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Notícias

27/04/2025 - In Memoriam

Padre Marcos João Miszewski (1942-2023)

No dia 27 de abril de 2023, às 23:18h, aos 80 anos, faleceu o Pe. Marcos João Miszewski. A sua morte ocorreu no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, de Santa Maria/RS, onde estava internado há alguns dias.

 Vida

Marcos João Miszewski nasceu em Santa Tereza/RS, na altura distrito do município de Bento Gonçalves, no dia 18 de junho de 1942. Seus pais se chamavam José Miszewski e Rosalina Osowski. Seus antepassados vieram da Polônia, mais ou menos em 1870. A Polônia vivia uma situação muito difícil na época. No mapa ela não existia como país, visto que seu território estava dividido entre Rússia, Alemanha e Prússia.

Os Miszewski vieram da região da Prússia quase na mesma época que os imigrantes italianos e estabeleceram-se na margem esquerda do Rio das Antas, na colônia Santa Tereza. Além da pressão por aprenderem uma língua estrangeira, a pressão para que se convertessem ao protestantismo também era grande. Mas, como ele escreve, “todo polonês é pio ou ímpio”, muitos não admitiam a mudança religiosa e então resolveram, também a sua família, a migrarem para um outro país.

 A família do Pe. Marcos João, mais tarde, se mudou para a região de São Miguel d’Oeste/SC e, depois, Francisco Beltrão/PR. Assim como todas as famílias de imigrantes poloneses, a sua família era profundamente religiosa e irrepreensível nos costumes, segundo ele. Celebração dominical, catequese, terço diário, catecismo em polonês no método perguntas e respostas etc. são algumas das características recordadas pelo nosso confrade quando celebrou seu Jubileu de Prata (cf. Informações Palotinas, 1997, p. 70). Por ocasião do seu Jubileu de Ouro, ele afirmou: “Tive uma família e pais santos” (Informações Palotinas, 2022, p. 205).

Formação

O início do percurso vocacional do menino Marcos João nasceu do convite do Pe. José Daniel quando este fazia o trabalho de missões populares no interior do município de São Miguel d’Oeste. A localidade estava à beira do Arroio Veado e Rio das Antas. O pai do Padre Marcos tinha sido seminarista e, por isso, era o ‘capelão’ na comunidade.

Durante as missões, o Pe. José Daniel interpelou diretamente o menino Marcos João se não queria ser padre. Incentivado por sua irmã, ele respondeu “Se Deus quiser”. E, de fato, Ele quis e “foi bom”, escreveu o Pe. Marcos por ocasião do seu Jubileu de Prata (1997, p. 64).

Na mesma ocasião, ele discorreu um pouco sobre este episódio que marcou o início da sua caminhada vocacional: “A minha resposta encheu de alegria e entusiasmo o Missionário, meu pai, minha mana e os que se encontravam na sacristia. E imediatamente puseram-se a planejar como poderia eu ser encaminhado para o Seminário. Não recordo das tratativas entre o Pe. José, meu pai e minha mãe. Lembro apenas que ficou acertado de que, no início do ano seguinte, eu iria para o Seminário” (1997, p. 64). Marcos entrou, então, no ano seguinte no Seminário de Faxinal do Soturno/RS (1954) e foi acolhido pelo reitor, Pe. Fioravante Trevisan, e pelo Ir. Odone Milanesi.

Mas como em Santa Catarina a situação cultural e religiosa era muito difícil – “naquele sertão não havia escola” (1997, p. 64) – o menino Marco entrou sem ter feito a primeira Eucaristia. Também não tinha feito os anos iniciais numa escola oficial (os seus professores foram seu pai e sua tia) porque tudo era distante. “Como foi possível eu ter sido levado ou tirado daqueles cafundós, onde, se o diabo não perdera as botas, ao menos alguma sola deve ter perdido, sem a Primeira Eucaristia e sem o Primário, para chegar ao Seminário e ao Sacerdócio?” (1997, p. 65), se perguntava mais tarde. Assim, quando ingressou no seminário, teve que fazer um exame e foi então colocado para cursar o quarto ano primário. Já a primeira Eucaristia, depois dos catequistas que tivera em casa (pai, mãe e irmã mais velha), recebeu uma preparação no próprio Seminário e a recebeu solenemente na Matriz de Faxinal, num Sábado Santo, das mãos do Pe. Antônio Marin.

