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Frater José Sponchiado (1977-2006)
No dia 07 de novembro, recebi a triste notícia: o José morreu! Todos os que desfrutavam da sua amizade ficaram atônitos, questionando se isso seria possível! Não só era possível como a causa da morte fora um grave acidente automobilístico, que também ceifou outras vidas. Que choque para a Família Palotina e para os pais, seu Neri e dona Cecília! Que prova para a nossa missão em Moçambique!
Palavras de conforto? Lembranças de bons momentos partilhados, confiança de que a morte não é o fim, como não o foi para o José. Todos saem do coração do Altíssimo, passando por este mundo, até o dia em que novamente se volta para a morada definitiva. Ressuscitaremos porque Jesus ressuscitou! Ele é a própria ressurreição: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" (Jo 11,25).
Agora José vive na pátria celeste e, em Deus, podemos continuar a nos amar reciprocamente, como o Evangelho ensina. José havia se colocado à disposição de fazer o seu estágio pastoral em Moçambique, para no ano seguinte realizar a sua consagração perpétua na comunidade palotina, mas com apenas 29 anos de idade passou para o estágio de plena comunhão com Deus.
Com a morte do José em terras distantes, compreendemos que, para seguir Jesus, temos de estar sempre disponíveis diante do Deus das surpresas, cujos caminhos e pensamentos não são os nossos. Descanse em paz!
1. Família e formação
José Sponchiado nasceu no dia 18 de junho de 1977, em Palotina (PR), na comunidade de Nova Aratiba. É o primogênito entre seus três irmãos: Jonas, Joel e Carina. Seus pais são Neri Sponchiado e Cecília Salvi Sponchiado, que residem no município de Altônia (PR). Ele foi batizado pelo Padre Erno Schlindwein, Palotino.
O ambiente Palotino sempre fez parte de sua vida. Em março de 2005, foi- lhe perguntado por que havia escolhido a Comunidade dos Padres e Irmãos Palotinos. E ele respondeu: "Porque nasci e cresci em uma paróquia palotina, em uma cidade fundada pelos Padres e Irmãos Palotinos. Também fui convidado e estimulado a ingressar na comunidade pelo promotor vocacional, Pe. Marcos".
Entrou na comunidade palotina, no seminário São Vicente Pallotti, em Palotina (PR), em 1995, onde cursou o Ensino Médio no colégio Santo Agostinho. No ano de 1998, foi a Vale Vêneto (RS), onde fez o propedêutico. Em 1999, foi ao Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria (RS), onde iniciou o curso de Filosofia, na UNIFRA - Centro Universitário Franciscano.
Em 2001, fez o noviciado em Cascavel (PR). No ano seguinte, voltou para Santa Maria e concluiu Filosofia. Em 2003, iniciou o curso de Teologia na FAPAS - Faculdade Palotina.
No dia 25 de março de 2003, fez sua primeira consagração a Deus na Sociedade do Apostolado Católico. Segundo um de seus amigos de coração, "este foi um dia muito especial para o José". Renovou a sua Consagração em 2004 e 2005 em Santa Maria, e nesse ano em Quissico, Moçambique, onde estava fazendo seu ano de Estágio Pastoral, na Missão Nossa Senhora do Amparo.
Dia 15 de janeiro de 2006, um domingo de calor intenso em Santa Maria, às 10h, na Capela do Colégio Máximo Palotino, durante a Celebração Eucarística, juntamente com o Pe. Pedro Baldin, recém-ordenado sacerdote e com seu colega Flávio Demarchi, foi enviado à missão em Moçambique.
Quanta alegria o José externava ao partir. Seu rosto estava brilhante. Estava feliz com o Conselho Provincial e com os formadores que lhe propuseram fazer o Estágio Pastoral numa missão tão importante como a de Moçambique.
Essa felicidade permaneceu sempre com o José. Sentia-se agraciado por estar tendo a oportunidade de realizá-la. Assim escreveu ao Informativo Palotino, no dia 26 de outubro de 2006: "neste ano, tive a graça de poder estar na Missão de Quissico - Moçambique - África".
Ele sentia uma alegria e um desejo muito grande de ser padre. Assim testemunha seu colega Edil Ortíz Piuca: "Tinha um grande desejo de ser padre. No seu aniversário, quando fazia os seus 27 anos, disse que o seu maior desejo era ser padre, esse era seu grande sonho". Já estava experimentando isso, como ele mesmo relata em um e-mail ao Pe. Edgar, no dia 11 de julho de 2006: "meus ouvidos já se acostumaram a ouvir essa palavra padre, coisa que de início até assustava, mas, confesso a você, é bom ser chamado assim".
