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19/09/2024 - Notícias

Irmão Ademar Gonçalves da Rocha (1904-2006)

Introdução

No dia 19 de setembro, após 42 dias de internação, às 5h30min, faleceu no Hospital de Caridade, em Santa Maria (RS), o Ir. Ademar Gonçalves da Rocha, acometido por broncopneumonia aspirativa. Seu corpo foi velado na igreja matriz de Santo Antônio, em Santa Maria, e sepultado em Vale Vêneto (RS) ao entardecer do mesmo dia.

Sua morte foi sentida por toda a região, e o prefeito em exercício de Santa Maria, Werner Rempel, decretou luto oficial de três dias no município como reconhecimento à importância e ao trabalho desenvolvido pelo falecido ao longo dos seus 102 anos, completados em 20 de agosto de 2006.

Utilizando dados conservados no Arquivo da Província e do livro comemorativo dos seus 100 anos, organizado por Eloísa Klein, apresenta-se aos coirmãos, parentes e amigos uma breve descrição da sua longa e abençoada vida.

1.  Família

Irmão Ademar nasceu no dia 20 de agosto de 1904, em São Geraldo, em Pains, distrito de Santa Maria (RS). Seus pais foram Serafim Antônio da Rocha, pequeno comerciante, e Elisa Gonçalves da Rocha, dona de casa. Era o único filho homem dentre os cinco filhos do casal.

Ademar sempre admirou e elogiou seus pais e suas irmãs, e seus sobrinhos-netos, que, por sua vez, também muito o admiravam e veneravam. Desde pequeno, mostrou grande desejo de conhecer e de experimentar tudo.

De 1912 a 1918, fez seus estudos fundamentais na escola São Luiz, dirigida pelos Irmãos Maristas, e com eles também os estudos ginasiais. Ao retornar a São Geraldo, ajudou o pai em seu pequeno, mas importante negócio. Bem cedo, mostrou interesse pela fotografia e pelo cinema e, em 1916, recebeu do seu pai um projetor manual de filmes.

A capela São Geraldo era visitada pelo Pe. Caetano Pagliuca e seus auxiliares. Ademar participou ativamente nos trabalhos da sua capela. Em 1921, ajudou também o pai na construção da nova capela. Nessa capela, Ademar foi catequista, zelador do Apostolado da oração e líder da União dos Moços Católicos do Centro de Santa Maria. Ao celebrar os seus oitenta anos, o irmão Ademar dizia que, em São Geraldo, começou a germinar a semente da sua vocação palotina. Em 1925, ele começou a trabalhar como fotógrafo amador e, em 1928, apresentou, em São Geraldo, a primeira sessão de cinema animado, movido à manivela e à luz de acetileno.

Com o crescimento da vida cristã em torno da Capela São Geraldo, ampliou-se a capela. Ademar assumiu as obras da ampliação. A nova capela foi solenemente inaugurada em 1931. Nesse dia, Ademar comunicou ao povo a sua decisão de ingressar no seminário de Vale Vêneto a fim de tornar-se irmão palotino. As suas palavras de despedida, acrescentava também a promessa de não voltar mais para São Geraldo, caso não se realizasse a sua intenção, conforme descreveu: "Mesmo que eu não goste, não voltarei, pois, minha entrega a Deus está feita. Se me mandarem de volta, avisarei meus pais, mas eles não passarão a vergonha de pensar que eu não sirvo para nada. Tão logo for avisado, tomarei o trem da serra. E Nosso Senhor me indicará uma cidade onde um vigário me acolherá como sacristão".

Na viagem para Vale Veneto, dizia a si mesmo: "Eu deixei tudo por Deus, tudo, tudo na minha vida, os queridos pais, irmãs, parentes, amigos, casa e capela. Tudo aquilo que eu recebi e conquistei. Numa entrega total a Deus".

Ao chegar em Vale Vêneto, sentiu-se muito bem recebido e cativado pelo Pe. Rafael lop, então reitor do seminário, como testemunha: Pe. Rafael era calmo, prudente, piedoso, estava sempre ocupado em fazer as coisas de forma que todos se sentissem satisfeitos, com a intenção de que tudo ocorresse com serenidade e bonança.

Ademar entrou no seminário de Vale Vêneto em 1931, no ano de postulado, o ano de preparação para o noviciado. No dia 07 de março de 1932, na igreja matriz de Vale Vêneto, ele vestiu a batina palotina e iniciou o tempo de noviciado, com dois anos de duração. Estavam presentes seus pais e suas irmãs. Em 07 de março de 1934, fez a sua primeira consagração religiosa e, no dia 07 de março de 1937, a perpétua.

Ademar partiu de casa com a ideia de ser irmão palotino e manteve esta sua decisão até o fim de sua vida, vivendo e trabalhando sempre como um autêntico irmão palotino, como um fiel seguidor e imitador de São Vicente Pallotti.

Recordando do período de formação em Vale Vêneto, Irmão Ademar escreve: "No refeitório fui leitor, gostava tanto que suspirava pela hora de subir ao estrado e ler as histórias do Quinquinhas, do Eco e outras, com total atenção dos alunos ante uma leitura amena e agradável. Nas férias, era aquela festa, com a chegada dos seminaristas maiores de São Leopoldo, esperados de carroça em Restinga Seca. Aí tinha com quem conversar e muito a aprender. Destacaram-se os padres Máximo Trevisan e Artur Soldera. Cumpria-se a promessa de Jesus: Quem deixar pais e irmãs por amor a mim, receberá o cêntuplo neste mundo e a vida eterna no outro.