Assim, o seu percurso cultural e intelectual, em preparação para a ordenação, foi feito basicamente todo ele nos seminários da Província. Cursou o antigo primário nos seminários de Faxinal do Soturno e Vale Vêneto entre os anos 1954 e 1960. O assim chamado segundo grau foi feitos, inicialmente, em São João do Polêsine e, depois, em Santa Maria, entre os anos 1961 e 1963, quando os seminaristas estudaram com os Irmãos Maristas.

O noviciado, Marcos João fez em Augusto Pestana no ano de 1964. Em Santa Maria, posteriormente, cursou a filosofia (1965 a 1968) e a teologia (1968 a 1972). Nesse meio tempo tinha feito a primeira profissão no dia 02 de fevereiro de 1966, com 24 anos de idade. A profissão perpétua ocorreu no dia 15 de março de 1969. No dia 12 de julho de 1972 foi ordenado diácono na cidade de Santa Maria por D. Érico Ferrari.

Foi então ordenado presbítero no dia 09 de dezembro de 1972, às 18h, na cidade de Marmeleiro/PR com 30 anos de idade pela imposição das mãos de D. Agostinho Sartori, bispo de Palmas/PR. O lema da sua ordenação foi o seguinte: “O Reino de Deus é como o homem que espalha a semente na terra. Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece” (Mc 4, 26-27).

Mais tarde, o Pe. Marcos prosseguiu com seus estudos na Universidade Gregoriana de Roma onde, entre 1982 e 1984, cursou teologia espiritual. Entre peregrinações e estudos, neste período, esteve em Israel, Lyon (estudando francês por meio de uma bolsa que ganhou), Paris e Lourdes. Do estudo em Roma resultou uma ‘tesina’ que mais tarde foi publicado em forma de livro intitulada Linhas mestras da espiritualidade Palotina.

No que diz respeito à sua formação intelectual e humana vale destacar que nos anos de 2001 e 2002 fez o curso no IATES (Instituto de Auto-ajuda e Terapia do Sentido do Ser) em Curitiba. Em 2003 fez um ano de formação permanente em Belo Horizonte/MG. No período em que esteve em Cascavel como diretor espiritual (2009) fez também a formação para formadores/as no Instituto Santo Tomás de Aquino de Belo Horizonte, escrevendo um trabalho de conclusão intitulado: Pastorais vocacionais e Documento de Aparecida.

Trabalhos apostólicos

O Padre Marcos João Miszewski iniciou seus trabalhos apostólicos em Palotina em 1971, quando ali fez o seu estágio pastoral antes da ordenação. Depois de ordenado, a partir de fevereiro de 1973, foi vigário paroquial em Santo Augusto. Em 1974, depois de um período como vigário em Faxinal do Soturno, começou o seu longo e frutuoso trabalho com a Animação Vocacional. Este longo trabalho foi interrompido duas vezes: a primeira, na década de 80 quando esteve estudando em Roma (1982-1983) e, depois, entre 1984 e 1988, quando foi pároco no Verê/PR e, a segunda, no início do século XXI. Neste período, ele foi, novamente, pároco na paróquia São Joaquim no Verê (2002); depois disso, foi vigário paroquial em Porto Velho/RO (2004), diretor da Escola Rainha dos Apóstolos de Vale Vêneto (2005) e vigário paroquial em Deodápolis (2006).

Depois disso, voltou novamente a se envolver com a formação sendo nomeado diretor espiritual do Postulado em Cascavel (2009) até que, em 2013, foi nomeado vigário de São João do Polêsine/RS e, entre 2014 e 2019, vigário em Itapejara d’Oeste/PR.

Depois dos períodos nas paróquias de Polêsine e Itapejara d’Oeste, o Padre Marcos João Miszewski foi transferido, em 2020, para Palotina. Devido a diversos problemas de saúde, sobretudo os pulmonares, dividiu seu tempo entre o Seminário de Palotina, seus familiares em Francisco Beltrão/PR e, finalmente, nos últimos tempos, vivendo na Comunidade Caetano Pagliuca, no Patronato em Santa Maria/RS.

