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Pe. Aguinelo Burin (1933-2015)

1. A família de origem
O Pe. Aguinelo Burin nasceu no dia 29 de abril de 1933, em Dona Francisca (RS). Era o quinto filho do casal Ângelo Burin e Cezira Reffatti. Eram em 9 irmãos: Marcelino (falecido em 2004), Aguinelo (falecido com 2 anos), Sira, Avelino (falecido em 1981), Reik, Ignês, Maria, Teresinha e Zenélia. O Pe. Aguinelo herdou o nome do irmão que faleceu aos dois anos de idade. Desta família três entraram para a Vida Consagrada
- Irmã Ignês, palotina, e o Irmão Reik, palotino, e seis se casaram.
Eram pequenos agricultores. O próprio Pe. Aguinelo em seus escritos destaca que a característica principal da família é a unidade. Ao se referir ao pai, salienta que ele foi muito empreendedor, pois construiu uma serraria em sociedade com o vizinho e um engenho de moer cana de açúcar, ambos movidos por uma roda d'água. Os pais foram pessoas de muita fé e fidelidade à Igreja.
De sua família ele ainda recorda que "os pais foram pessoas de muita fé e fidelidade à Igreja. Todos os domingos íamos à missa, em charrete de 4 rodas, cobrindo uma distância de uns seis quilômetros. Embora vivêssemos mais perto de Faxinal do Soturno, íamos à missa em Dona Francisca (RS), pois pertencíamos a esta paróquia. Em casa, todas as noites, depois da janta, rezávamos o terço em família. E sempre se rezava o Anjo do Senhor, antes do almoço"
2. Vocação e formação
Ele mesmo comenta que os primeiros tempos de vida no internato foram difíceis, devido à pouca idade e saudade da família. “Entrei no Seminário Rainha dos Apóstolos, de Vale Vêneto. Encontrou muito apoio e incentivo dos formadores, especialmente no Pe. José Pivetta que, por diversos anos, foi seu diretor espiritual.
Três anos depois, entrou no Seminário também o mano Reik. Escreveu o Aguinelo: tanto eu e mais ainda ele, tivemos uma decepção: eu passei a fazer parte da 'divisão dos grandes', e ele ficou na dos 'pequenos', as quais não podiam comunicar-se, a não ser por ocasião das festas maiores. Um fato marcante, para ele, no Seminário de Vale Vêneto, foi a devoção mariana que cultivou no Seminário e a introdução da Congregação Mariana, na qual ingressou no ano de 1945.
No ano santo de 1950, que foi também o ano da Beatificação de São Vicente Pallotti, fez o noviciado, em Augusto Pestana (RS), sendo Mestre o Pe. José Stefanello. No segundo ano de noviciado, iniciou o primeiro ano de Filosofia, no mesmo local. Em 1952, fez a Primeira Consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico e, durante este mesmo ano, fez o estágio, como professor em Vale Vêneto.
Completou a Filosofia em São João do Polêsine (RS) e, em 1955, ingressou na Teologia. Naquela época, os religiosos, que já tivessem feito a profissão perpétua e tivessem vinte e cinco anos de idade, podiam ser ordenados presbíteros no final do terceiro ano de Teologia, contanto que, depois, completassem a mesma. Portanto, a Ordenação Presbiteral do Aguinelo realizou-se no 22/12/1957. Foi ordenado por Dom Luiz Victor Sartori, bispo de Santa Maria (RS), na cripta do Santuário da Medianeira, em Santa Maria (RS), juntamente com mais onze colegas. Celebrou a Primeira Missa Solene no dia 05/01/58, em Dona Francisca (RS), sua terra natal.
Em 1958, o Seminário Maior de São João do Polêsine foi transferido para Santa Maria, - o Colégio Máximo Palotino, e, neste ano, o Pe. Aguinelo concluiu o curso de Teologia. Terminada a Teologia, foi enviado ao Seminário de São João do Polêsine, onde então funcionava o chamado "Colegial", ", que corresponde ao Ensino Médio. Desempenhou a tarefa de professor e diretor espiritual dos estudantes, durante dois anos.
3. Especialização em estudos bíblicos
No final de 1960, foi enviado a Roma para especializar-se em Bíblia. Tarefa nada fácil. Nesse tempo de Roma, pôde assistir à abertura do Concílio Vaticano II e dele acompanhar muitos debates, discussões e entrevistas. Eram tempos de muitas ideias novas, de medos e esperanças. Pôde também participar da Canonização de São Vicente Pallotti, no dia 20 de janeiro de 1963, presenciar as solenes cerimônias de sepultamento do Papa João XXIII e a eleição do Papa Paulo VI.
