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Padre Remígio José Milanesi (1926-2014)
1. Introdução
Mais uma vez, e dentro de 30 dias, Jesus Cristo levou dois coirmãos nossos para a Casa do Pai: Pe. Antônio Soldera, no dia 13 de julho de 2014, e Pe. Remígio José Milanesi, no dia 17 de agosto de 2014. Antônio com 96 anos e Remígio com 87 anos. Os que partiram não se esquecem dos que estamos caminhando para a mesma casa e pelo mesmo 'caminho, verdade e vida', Jesus Cristo, junto com Maria também nossa mãe. Se pudessem neste momento falar-nos, eles nos diriam que vale a pena caminhar com Jesus Cristo e com Maria.
Queremos recordar algo da vida e do trabalho do nosso coirmão Pe. Remígio José Milanesi, o que animará nossa oração de agradecimento e de súplica a Deus para que complete o que iniciou e fez com ele, mesmo sabendo que as coisas mais bonitas muitas vezes são encobertas e inacessíveis.
2. Sua família e nascimento
Remígio José nasceu numa autêntica família cristã. As famílias Milanesi habitavam São João do Polêsine, então município de Cachoeira do Sul (RS), mas os pais do Remígio se transferiram para a Vila Buriti que fazia parte do município de Santo Ângelo (RS). Vitório Milanesi e Josefina Linassi eram agricultores e tiveram sete filhos: Letícia, Remígio José, Lídia, Aldo, Alcides, Davi e Norberta. Remígio José era o segundo e Norberta é religiosa das Filhas do Sagrado Coração de Jesus. Remígio era também primo do Ir. Odone Pedro Milanesi (1923-1992) e também de Iria Milanesi, Irmã de Maria de Schoenstatt. Remígio José nasceu, no dia 26 de janeiro de 1926, como segundo filho do casal Vitório e Josefina, seus primeiros e fieis educadores e catequistas.
3. Sua formação
Remígio José, de 1934 a 1938, fez os seus estudos fundamentais na escola municipal de Vila Buriti, e os ginasiais e colegiais, no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Vale Veneto (RS), de 1942 a 1948 Naquela época, os estudos ginasiais e colegiais eram muito ricos c também exigentes. Durante seis anos, estudava-se o latim que ia desde as primeiras palavras até a leitura e a análise de textos históricos, dos famosos discursos de Cícero. Além do latim, havia dois anos de italiano, dois anos de francês, dois anos de grego e seis anos de português e de literatura portuguesa, sempre acompanhados de muitas e sérias redações.
Além das aulas, o estudo de português era enriquecido com a leitura de textos clássicos portugueses e brasileiros. Também a oratória ocupava um lugar especial e com ela também o teatro.
E Remígio foi sempre um aluno muito aplicado e também muito exigente de si mesmo, pois não suportava superficialidade e coisas malfeitas e incompletas. E mais ainda como sacerdote lutou sempre pela perfeição, mesmo provocando críticas dos que amavam a superficialidade e se contentavam com o suficiente.
Terminado, em 1948, o estudo médio em Vale Vêneto, Remígio começou uma nova e importante etapa de sua formação, isto é, os seus estudos superiores de filosofia e de teologia. Estes estudos, porém, eram naquela época precedidos por um ano de noviciado, isto é, por um ano inteiro de conhecimento do Fundador Vicente Pallotti e da sua fundação, a Sociedade do Apostolado Católico, e também pela prática e vivência da vida religiosa comunitária sob a orientação de um mestre.
No segundo ano de noviciado, o noviço começava o Curso de Filosofia. No dia 2 de fevereiro de 1949, Remígio iniciou o seu primeiro ano de noviciado, no Colégio Santo Alberto, na Sede Dr. Pestana – hoje Augusto Pestana (RS)
- cujo reitor e mestre era o Pe. José Stefanello (1914-2004). Além das orações, meditações e estudos, os noviços também trabalhavam na propriedade no Colégio Santo Alberto e ajudavam como catequistas na matriz e em várias capelas da Paróquia São José.
Ocupava também um lugar especial o conhecimento com a vivência do Movimento Apostólico de Schoenstatt. No terreno do Colégio Santo Alberto, havia uma ermida da Mãe Três Vezes Admirável, bastante visitada por muitas pessoas do povo, especialmente nos dias 18 de cada mês, quando centenas de pessoas vinham da cidade e de vários outros lugares para celebrar a aliança com a Mãe de Deus.