Animação vocacional

Pelo breve histórico feito acima, percebemos que o Pe. Marcos dedicou grande parte do seu ministério sacerdotal para a Animação/Promoção Vocacional. De fato, essa pastoral foi a sua grande paixão.

No segundo ano do seu ministério presbiteral assumiu como formador do Seminário São José de Faxinal do Soturno e também responsável pela Animação Vocacional. Esta tarefa o envolveu parcialmente um ano, mas já a partir de 1975 ficou sendo o responsável pela questão vocacional para os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul com dedicação exclusiva. Depois da interrupção do trabalho quando esteve trabalhando no Verê, retomou a direção da Animação/Promoção Vocacional da Província respondendo pelos dois estados novamente de 1989 até 2002. Mais tarde, no triênio 2011 a 2013, o Pe. Marcos foi membro da comissão consultiva de Formação.

Podemos então dizer, com certeza, que o tema vocacional foi a paixão do Padre Marcos. Um ano antes da sua morte, escreveu: “As Pastorais Vocacionais (promoção e formação) são a minha grande alegria” (2022, p. 208). E, talvez a sua paixão se explique pelo que escreveu ao celebrar os seus 25 anos de sacerdócio: “É bom pensar que todo jovem é um possível vocacionado e que precisa de alguém que o desperte” (1997, p. 68). A sua paixão era tal que, diante de algumas opções provinciais, ele ultimamente se lamentava por acreditar que o tema não estava sendo tomado tão a sério e nem era tido na devida importância.

O Padre Marquinhos, como era carinhosamente chamado, resume o seu trabalho e a sua estratégia na animação/promoção vocacional com o seguinte pensamento escrito há mais de 25 ano: “Achegar-se ou descobrir aqueles que Deus “guarda em seu coração”: parece fruto da sorte; parece fruto da prece, porque a única orientação de Jesus a tal respeito, foi: “Rogai ao Senhor da messe”, e Ele mesmo escolheu os Doze depois que “retirou- se a uma montanha para rezar”; parece resultado da fé e da esperança, porque Jesus percorre caminhos com um coração de ‘Samaritano da Esperança’, certo e confiante de que, ao longo dos caminhos, encontraria os ‘prediletos do Pai’. Em nossa missão de Promotores Vocacionais, cada um destes aspectos ou em sua totalidade, são importantes. Se na Igreja de hoje, se em nossa Comunidade Palotina há falta de vocações, se faz necessário, para cada um de nós como “outros Cristo”, prolongar a ação de Cristo e ‘sair junto ao mar ou subir a montanha para rezar’ e, depois, lançar o convite aos jovens” (1997, p. 68).

Dado isso, como uma espécie de exame de consciência vocacional, como insistia o mesmo Pe. Marcos, temos que nos perguntar: quantos jovens, por nosso testemunho e convite, favorecemos para que entrassem no seminário e quantos perseveraram? É importante tomarmos a sério essa pergunta autoimplicativa, não só por causa da ‘crise de vocações’ que a Igreja atravessa, mas também tendo presente o Ano Vocacional que estamos vivendo a partir da radicalidade de nossa opção fundamental.

Morte

No início do mês de abril último, o Padre Marcos piorou sensivelmente e, mais uma vez, foi internado. Novamente o problema principal estava relacionado com seu pulmão que estava bastante comprometido.

Ele esteve internado diversos dias, mas a sua saúde foi piorando cada vez mais. No dia 26 de abril, à tarde, o Pe. Salvador L. Barbosa foi o último confrade que o visitou. O Padre Marcos estava calmo, pediu notícias dos coirmãos de comunidade e dos familiares e, em tom de despedida, agradeceu muito o que a comunidade tinha feito por ele. Naquela mesma madrugada ele foi para a UTI e, no mesmo dia, 27 de abril, faleceu. A causa da morte segundo o atestado de óbito foi septicemia, pneumonia e doença pulmonar.

 Agradecemos a Deus pelo presente que foi ter o Pe. Marcos João Miszewski em nossa comunidade provincial. Agora ele é mais um membro que se reúne aos demais irmãos que nos precederam na Glória. Que a preocupação do nosso coirmão para com o tema vocacional nos conscientize da importância de priorizar essa realidade na nossa ação pastoral.

Dai-lhe, Senhor, o descanso e a luz eterna. Descanse em paz. Assim seja!

 

Pe. Juliano Dutra, SAC