O desejo de crescimento e superação das dificuldades também eram marcas do José. Ainda no princípio do ano de Estágio Pastoral, no dia 22 de abril, ele dizia: "Pelo pouco tempo que estou aqui já pude perceber quais são as grandes dificuldades da missão, no que se refere à missão em si, à vida em comum e como mantê-la; porém, desafios temos em todos os lugares e acreditamos com a graça de Deus poder superá-los e com eles crescer".
No dia 07 novembro de 2006, terça-feira, às 11h, horário de Brasília, enquanto retornava de Maxixe para Quissico, o nosso querido José Sponchiado, carinhosamente cognominado de Jota, envolveu-se num gravíssimo acidente, chocando-se com outro veículo frontalmente e sua vida em tenra idade foi ceifada. Além dele, outras duas pessoas morreram em decorrência do acidente.
Parece difícil acreditar, mas a realidade nos afeta profundamente. O José fez uma bela experiência de estágio e já contava os dias para voltar para casa, embora estivesse gostando muito da missão. Tinha muitas expectativas para o ano que se aproximava. Assim ele escreveu no dia 05 de outubro de 2006: "Estar aqui hoje é um grande desafio, porém muito enriquecedor. Ainda faltam quase quatro meses para voltar para casa, porém, dentro do limite de um ano, já é a parte final do estágio.
Apesar da saudade que sinto da família, dos amigos e do Brasil, sinto que o tempo está passando rápido; logo estaremos de volta para um ano que muito me alegra e muito esperei e com tudo que está por vir, porém também assusta por tudo que temos a fazer e vivenciar, mas sempre contamos com o cara lá de cima, que sempre está a nos iluminar para que possamos ver melhor o caminho que escolhemos para viver e anunciar".
2. Despedida
Após a sua morte, José Sponchiado foi conduzido de Moçambique, na África, até Palotina (PR), para ser sepultado na sua terra natal, na presença de seus familiares e amigos. A previsão para a chegada do corpo era 22h30min do dia 08 de novembro. No entanto, por vários motivos (atrasos do voo, documentação, burocracia...) somente chegou às 1h30min. Foi conduzido até a casa dos pais.
No momento da chegada do corpo, parecia que ninguém acreditava. Ninguém sabia o que fazer; as pessoas custaram para ser aproximar do carro que trazia o corpo do José. Parece que não queriam acreditar que ele estivesse morto. Após a chegada, mesmo sem poder ver o corpo, pôde-se ter uma certeza que parecia não ser real: o José estava morto. Era verdade. Éra real. Muitas lágrimas correram nos rostos de todos.
Após um profundo momento de oração, pernoitamos ao lado daquele que há pouco tempo vivia sorrindo junto conosco e em breve retomaria para o Colégio Máximo Palotino. Às 6h30min, nos reunimos ao redor do "nosso missionário" para salmodiar a Deus através do oficio dos fiéis defuntos, coisa que o José tanto gostava de fazer.
Foi um momento de fortalecimento e de encorajamento para todos, especialmente para a família. Após este momento, às 8h, o corpo foi transladado para a Igreja matriz de Altônia (PR), onde muitos queriam prestar sua última homenagem ao missionário.
Às 9h, iniciamos a Celebração Eucarística, a qual foi presidida pelo Pe. Lino Baggio, vice provincial e secretário provincial para as missões, concelebrada pelo bispo diocesano, Dom Vicente Costa, e por vinte padres. Durante a missa, Pe. Pedro Baldin, que conviveu com o Jose em Moçambique e o acompanhou no seu retomo, entregou uma "capulana, espécie de tecido colorido, para a família do Sponchiado, que fora enviada por aqueles que conviveram com o José e simbolizava todo o sofrimento do povo moçambicano e, da mesma forma, demonstrava a sua solidariedade para com a família enlutada.
No fim da celebração, todos os seminaristas presentes, junto com a comunidade e junto ao corpo do José, cantaram: "Meu coração me diz: O Amor me amou, e se entregou por mim!' JESUS RESSUSCITOU! Passou a escuridão, o sol nasceu. A vida triunfou: JESUS RESSUSCITOU!
Com tais expressões, tentou-se demonstrar a gratidão por tudo aquilo que o José Sponchiado representou para a nossa Comunidade Palotina e a certeza de sua Ressurreição. Após a Celebração Eucarística, seu corpo foi transladado ao cemitério municipal.
Um dos irmãos do "nosso missionário", o Joel, em nome da família Sponchiado, dirigiu estas palavras à nossa Comunidade: "Nunca deixaremos de ser gratos por tudo aquilo que vocês representam para a nossa família". Todos retornaram para as suas casas com uma certeza: O "nosso missionário", o José Sponchiado, aquele que morreu em missão, está junto de Deus intercedendo por todos, e com uma esperança: a semente da vocação missionária do José produzirá muitos frutos, principalmente, para as missões.