o fato da própria morte. Nos seus 28 anos de ministério presbiteral, com trinta de Consagração Palotina, em inúmeras ocasiões pregou sobre o significado pascal da morte aos que morriam crendo nas promessas de Deus. Sou de parecer que, quem muitíssimas vezes se envolve com a morte dos outros, inclusive de seus queridos e próximos, "aprende a dispor-se a morrer"! Aceita, portanto, que a finitude humana se abra à plenitude divina justamente no ato de morrer. Nessa atitude cristã, a última palavra não pertence aos túmulos, mas às manhãs radiosas da ressurreição.
Ao verificar o ocorrido com o Pe. Paulo Alésio Engerroft, parece que tudo foi inesperado. No dia 12 de agosto de 2010, ao redor das 10h30min, numa quinta-feira quente e esfumaçada, Pe. Paulo, ao transitar pela BR 364, dirigindo seu automóvel de Porto Velho (RO) a Ariquemes (RO), chocou-se frontalmente com um caminhão de carga. Havia dito à doméstica da casa paroquial que iria visitar seus colegas e que retornaria ao declinar do dia. Não chegou ao destino desejado. Se não chegou a este, assim o cremos, chegou ao destino último amparado pela promessa daquele que disse: "Ainda hoje estarás comigo no paraíso!". Radiava-lhe o dia eterno da luz sem ocaso!
O testemunho do motorista do "bi trem" afirma que não vira o motorista ao volante do Spacefox. Será que nosso colega sofrera algum mal súbito?
Semanas antes, a uma de suas cunhadas, havia revelado que lhe voltavam as "tonturas tidas em Cachoeira do Sul (RS)".
Quando ali atuou com pároco, de 1999 a 2003, segundo informou uma médica, sua amiga, em momentos em que ele se envolvia em trabalhos que o estressavam, sentia tontura e mal-estar, tanto que fora orientado por ela a, neste estado, não dirigir!
2. Família e apostolado
Em Informações Palotinas n° 2, de julho/dez 2007, ao lado de seus colegas de curso, padres Lino Baggio, Ademar Luiz Figuera, Mário César do Amaral, Roque José Grothe Zalmiro Francisco Figueiró, Pe. Paulo manifestou (em alguns extratos) o que segue: "Eu nasci em 28 de abril de 1955, no interior de Três de Maio (RS), hoje município de Boa Vista do Buricó (RS). Meus pais, Carlos e Otília Frida, já faleceram. Eles tiveram onze filhos, dos quais sou o último.
A minha família sempre foi muito religiosa. Rezávamos o terço diariamente e frequentávamos assiduamente a comunidade. Quanto à vocação, meus pais tiveram grande influência, de modo especial pela oração, pela amizade com muitos padres, pelo incentivo e pelo apoio. Aos dez anos de idade, minha família foi morar em São Martinho (RS), onde a Paróquia era atendida pelos Padres e Irmãos Palotinos. Este foi o meu primeiro contato.
O segundo aconteceu com o Pe. Casimiro Facco, promotor vocacional da década de 1970. Entrei no Seminário Rainha dos Apóstolos em 1974. Os primeiros padres e irmãos formadores foram: Pe. Remígio Milanesi, Arlindo Shneider, Danilo Dotto, Casimiro Facco, Etelvino Savegnago e os irmãos Izidoro Dalmolin, Beno Krein, Valmor Ciroline e Luis Bender. Também as irmãs Maria Luíza, Claudina e Terezinha".
Sua pertença a Cristo, dentro de uma família profundamente católica que sempre foi participativa na comunidade de São Martinho (RS) o dispôs a desdobrar sua pertença batismal, entrando no Seminário de Vale Vêneto em 1974. Prosseguindo nos estudos, "a fim de pertencer mais profundamente a Deus", no dia 23 de março emitiu sua primeira Profissão dentro da União e da Sociedade do Apostolado Católico que, a 30 de março de 1982, proferiu para sempre.
Confiante na graça de Cristo, Sumo Sacerdote e Bom-Pastor, no dia 12 de dezembro de 1982, em São Martinho, onde ainda hoje vive grande parte de seus familiares, foi ordenado presbítero pelo então Bispo, hoje falecido, Dom Bruno Maldaner.
