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Padre José Daniel (1920-1978)
Após ter celebrado sua missa de ação de graças pelos 32 anos de suas primícias sacerdotais, nos corredores da Casa de Retiros foi acometido de agudo infarto do miocárdio. Chamado logo o médico, este só pôde constatar o seu passamento.
Tinha chegado dois dias antes de Porto Alegre, onde estivera visitando o seu médico particular, e se dispunha a ir até Vicentina, a fim de participar na ordenação do primeiro padre palotino do Mato Grosso.
Seu corpo foi velado na Casa de Retiros e muitíssimas foram as pessoas que vieram rezar por ele. O próprio Dom Ivo Lorscheiter esteve rezando junto ao seu cadáver. As 8h do dia 9 de dezembro houve missa de corpo presente na igreja de Vale Vêneto, tendo sido, a seguir, seus restos mortais confiados ao chão sagrado do cemitério palotino.
Pe. José Daniel nasceu no dia 02 de março de 1920. Seu berço natal foi Vale Vêneto e ele ocupava o nono lugar entre os 14 filhos do casal Pedro Daniel e Carolina Giacomini.
Desde pequeno sentiu sua vida marcada pela cruz, pois aos sete anos de idade perdeu sua mãe. Este acontecimento doloroso marcou toda a sua vida. Fez parte dos estudos primários no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Vale Vêneto, e parte no Seminário de Vale Vêneto, onde ingressou no ano de 1933. Terminados nesse seminário os estudos ginasiais, fez sua iniciação à vida religiosa palotina (noviciado) em São João do Polêsine, onde fez também seus estudos de Filosofia. Completou sua formação teológica no Seminário Central de São Leopoldo. No dia 24 de novembro de 1946 recebeu a ordenação sacerdotal na Igreja Matriz de Arroio Grande e celebrou sua primeira missa solene em Vale Vêneto no dia 08 de dezembro de 1946.
Se sua caminhada de padre não foi das mais longas, foi sem dúvida alguma das mais intensas. Seu primeiro campo de trabalho foram as paróquias. Trabalhou como coadjutor nas paróquias de Vale Vêneto, Pejuçara, Cruz Alta e, em 1951, associou-se ao grupo missionário da época. Durante quatro anos percorreu incansavelmente muitas paróquias do sul do país, até que um dia, cedendo aos seus ímpetos de desbravador, embrenhou-se pelas selvas e campos do sul do Mato Grosso.
Em 1954 encontramo-lo como vigário de Amambai. Depois de dois meses de trabalho naquela localidade, dirigiu-se à Colônia Federal de Dourados, ainda em período de implantação e para a qual acorriam centenas e centenas de famílias vindas do nordeste e do centro do país. Trabalhou por um ano na Paróquia de São Pedro e em 1955 fundou a Paróquia de Glória de Dourados. Logo depois, Pe. José Daniel fixou-se em Vicentina. Era seu firme propósito e seu sonho mais caro tornar Vicentina o centro religioso e cultural da missão. Queria que fosse um centro de irradiação de vida mariana e palotina. Percorreu, enfrentando toda sorte de obstáculos, a sua vasta paróquia em todas as direções, semeando-a de capelas e centros de encontro religioso e catequético. Desde o início deu especial atenção ao ensino, considerado por ele a pupila dos seus olhos. Empenhou-se na implantação do ensino em todos os graus e era seu grande sonho levar a Vicentina também o ensino superior. Fundou e dirigiu até o fim o Ginásio Comercial Vicente Pallotti. Juntamente com a construção de um moderno prédio de alvenaria para o colégio, empenhou-se sem medidas na construção de uma grandiosa Igreja Matriz, sem dúvida a maior de nossas igrejas mato-grossenses.
Não pôde, por motivos de doença, levar a cabo a construção. Estava para ser inaugurada no dia 17 de dezembro deste ano com a ordenação sacerdotal do diácono Augusto Martins de Barros, a primeira vocação palotina matogrossense que alcança o sacerdócio.
Não é fácil conhecer e dizer o que é uma pessoa, sobretudo uma pessoa como o Pe. José Daniel. Sua vida toda foi uma incansável doação ao crescimento econômico, social, cultural, religioso e político de Vicentina. Por causa do seu temperamento fogoso e dos seus impulsos leoninos realizou uma notável obra, mas teve que suportar momentos amargos. Foi muitas vezes alvo de dolorosa contradição. Era leão e também, muitas vezes, manso cordeiro. Procurou viver de uma maneira palotina e mariana o seu sacerdócio. Tinha o dom da organização e exigia ordem em tudo e de todos. Ninguém mais do que ele sofreu por não ser melhor. Mas Deus olha para o fundo do coração e para a sinceridade da vontade e da intenção. Foi um incansável lutador e toda sua luta era fruto do seu grande amor a Deus e aos homens. Manteve sempre uma profunda e terna devoção à Maria Santíssima, sobretudo à Rainha dos Apóstolos.
Por motivos de esgotamento nervoso foi obrigado a deixar a Paróquia de Vicentina e a direção do colégio. Submeteu-se a um complicado tratamento médico, que seguiu à risca. Passou este ano em Palotina e, à medida que o tempo ia passando, podia-se constatar nele um crescente amadurecimento. O recolhimento da dor fê-lo amadurecer para Deus e para o próximo. Uma notável serenidade interior e exterior enflorou-lhe a última etapa de sua existência. Quis Deus que sua caminhada terminasse exatamente no dia do aniversário das suas primícias sacerdotais.
Por Pe. João B. Quaini, SAC