4. Professor e formador
Em agosto de 1965, peregrinou à Terra Santa, que fazia parte dos estudos bíblicos. E no final desse ano retornou a Santa Maria (RS), como Professor no Colégio Máximo Palotino. De início, teve uma pequena decepção. O Pe. Bernardino Trevisan, que era Professor de Moral, foi nomeado Provincial. E a direção do Colégio Máximo Palotino pediu, com insistência, que assumisse suas aulas. Estudou Bíblia e agora devia ensinar Moral! E, ao mesmo tempo, dava algumas matérias de Bíblia. Escreve que de 1968 em "diante minha roça foi a Bíblia, e, precisamente, o Antigo Testamento e a História de Israel, tarefa que desempenhei de maneira continuada até 2009, exceto no ano de 1995", ano em que foi diretor espiritual no Noviciado Palotino, em Cascavel (PR).
Por onze anos, foi Diretor do Instituto Diocesano de Pastoral Catequética (IDPC). Atividade que lhe exigiu bastante, mas que foi também muito gratificante. Naqueles anos o IDPC funcionava o ano inteiro, com aulas todos os dias da semana, e com estágios dirigidos. Ele marcava sua presença, quanto possível, todos os dias, acolhendo, escutando e ajudando os/as catequistas. Este contato lhe fez muito bem. E pôde sentir, com consciência e alegria, a extensão do carisma de Pallotti que despertava evangelizadores entre os leigos.
Em 1992 e, depois, de 1996 a 2004, passou a residir na Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria (RS), para auxiliar nas atividades pastorais. Também destaca que foi uma experiência muito válida pelo contato mais próximo com as famílias e com o povo, e pela convivência numa pequena Comunidade. Guardou gratas lembranças dos colegas e pôde experimentar de perto o carinho que muitos paroquianos dedicam aos sacerdotes especialmente nos momentos em que a saúde se fragiliza.
5. Província e Colégio Máximo Palotino
Ao completar 63 anos da Primeira Consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico, Pe. Aguinelo disse: "Realmente, a Província dos Padres e Irmãos Palotinos é minha segunda família. E dentro da Província, um agradecimento todo particular à Comunidade do Colégio Máximo Palotino, esta casa de formação, na qual convivi durante mais de quarenta anos". Várias gerações de coirmãos foram formandos e alunos do Pe. Aguinelo.
6. Os anos de magistério
Entendeu que na vida de professor houve um crescimento na compreensão do que é central na Bíblia. Por isso, procurou transmitir mais a mensagem do plano de salvação de Deus, revelado nas Escrituras, do que esgotar cientificamente o sentido de cada palavra hebraica ou grega. O ensino da Bíblia não foi apenas uma atividade intelectual. Empenhou-se em atualizar-se, lendo e pesquisando livros e revistas. Também procurou transmitir, não apenas o que aprendeu, mas, principalmente, o que acreditou. Por isso, retornar todos os anos sobre os mesmos temas não foi simplesmente repetir. Foi também crescer. Embora tenha sempre lecionado o Antigo Testamento, brilhou, sempre mais forte, a luz daquela meta para onde conduz a Palavra de Deus, dirigida a Israel: a ENCARNAÇÃO do Filho de Deus, que se tornou o EMANUEL, por excelência, e que é a razão da nossa jornada. O Pe. Aguinelo nos escreve: "A compreensão desta unidade do projeto de Deus revelado na Bíblia confirma minha fé e me dá muita alegria. Se consegui transmitir um pouco disto aos meus ouvintes, dou-me por bem ressarcido do esforço. Foram mais de quarenta anos neste trabalho de professor".