Escolheu como lema o final do Evangelho de São Marcos, quando o ressuscitado se dirige aos seus - e através deles a todos nós! - para o grande envio missionário: "Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a todos os povos!". Padre Paulo Alécio entendeu que para mais profundamente pertencer a Cristo, devia aceitar e assumir a "vocação missionária dos enviados.
Realmente, em sua entrevista jubilar, da qual alguns extratos foram anteriormente referidos, destaca com emoção e alegria sua primeira experiência missionária na Amazônia. Depois, Pe. Paulo Alécio exerceu seu trabalho nas paróquias de Porto Alegre (RS) (duas vezes), Humaitá (RS), Faxinal do Soturno (RS), Cachoeira do Sul (RS) e, nos últimos tempos, na Paróquia São Luiz Gonzaga.
Em 1992 e 1993 fez mestrado em Teologia Espiritual, na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma. De 1994 a 1996, foi formador dos Postulantes no Seminário de Vale Vêneto (RS). Em 2006 e 2007, foi diretor da FAPAS (Faculdade Palotina) de Santa Maria (RS). Em 2008, como pároco, assumiu a paróquia São Luiz Gonzaga de Porto Velho, tendo como confrades no 1° ano Pe. Jocerlei J. Tavares e, a partir de 2009, Pe. Eriberto Schwamback.
Assim que, aos 28 anos de serviço presbiteral, Pe. Paulo Alécio foi crescendo na pertença a Cristo, Apóstolo do Pai, que o enviara para "propagar e reavivar a fé, e reacender a caridade na Igreja e no mundo. Ele tinha uma personalidade impulsiva e determinada, tanto que esta característica de seu caráter lhe trazia não poucas dificuldades.
Embora não lhe fosse fácil integrar toda a energia afetiva a Deus e aos irmãos, à igreja Corpo de Cristo, era um trabalhador incansável. Onde atuou, servia com dedicação, com paixão, especialmente na organização das pastorais, grupos e movimentos. Esmerava-se na formação e nas celebrações litúrgicas, sobretudo na Eucaristia.
Nos últimos anos, com dedicação e esmero, escrevia sobre a Palavra de Deus na revista Rainha, um apostolado que, segundo a direção da tal revista, era altamente valorizado. Tanto que, até o final deste ano, se publica seus trabalhos in memorium, redigidos há três anos. Era ótimo companheiro de pescarias, mas ninguém se lhe igualava na capacidade e na sorte de apanhar os maiores e melhores peixes.
Como poucos, manejava a arte e a competência de preparar e assar um bom churrasco, acompanhado de uma boa prosa. Torcia pelo Grêmio de Porto Alegre, tanto nas vitórias quanto nas derrotas.
No Evangelho anunciado nesta Eucaristia, Jesus promete que na casa do Pai há moradas para todos. Sabemos, pois, que a pertença a Deus, iniciada e cultivada no dia a dia de nossa vida e missão, com a morte na pertença a Cristo, conflui na participação plena da morada de comunhão com Deus Trindade.
3. Despedida
Na noite do mesmo dia, na Igreja São Luiz Gonzaga, em Porto Velho, sob presidência do Arcebispo Dom Moacyr Grechi, com seu colega de trabalho, Pe. Eriberto Schwamback e outros colegas da Comunidade Regional, sacerdotes e religiosos, religiosas, junto com milhares de participantes da comunidade da qual era o pároco, disse, dentre outras, o que segue: "A Arquidiocese de Porto Velho está de luto pela morte do estimado pároco da Paróquia São Luiz Gonzaga, vítima de acidente automobilístico, hoje transcorrida. Missionário Palotino, foi um pastor incansável, fiel e firme em seus 28 anos de sacerdócio, deixando-nos testemunho de sua grande devoção a Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos.
Ao manifestar nosso pesar pelo falecimento inesperado de Padre Paulo Alécio, solidarizamo-nos com todos os seus familiares, com a Província dos padres e irmãos palotinos (Sociedade do Apostolado Católico) e com os paroquianos da paróquia São Luiz Gonzaga".