Em 1950, Remígio fez o segundo ano de noviciado no Seminário Maior de Polêsine e durante o mesmo fez também o primeiro ano de filosofia. O Seminário de Polêsine chamava-se Maior, mais do que pelo prédio que pelo número de alunos, vindos não só do Rio Grande do Sul e dos Estados do Paraná e de São Paulo, mas também do Uruguai, da Argentina e do Chile. Esse Seminário começou como noviciado em 1938 e durou até 1945, quando foi transferido para Augusto Pestana (RS) para dar espaço aos alunos de filosofia, pois, em 1941, a Província Nossa Senhora Conquistadora abriu nele o Curso de Filosofia e em 1948 também o Curso de Teologia. Em 2 de fevereiro de 1951, Remígio fez a sua primeira consagração a Deus, na Sociedade do Apostolado Católico, e fez a perpétua em 2 de fevereiro de 1954.
Após ter feito os estudos de filosofia em Polêsine, nos anos 1950-1952, Remígio, em 1953, fez o seu ano de estágio no Pré-Seminário São José, em Faxinal do Soturno (RS), e, nos anos 1954-1957, fez também no Seminário Maior de Polêsine todos os seus estudos de teologia. Até 1941, os seminaristas maiores palotinos fizeram os estudos de filosofia, no Seminário Central de São Leopoldo dirigido pelos padres Jesuítas, e naquele mesmo seminário até 1948 fizeram também todos os estudos de teologia.
Aqueles anos de Polêsine devem ter enriquecido muito o coração, a mente e a vontade do padre Remígio. O ambiente de formação e de estudo era muito favorável, e era também grande a vontade que todos tinham de crescer e de preparar-se para um rico e fecundo apostolado, segundo o espírito de Vicente Pallotti, beatificado em 22 de janeiro de 1950, e também segundo o Movimento Apostólico de Schoenstatt que de Polêsine se irradiava também nas capelas e paróquias vizinhas.
É, portanto, uma grande ilusão querer escrever a história do Seminário Maior, e também a história da própria Província Nossa Senhora Conquistadora, tentando ignorar ou deixar de lado o Movimento Apostólico de Schönstatt, como se fosse estranho e merecedor de esquecimento.
É pena que a maior parte da geração do Seminário Maior de Polêsine tenha partido para a outra vida e pouco tenha escrito daquele importante tempo. Remígio, livre e conscientemente, fez e viveu a sua aliança com Pallotti e também com a MTA que não é estranha à Rainha dos Apóstolos.
Naquela época, os estudantes religiosos que tivessem feito a consagração perpétua e completado 25 anos de idade, podiam receber a ordenação sacerdotal, no fim do terceiro ano de teologia, e, como sacerdotes, faziam o quarto e último ano de teologia. Como Remígio tinha completado, em 1956, 29 anos de vida e já fizera a profissão perpétua, em 2 de fevereiro de 1954, podia ser ordenado sacerdote no fim do terceiro ano de teologia. E assim foi. Ele recebeu a ordem de diácono, no dia 1 de dezembro de 1956, e a ordenação sacerdotal, no dia 2 de dezembro de 1956, em São João do Polêsine, através de Dom Luís Victor Sartori (1904-1970), Bispo Coadjutor de Santa Maria. Junto com ele foram ordenados também José Joaquim Pillon e Eugênio Antônio Pozzobon. Pe. Remígio celebrou a sua primeira Missa Solene, em Colônia Buriti, no dia 9 de dezembro de 1956.
4. Sua atividade sacerdotal
Seu primeiro e grande campo de trabalho foi o Seminário Menor de Vale Vêneto, onde esteve muitos anos, empenhando todas as suas forças e grandes capacidades. Ele mesmo deixou escrito na folha que se encontra no Arquivo Provincial: "O trabalho a que mais me dediquei foi o seminário". No final deste pequeno escrito, podemos ver o testemunho de vários ex-alunos seus.
Pe. Remígio amava muito o estudo, a leitura, o trabalho, o jogo de vôlei e especialmente a música e o canto. Durante as férias de verão dos anos 1959- 1961, fez um curso de canto gregoriano, no Instituto Pio X, no Convento São Bento, dos Beneditinos, no Rio de Janeiro. Também durante as férias de verão de 1961 fez um curso de canto orfeônico em São Paulo. Fez também três anos de canto em Porto Alegre, nas férias de verão de 1963-1965, e, em 1969, fez outro curso de canto em Santa Maria.