7. Maria em sua vida
A devoção simples e filial a Maria, na experiência de vida do Pe. Aguinelo, é um elemento valiosíssimo para a fidelidade na vocação cristã e na Vida Consagrada, fonte de alegria e de disposição para o apostolado. Por isso, tem grande significado em sua caminhada a consagração mariana realizada em 7 de outubro de 1945. Destacou também a mensagem que Lúcia recebeu em Fátima: "O meu Imaculado Coração será o caminho que te conduzirá a Deus". Esta palavra continuou ressoando na vida do Pe. Aguinelo. Verificou que isto foi acontecendo em sua vida, como ele mesmo destacou: "O carinho, o amor, a presença de Maria na vida dos cristãos e dos consagrados é um fator importante de alegria, de fidelidade e de amadurecimento. A imagem da Rainha dos Apóstolos cristaliza a missão que o carisma de Pallotti transmitiu. Maria, do Cenáculo, nos obtém o dom do Espírito que ilumina e dinamiza nossa vida. E envia-nos para o apostolado; ao mesmo tempo, nos acompanha em todas as nossas atividades apostólicas" Realmente, Maria é o melhor caminho para que o Espírito Santo entre e atue na vida de um cristão e, mais ainda, de um consagrado. E este caminho e esta presença são fontes de alegria, superação de angústias, tristezas e decepções que naturalmente acontecem na vida.
8. Como sentia e vivia o carisma de São Vicente Pallotti
Tenho a certeza de que, nos dizia o Pe. Aguinelo, São Vicente Pallotti através de sua oração, sua doação à Igreja, seu sacrifício silencioso e total, influenciou ou, em outras palavras, alcançou de Deus que o Vaticano Il legitimasse este caminho de participação dos leigos no apostolado. "Nosso Fundador, São Vicente Pallotti, eu o admirava mais pelo seu carisma e fundação. Mas, ultimamente, sinto que, além de Fundador, é também meu Pai e amigo, no qual posso confiar e posso também pedir sua poderosa intercessão, em minhas dificuldades e problemas da caminhada", escreveu o Pe. Aguinelo nos últimos dias.
9. O mais importante na vida de um Consagrado
Manter a bússola da vida sempre direcionada para o nosso norte magnético: DEUS. Louvem comigo o Senhor que sempre esteve presente nesses anos. Confiemos sempre mais n'Ele que nos "escolheu, nos elegeu, nos quis" e nos consagrou!
10. Sobre a morte
Em 2013, quando o Pe. Aguinelo Burin completava 80 no dia 29 de abril, durante a homilia, na capela do Colégio Máximo, entre outros assuntos também falou da morte: “Eu penso nela, não por medo ou por vontade de sair desta vida. Mas porque ela nos pro proporciona, não sem sofrimento, atravessar a porta que nos introduz na Vida Eterna. E esta é a grande meta para a qual fomos criados: para viver eternamente na comunhão com o mistério da vida Trinitária. E isto não é uma vaga esperança, mas uma certeza baseada na Palavra de Deus, encarnada em Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para nos alcançar esta meta. Ultimamente, quase todos os dias, ao acordar, lembro a presença da Trindade em mim. Pois Jesus disse: "Viremos a ele e faremos nele a nossa morada. A fé nos ajuda a caminhar para o término de nossa vida, com paz, confiança e serenidade, porque lá nos espera algo muito bom!". E foi assim que o Pe. Aguinelo morreu: na paz e na serenidade.
11. Falecimento e sepultamento
O Pe. Aguinelo faleceu, no dia 21 de fevereiro de 2015, sábado à tarde, aos 81 anos e alguns meses, vítima de um infarto, na Comunidade Local Pe. Caetano Pagliuca, Patronato, Santa Maria (RS). Às 20h30min, na Capela da Comunidade, foi celebrada a Eucaristia presidida pelo Pe. Clesio Facco, Vice-provincial que destacou que o Pe. Aguinelo foi um homem, um cristão e sacerdote que viveu sob a Luz da Palavra de Deus e por isso viveu com sabedoria, simplicidade e santidade. No dia 22 de fevereiro de 2015, domingo, às 11h, outra Eucaristia foi celebrada pelo Pe. Vanderlei Cargnin, membro do Conselho Provincial. Na homilia o Pe. Vanderlei pediu às pessoas presentes o que eles destacariam do Pe. Aguinelo. Quase que foi unânime: sua santidade, ou seja, seu modo de ser e o amor pela Palavra de Deus. Alguém completou: "Ele me ensinou a conhecer e amar a Palavra de Deus".
Às 14h o corpo do Pe. Aguinelo foi conduzido à Igreja Nossa Senhora das Dores, onde ele trabalhou por 9 anos, para a Eucaristia de despedida. Às 15h começou a celebração presidida pelo Pe. Edgar Xavier Erti, Reitor Provincial, concelebrada por muitos sacerdotes e diáconos. O templo estava pleníssimo de pessoas: todos os seminaristas do Colégio Máximo Palotino e os diocesanos, religiosas de várias Congregações de Santa Maria, pessoas das Comunidades das Dores e outras pessoas ligadas à vida e ao apostolado deste sacerdote. Uma rica celebração, com cânticos e acima de tudo com agradecimento pelo que significou o Pe. Aguinelo na vida da Igreja, da SAC e da Província.