2.  Apostolado

Ir. Ademar sempre deu muita importância ao trabalho e ele mesmo trabalhou até que as forças lhe permitiram. Em 1948, estando no Patronato Antônio Alves Ramos, foi transferido para Faxinal do Soturno, onde trabalhou na construção, nas instalações elétricas e hidráulicas, na implantação da horta e do jardim do pré-seminário São José.

Desde a sua entrada no seminário de Vale Vêneto até a morte do Pe. Rafael Lop, em 1947, o Ir. Ademar auxiliou na redação e no despacho da revista Rainha dos Apóstolos e de outros livros devocionais, sobretudo nas fotografias, em cujo campo sabia mover-se muito bem.

Irmão Ademar trabalhou muito na educação. Ainda como noviço, foi professor no seminário de Vale Vêneto; no Patronato, de 1943 a 1947; e em Faxinal do Soturno, de 1948 a 1987. Ele sempre gostou de ensinar, e ° seu ensino tinha em vista, como queria Vicente Pallotti, não só a formação civil, mas também a formação religiosa cristã dos alunos.

Ao referir-se à sua primeira experiência de professor, em Vale Vêneto, descreve: "Gostava tanto das aulas a ponto de não gostar dos dias livres. Dava tudo de mim em preparar essas aulas; que o digam os alunos hoje sacerdotes".

Recordando o período chegou no Patronato Antônio Alves Ramos, isso em 1934, Ir. Ademar cita o apoio e o incentivo que recebeu do Pe. Rafael: "Se és santo, reza por mim; se és sábio, ensina-me; mas, se és prudente, guia-me. Pe. Rafael foi o homem prudente, sabia dar as ordens e sabia contornar as situações adversas. Foi um pai, um mestre, um digno superior."

Ir. Ademar trabalhou muito na alfabetização dos meninos pobres, principalmente no Bairro Medianeira, onde trabalhou com grande dedicação e alegria. Dizia ter aprendido de seu pai a amar os pobres, dos quais sempre foi amigo. Ao referir-se ao seu pai, ele dizia: "Meu pai foi humanitário, em sua honra continuo a me interessar pelos mais pobres, especialmente pelas crianças, pelos jovens, a fim de que TODOS TENHAM VIDA".

Em 1971, fundou a sociedade civil Centro Comunitário Medianeira e construiu o Centro Comunitário Medianeira, que foi inaugurado em julho de 1973, com capela, sala, quadra e horta. Em 1975, assinou convênio com a FEBEM para dar atendimento a trinta menores. Irmão Ademar ia três vezes ao dia ao Centro Medianeira e ali dava aulas práticas, trabalhos manuais, recreação e catequese.

Ir. Ademar foi também um grande conselheiro. Estes não eram apenas os de um grande catequista e educador cristão, mas também os de uma pessoa que queria ajudar na produção de alimentos bons e sadios, no cuidado da saúde. A partir de 1976, na Rádio São Roque, manteve o programa "Caminhemos juntos para a casa do Pai", muito ouvido e comentado e que foi mantido até 1987.

Ao ser transferido para Santa Maria, em 1987, Irmão Ademar montou no Patronato a sua oficina, na qual cada dia passava muitas horas trabalhando. Procurou introduzir meninos pobres no artesanato e todos os anos, para o Natal, fabricava muitos brinquedos. Sentia-se emocionado e feliz como um bom vovô.

Lembra-se ainda a sua paixão, desde a juventude, pela fotografia e pelo cinema. Já antes de entrar no seminário de Vale Vêneto, em 1931, ele era um fotógrafo amador e um entusiasmado promotor de cinema em São Geraldo.

A partir de 1947, Ademar começou a percorrer várias localidades coloniais, projetando sessões de cinema mudo. Estas sessões eram muito esperadas, visitadas e apreciadas. Ele mesmo dizia que "Chegar com um filme numa comunidade, paróquia, festas ou nos colégios, significava uma alegria imensa. Ainda hoje, encontro pessoas que ficaram minhas conhecidas pelo cinema. Quando eu chegava, todas as pessoas se alegravam. Em Vale Vêneto, onde as irmãs tinham um colégio muito grande, com meninos e meninas, eu fazia as funções de cinema, sempre muito bonitas e bem concorridas... Passei cinema na Paróquia das Dores, depois fui a Silveira Martins, a Vale Vêneto, Faxinal, Nova Palma, Pinhal Grande. Eu levava os filmes mais ou menos uma vez por mês em cada comunidade... eu queria que as pessoas tivessem uma diversão bonita, alegre, decente... Eu procurei seguir essa vocação que Deus me deu durante todos os meus dias e hoje, olhando para trás, fico muito agradecido das coisas que conquistei e das pessoas que conheci.

De 1955 a 1960, o Irmão Ademar, em seu trabalho, serviu-se também de uma camioneta Chevrolet modelo 29. Ele trabalhou no cinema várias décadas e teria continuado este trabalho com entusiasmo se a popularização da televisão não tivesse fechado quase todos os cinemas no interior.

O Ir. Ademar também foi um importante motivador das vocações: demonstrará imenso amor à sua própria vocação religiosa palotina e também à vocação de seus coirmãos. Sempre se interessou pela vocação do irmão palotino e lamentava que da parte dos padres houvesse pouco interesse por ela. Ele mesmo confessou que a sua vocação nasceu num clima de oração e continuou viva graças à sua oração e à oração de muitos irmãos e irmãs na fé. Com tristeza, observava que a falta de boas vocações se devia à pouca oração em seu favor.

Por fim, rezemos pedindo a Deus que, pela intercessão de Maria Rainha dos Apóstolos e de São Vicente Pallotti, conceda ao Ir. Ademar participar plenamente da vida plena de Jesus Cristo, após ter participado da sua vida de crucificado. E que, estando ele junto de Deus, seja o grande orante em favor de muitas e boas vocações para a vida consagrada palotina!