Esteve 17 anos, no Seminário de Vale Vêneto, como professor de história, de literatura, de geofísica e de moral e cívica, e também como Reitor, nos anos 1972-1975. Era capaz, e muito exigente de si mesmo e também dos alunos, e tudo isto para o bem especial deles, muitos dos quais, ainda hoje, o recordam e lhe são agradecidos. Gostava sempre de fazer bem as coisas nos estudos, nos trabalhos, nos jogos, nos cantos, orações e celebrações. Com prazer cultivou a música e o canto. Com grande empenho ensinou os alunos a cantarem, e a cantarem bem, e com eles fez um coro capaz de cantar muito bem em missas e celebrações.
Em 1971, padre Remígio participou como delegado da Província na XIII Assembleia Geral da Sociedade e permaneceu em Roma até o fim de julho de 1972, aperfeiçoando-se em vários campos. Fez um curso de Pastoral na Universidade Pontifícia São João do Latrão, morando também na então comunidade palotina do Latrão, e também um curso de espiritualidade no Instituto Teresiano, dos Padres Carmelitas.
Junto com Olivo Cesca e Valentin Pizzolatto visitou a Terra Santa, e, a respeito desta sua visita, escreveu ao Provincial José Joaquim Pillon: "Fiz o melhor retiro da vida. A Sagrada Escritura tem agora outro sabor. Como é importante o conhecimento dos lugares santos, para ter uma compreensão melhor dos fatos evangélicos, viver melhor a sua mensagem, com a composição do lugar'".
Do fim de julho de 1972 até 1975, Pe. Remígio foi Reitor do Colégio Rainha dos Apóstolos em Vale Vêneto, em substituição ao Pe. Arnaldo Giuliani que foi transferido para Porto Alegre, a fim de assumir a direção do Instituto Pallotti. No fim de 1974, Pe. Remígio manifestou aos seus Superiores o desejo de interromper o magistério e fazer um trabalho pastoral mais direto, numa paróquia palotina do então Estado do Mato Grosso. No dia 29 de janeiro de 1975, o Provincial de então, Pe. João Baptista Quaini, escrevia- lhe o seguinte:
"Caríssimo Padre Remígio, como já tivemos ocasião de falar muitas vezes a respeito do teu desejo de ir trabalhar no Mato Grosso, quero comunicar-te a tua transferência para Gloria de Dourados, onde, junto com o Pe. Mateus Cassol e o Pe. Amadeu Amadori, contribuirás com tua pessoa e com tua ação para a formação e animação daquela comunidade cristã. Dado o teu expresso desejo de fazeres uma experiência pastoral mais direta, após tantos anos de magistério, junto com meus colaboradores mais imediatos, achei conveniente aceder ao teu desejo de sorte que me alegro com a possibilidade de te dedicares por um tempo mais diretamente ao trabalho pastoral. Creio que Glória de Dourados é o lugar mais indicado para ti. Além de enriqueceres toda a comunidade palotina do Mato Grosso com a tua rica pessoa, a tua presença será especialmente valiosa naquela comunidade cristã. Todos os padres de lá te esperam de braços abertos, certos de encontrar em ti um irmão e um amigo fiel. Dentro das tuas possibilidades ajudarás aos mencionados padres a animar a comunidade cristã".
Pe. Remígio aceitou com satisfação essa transferência e com alegria e muita esperança partiu para o Mato Grosso, em fevereiro de 1975. Mas a vida está cheia de surpresas humanas e também divinas.
Para ele chegar de carro ao Mato Grosso, o melhor caminho, naquela época, era através do Paraná e São Paulo. E, quando ele estava em Curi-tiba, foi violentamente atropelado por um outro carro. Além de perder um olho, ele sofreu forte comoção cerebral, ficou muito traumatizado e teve que submeter-se a uma grave cirurgia. E assim os seus grandes desejos e os de seus coirmãos ficaram para sempre desejos.
Este violento e traumatizante choque mudou a sua vida e também o seu trabalho, e podemos falar de um Remígio antes e de um Remígio depois daquele grave acidente. Após a cirurgia, feita em Curitiba, passou o ano 1975, na comunidade do Patronato, procurando recuperar suas forças, mas sem conseguir recuperar-se plenamente.
Mesmo com suas forças muito limitadas, Pe. Remígio procurou atuar pastoralmente em paróquias palotinas. Em 1976, por alguns meses, trabalhou como auxiliar na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Porto Alegre. Ele foi muito bem aceito pelo povo da paróquia mas por motivos de saúde, especialmente por causa do forte barulho da cidade, em julho do mesmo ano deixou Porto Alegre e veio para Polêsine, onde quase não existia barulho, e dentro das suas possibilidades procurou ajudar o pároco. Dom José Ivo Lorscheiter (1927-2007) deu-lhe a jurisdição para que, dentro das suas possibilidades, pudesse fazer alguma coisa no campo pastoral, já que estava animado da melhor boa vontade de trabalhar junto com os seus colegas.