Na homilia, o Pe. Edgar, a partir da Primeira Leitura (At 10, 34.37-44), destacou o que o Apóstolo São Pedro anuncia aos judeus: "Jesus de Nazaré passou pelo mundo fazendo o bem, porque Deus estava com Ele". O Padre Aguinelo Burin SAC passou fazendo o bem porque Deus estava com ele. No Salmo 100 encontramos ainda uma razão desta afirmação de Pedro: "Aquele que vive fazendo o bem será meu ministro, será meu amigo" (v. 6). O sacerdote, o ministro Pe. Aguinelo passou fazendo o bem pela Sociedade do Apostolado Católico, pela Província Nossa Senhora Conquistadora, pelo Colégio Máximo Palotino, pela Faculdade Palotina, pela Revista Rainha dos Apóstolos, com artigos e comentários do "Evangelho em sua vida", foi um dos grandes colaboradores das Informações Palotinas, do Informativo Palotino, colaborou em centenas de traduções, escreveu tantos artigos e livros.
Passou fazendo o bem pela Arquidiocese de Santa Maria e outras no Brasil. Passou fazendo o bem pelo Instituto Diocesano de Pastoral Catequético, pelas paróquias desta Arquidiocese, pelos Movimentos e Pastorais, nos confessionários e púlpitos. Orientou tantos retiros para comunidades religiosas, seminaristas e leigos. Passou pelos hospitais, visitou centenas de casas, especialmente dando assistência espiritual aos doentes. Passou pelas comunidades presidindo Eucaristias - um apaixonado pela Eucaristia, um homem eucarístico, um homem de muita oração. Passou fazendo o bem nos Cursos Bíblicos e palestras sobre diversos temas. Isto para citar alguns lugares por onde ele passou fazendo o bem, sempre sob a guia da Palavra de Deus.
Foi um sacerdote que viveu profundamente a Palavra do Evangelho. O Evangelho foi sua bússola orientadora, para o qual viveu como seu servidor. A vida de Cristo foi sua vida, o apostolado de Cristo foi o seu apostolado, a entrega de Jesus foi a sua entrega. Viveu com alegria sua consagração e deu a todos um testemunho autêntico do seguimento de Jesus Cristo Além disso, esteve sempre envolvido com o tema da missões palotinas em Moçambique.
Nesta celebração queremos louvar e bendizer a Deus pelo seu testemunho de vida e de vida sacerdotal. Um homem de Deus. Muitas pessoas, ontem e hoje, assim que souberam de sua morte me disseram: pessoas um santo. Ele foi um santo sacerdote"! O mesmo que foi dito no dia da morte de São Vicente Pallotti, em 22 de janeiro de 1850. Estou plenamente de acordo. Sua santidade vem pelo modo como viveu seu sacerdócio. Diz o Vaticano II, no Decreto Presbyterorum ordinis: "É o exercício leal, incansável de suas funções no Espírito de Cristo que, para os presbíteros, é o meio autêntico de atingir a santidade" (n. 13).
Um homem de fácil convivência, de diálogo, de profundo conhecimento de muitos assuntos, sempre atualizado com livros e novas publicações, gostava e apreciava a poesia e as músicas clássicas. Tinha prazer de comentar suas últimas leituras. Deus seja louvado pela vida deste abnegado e servidor sacerdote do Evangelho. No céu temos um intercessor. Quem nos garante isso é Jesus Cristo no Evangelho que hoje ouvimos: "Existem muita moradas na Casa do Pai" (Jo 14,2). Que o Senhor envie às nossas casas de formação jovens com o espirito e a disponibilidade do Pe. Aguinelo. Ele é agora um referencial, um modelo a ser seguido, com certeza, assim finalizou o Pe. Edgar.
Após a celebração Eucarística, seu corpo foi levado ao Cemitério Palotino, em Vale Vêneto. Lá seu corpo estava sendo esperado por dezenas de pessoas, inclusive seus coirmãos sacerdotes da Quarta Colônia. O Pe. Ronaldo Kuhnen, Reitor da Comunidade Pe. Caetano Pagliuca fez as últimas orações e a bênção da sepultara, onde o Pe. Aguinelo foi sepultado.
Pe. Clesio Facco, SAC