De 1977 a 1979, Pe. Remígio fez também parte da equipe de padres que atendia as paróquias de Camobi, Arroio Grande e São João do Polêsine. E de 1979 até 1981, trabalhou como vigário paroquial em São Pedro do Pontão (RS), diocese de Cruz Alta, junto com o Pe. Afonso Rossato (1920-1895). Em 1982, foi auxiliar do mestre Pe. Kevin O'Neill (1921-2003), no noviciado palotino internacional, em Buenos Aires. De 1983 a 1984, trabalhou como vigário paroquial em Augusto Pestana (RS). De 1985 até 1997 foi vigário paroquial em Santo Augusto (RS). E de 1998 a 2003 foi vigário paroquial em São Martinho (RS). Ao deixar São Martinho retornou a Vale Vêneto, onde esteve até julho de 2010, quando foi transferido para a Comunidade Pe. Caetano Pagliuca, em Santa Maria, onde esteve até a sua partida para a eternidade, nas primeiras horas do dia 17 de julho de 2014.
A folha que está no Arquivo Provincial tem também as seguintes anotações feitas pelo Pe. Remígio: - Preguei 2 retiros; trabalhei com grupos de juventude. - Fiz três cursos de renovação, 2 de liturgia, muitos outros cursos durante as férias. - O trabalho a que mais me dediquei foi o seminário; - Trabalhei muito com as religiosas também.
Ele não deixou escrito ou entrevista a respeito dos seus jubileus de prata e de ouro de ordenação sacerdotal. Mas no pequeno folheto comemorativo dos seus colegas de estudo e de ordenação da Província de São Paulo e de Santa Maria - Pe. Roque Miguel M. Kiefer, Dom Conrado Walter, Pe. José Schwind (Província São Paulo Apóstolo - São Paulo), Pe. José Joaquim Pillon, Pe. Eugênio Antônio Pozzobon - existe esta belíssima oração do Pe. Remígio: "Eterno é o amor de Deus", porque me deu a existência, por intermédio dos pais, almas simples, mas ricas em fé e vida cristã, porque me escolheu e chamou à participação do Sacerdócio de Cristo, porque me deu irmãos, que sempre me incentivaram na vocação; porque me deu Maria, a Mãe, que sempre me cuidou; porque a Comunidade Palotina sempre me acolheu, em seu amor; porque o povo de Deus sempre me entusiasmou, para as coisas do reino".
5. Seus últimos tempos, sua morte e sepultamento
Pe. Remígio José Milanesi ficou em Vale Vêneto até julho de 2010 e, quando necessitava de cuidados de médico e de enfermeiros, foi transferido para Santa Maria e fez parte da Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca, no Patronato. Pouco a pouco foram diminuindo as suas forças físicas e muitas vezes também as forças espirituais e tinha atitudes diferentes das suas normais de anos antes.
Às 2h do dia 17 de agosto de 2014, ele partiu para uma nova vida, na grande Festa da Assunção de Nossa Senhora ao Céu que no Brasil é sempre celebrada no domingo. Seu corpo foi velado na Capela da Comunidade Pe. Caetano, onde, às 11h, houve celebração eucarística presidida pelo Pe. Vanderlei Luís Cargnin, do Conselho Provincial, juntamente com o Pe. Ronaldo Kuhnen, Reitor da Comunidade, e com o Pe. Eugênio Antônio Pozzobon, colega de estudos e de ordenação do falecido Remígio.
Às 15h30min, o corpo foi translado para Vale Vêneto e posto na Igreja do Corpo de Deus, onde às 17h, houve celebração eucarística de exéquias, presidida pelo Pe. Clesio Facco, Vice Provincial, e com ele mais de 10 sacerdotes palotinos. Pe. Clesio fez a homilia e Pe. Ronaldo Kuhnen fez a oração e a bênção de despedida do corpo do falecido que foi conduzido para o Cemitério Palotino anexo ao cemitério de Vale Venêto.
Os irmãos e parentes mais próximos do Pe. Remígio, que estão no Rio Grande do Sul, estiveram presentes tanto na despedida do Patronato como naquela de Vale Vêneto. Pe. Ronaldo Kuhnen fez as orações de despedida do corpo, na igreja no fim da missa, e benzeu também o túmulo que recebeu o corpo do grande falecido Remígio José Milanesi.